King Gizzard & The Lizard Wizard, australianos insaciáveis na sua sanha por mostrar ao mundo sua constante transformação sonora.
Não estou dando conta de apertar o botão de stop no meu player quando boto pra rolar Flight b741 da King Gizzard & Lizard Wizard. A banda segue sua produção alucinante de álbuns, que seguem sendo lançado em espaços relativamente curtos de tempo entre um e outro. Levando-se em consideração, claro, o tempo médio que uma banda leva pra lançar um novo álbum.
Em 2023 a banda lançou dois excelentes álbuns, o apocalíptico PetroDragonic Apocalypse; or, Dawn of Eternal Night: An Annihilation of Planet Earth and the Beginning of Merciless Damnation, que aliás, resenhamos aqui no Oganpazan. Este um álbum que foge completamente das referências sonoras presentes nos outros álbuns da banda.
Os cara mergulharam fundo no universo do metal extremo e entregaram um trabalho intenso, pesado, carregado de elementos de diferentes vertentes do som extremo, como o death e o trash metal. No segundo semestre de 2023 vieram com o viajandão The Silver Cord. Aqui se voltam à música eletrônica, concentrando-se mais nas ambiências e no pulso constante das batidas eletrônicas. As músicas, em sua totalidade são compostas por camadas sonoras de sintetizadores. O resultado deste experimento são faixas cuja gama variada de texturas nos hipnotizam.
A pouco mais de uma década a banda segue essa dinâmica de lançamentos. Impressiona, não a quantidade de álbuns lançadas, porque isso não é difícil de se fazer. O ponto está na qualidade dos álbuns e na variedade de estilos e sonoridades exploradas em cada um deles. A banda não apresenta apenas novos álbuns, com novas faixas. Oferece sempre algo novo em termos formais também. Estão sempre percorrendo por diferentes universos sonoros, ressignificando estilos.
A cada lançamento, ficamos ansiosos por dar o play, porque nunca sabemos o que vamos encontrar. E todas as vezes somos pegos de surpresas e levados a exclamar sentenças estupefatas como “Que porra é essa!”. Você pode não gostar do que ouviu, porém não vai deixar de se surpreender. Ouvir um álbum da King Gizzard & The Lizard Wizard nunca é uma experiência monótona!
Se você é desses caras que se sentem traídos ou decepcionados quando a banda que você gosta muda completamente o foco da suas composições, gerando sonoridades completamente distintas das que antecedem o último lançamento, a King Gizzard … não é pra você.
E foi exatamente isso que rolou comigo quando mete o dedão no play do app de música! Os caras vem de extremos: um álbum de metal extremo, seguido de um álbum experimental focado na música eletrônica e agora metem um álbum que olha pro anos 70, em especial para as bandas de hardrock. E não só, blues rock não falta, com muitas frases de gaitas, dando aquele molho gostoso próprio deste subgênero, além de alguns momentos conseguirmos identificar aquele delicioso sotaque country.
Flight b741 se mostra uma miríade sonora formada por elementos sonoros que fizeram dos anos 70 um ano intenso musicalmente, no que diz respeito à música pop. Consegui identificar de longe aquele sozinho estridente e rasgado do Montain, o blues rock suave e “preguiçoso” do Canned Heat e o country rock suculento dos Alman Brothers.
Porém há o tempero especial do King Gizzard … : o groove. E este groove intenso e swingado tem nas linhas de baixo, em especial, sua fonte de emanação. Simplesmente uma delícia, ouvir Flight b741! Vai ficar tocando por aqui durante muito tempo ainda, estou bem longe de enjoar de ouvi-lo.
Esperamos que os caras sigam lançado excelentes álbuns, surpreendendo a nós que admiramos a capacidade da banda de se reinventar formalmente a cada álbum. Sempre se afastando de fórmulas engessadas. Conseguindo se mover na busca de novas ideias, novos caminhos, mantendo-nos sempre boquiabertos a cada novo lançamento!
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