Kpivara, um africano em diáspora no Rap Nacional: Imigrante (2023) – Entrevista

Artista oriundo da ilha de São Tomé e Príncipe, Kpivara está no Brasil produzindo rap e morando em Fortaleza, conheça:

Kpivara

O Kpivara é um artista vindo do continente africano para o Brasil, inicialmente para estudar mas trazendo na sua bagagem o amor, envolvimento e formação da cultura hip-hop como lastro. Muitos trabalhos são lançados diuturnamente no rap nacional e mapear isso é um trabalho que demandaria uma equipe grande de pessoas voltadas para essa função. Entrar em contato com o trabalho de estreia em disco – Imigrante – tem sido uma experiência formadora fundamental. 

Um disco composto por 8 faixas ricas musicalmente e que apresentam uma lírica de um Imigrante africano em Brasil, mastigando e cuspindo linhas de suas vivências, nos leva a pensar de outro modo. Aqui nós temos um artista que apresenta total e completo domínio das linguagens rítmicas em que se aventura, com um disco que nos ensina muito enquanto um olhar de fora dentro de nossa sociedade racista! 

O MC Kpivara apresenta um bom trabalho de estreia solo, um álbum que passei pelo Drill, pelo trap, pela kizomba, pelo afrobeat, pelo boombap e muito mais, para entendermos um pouco mais sobre o artista, o entrevistamos. O resultado você confere abaixo:  

Oganpazan – Quando você começou a fazer rap? Como é a cultura hip-hop em São Tomé e Príncipe?

Kpivara – Eu comecei a fazer rap em 2008/9 quando comecei a participar das batalhas de rimas e a Cultura de hip-hop em São Tomé e Príncipe é bastante forte e difundida. Desde os B-boys aos grafiteiros, sem contar que eu há fui um dançarino também.

Oganpazan – Meu mano, há quanto tempo você está morando no Brasil e em Fortaleza e qual foi o motivo que te trouxe para o nordeste? 

Kpivara – Eu estou morando no Brasil há 10 anos, completando agora em maio. Eu vim pra fazer uma formação acadêmica, pois eu sou formado em engenharia de energias ou seja, eu sou engenheiro de energias de formação e daí eu acabei ficando por aqui. A minha formação foi feita toda ela na UNILAB (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira) e por ser no interior de Fortaleza, em Redenção, eu só me mudei pra capital no ano passado. 

Kpivara no A.Se.Front (África Sem Fronteiras)

Oganpazan – Quais suas principais inspirações no rap?

Kpivara – Tenho algumas do rap-luso e também fora dele como por exemplo o rapper NGA, Drunk Master, Allen Halloween, Boss AC, Racionais MC’s, Mv Bill, Dexter e o Guto. Fora do rap-luso, as minhas inspirações têm sido Tion Wayne, Tupac, Lil Wayne, Russ Million, Kendrick Lamar, Central Cee e o Jay-Z.

Oganpazan – Como é a sua inserção no cenário do Rap em Fortaleza? 

Kpivara – Eu como já tinha um grupo de rap que eu fundei na Universidade, já tinha um nome na cena do rap cá em Fortaleza, mas depois que o grupo acabou e eu não tinha lançado nada, eu fiquei muito ofuscado no cenário. Atualmente eu tenho voltado a ganhar o meu espaço novamente fazendo colaborações com os artistas locais, mas ainda não fiz nenhum show mais por conta da visibilidade que eu ainda não ganhei. E por ser um artista independente, é bem mais difícil conseguir as coisas quando sou eu por eu mesmo.

Oganpazan – Você começou a publicar músicas no Spotify em 2019, você tem trabalhos lançados antes disso? 

Kpivara – Então, eu tenho músicas no álbum do A.Se.Front (África Sem Fronteiras) no spotify, youtube e soundclound desde 2015. Algumas músicas que eu postei nas plataformas só em 2019, elas na verdade foram feitas bem antes disso, mas eu só conseguir lançar para as plataformas nesse ano de 2019.

Oganpazan – Quais as principais dificuldades que você encontra para produzir sua arte e na divulgação dos seus trabalhos? 

Kpivara – As minhas maiores dificuldades têm sido com o financiamento na produção e divulgação dos meus trabalhos. Eu mesmo faço a produção, mixagem e masterização dos meus trabalhos, além das questões artísticas. E fazer esse trabalho chegar nas rádios, ter atenção das páginas de rap tem sido meu maior obstáculo. Porque as páginas não têm dado importância para os artistas independentes 

Oganpazan – Como estão aí em Fortaleza os espaços para artistas do Rap, em termos de shows? O público tem fortalecido a cena underground? 

Kpivara –  O que mais tem acontecido por aqui em Fortaleza são shows de rap para os artistas da cena underground, mas eu estou fazendo contato agora para poder participar desses shows. E o público tem consumido muito, além de sempre apoiarem a cena e consumindo os trabalhos dos artistas. 

Oganpazan – Quais foram as principais motivações que você utilizou para produzir a sua mixtape de estreia Imigrante? 

Kpivara – Eu estava e ainda estou trabalhando no meu EP Coisa de Preto e durante a produção desse EP estourou a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. As atenções das mídias voltaram pra isso e eu comecei a notar que os imigrantes / refugiados ucranianos Brancos, estavam recebendo um tratamento diferente. Estavam sendo humanizados e em contrapartida, estava ocorrendo guerras nos países africanos e muitos por conta da ação direta ou indireta dos países imperialistas. Mas a mídia não dava atenção pra isso e muito menos mostrava a situação dos imigrantes/refugiados africanos. De como eles estavam sendo oprimidos. Eu quis mostrar outro lado de ser um imigrante negro e mostrar como a sociedade Brasileira lida com isso.

Oganpazan – O disco passeia por diversas sonoridades passeando pelo afrobeat, boombap, pelo trap e pelo drill por exemplo. Porque essa escolha estética?

Kpivara – São todas as sonoridades que fazem e sempre fizeram parte da minha vida. Além desses estilos, eu também fiz um passeio pela kizomba que é um estilo que gosto muito e nunca tinha tentado algo nesse gênero. Eu quis trazer essas sonoridades que eu consumo muito e fazer um trabalho diferente do que tem-se feito em Fortaleza e principalmente no Brasil.

Oganpazan – Como um artista negro do continente, como você vê o mercado do Rap no Brasil? 

Kpivara – O mercado do rap brasileiro é muito diverso e rico em sonoridades. Mas eu sinto que ele às vezes mata o sonho de muitos artistas por não dar oportunidades que eles precisam. Só olhar pra os grandes veículos de rap ou os shows, São sempre os mesmos nomes e os artistas que estão trabalhando pra terem uma oportunidade acabam muitas das vezes desistindo do seu sonho por achar isso inalcançável.

-Kpivara, um africano em diáspora no Rap Nacional: Imigrante (2023) – Entrevista

Por Danilo Cruz 

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