O dia que a cantora japonesa Kimiko Kasai e o Herbie Hancock gravaram uma seleção de grooves com a nata da cena americana e nipônica.
Nos anos 70 o Herbie Hancock gravou alguns de seus melhores trabalhos no meandro do groove. Em 73 saiu o clássico “Head Hunters“, já no ano seguinte foi a vez do “Thrust” e em 1975 o meliante ainda soltou o “Man-Child“, fechando a trilogia Funkeada.
Aliás, foi bem nos anos 70 que bandas como o Beck, Bogert & Appice, por exemplo, começaram a explorar o mercado asiático. O próprio Herbie gravou um disco ao vivo na terra do OBI em 1975 (“Flood“) e desde então uma edição original de época desse disco vale uma fortuna.
Outro exemplo é ao vivo do já citado supergrupo formado pelo Jeff Beck – “Live In Japan” de 73 – que também virou um item raríssimo na coleção de qualquer fã, não só do Jeff Beck, mas do Cactus e Vanilla Fudge também.
Com a afirmação do mercado japonês como um pilar importante para a indústria fonográfica, centenas de edições acabaram ficando restritas aos colecionadores do mundo todo.
Em muitas das vezes, esse problema geográfico só poderia ser resolvido com uma viagem em pessoa, afinal de contas o país é um dos que mais atraem os amantes de vinil, principalmente desses LP’s obscuros que não saíram fora do Japão.
Hoje o pais concentra grande parte das raridades jamaicanas, gemas da cena local de City Pop, AOR e etc, além de muitos discos obscuros do Hard anos 70 e do Jazz. É um dos maiores mercados globais e nos tempos da modernidade, os japoneses continuam liderando, dessa em outro campo: o obscuro universo das reedições.
Line Up:
Kimiko Kasai (vocal)
Herbie Hancock (vocal/piano/teclados/sintetizadores)
Mari Kaneko (vocal)
Yuka Kamebuchi (vocal)
Webster Lewis (órgão/piano/teclados/sintetizadores)
Alphonse Mouzon (bateria)
Paul Jackson (baixo)
Ray Obiedo (guitarra)
Bill Summers (percussão)
Bennie Maupin (saxofone)
Track List:
“I Thought It Was You”
“Tell Me a Bedtime Story”
“Head In The Clouds”
“Maiden Voyage”
“Harvest Time”
“Sunlight”
“Butterfly”
“As”
Uma das maiores gravações da carreira de Herbie Hancock, “Butterfly” foi um trampo de sideman, neste que foi um LP de estúdio da cantora nipônica Kimiko Kasai. Projeto voltado para sua extensa e interessantíssima carreira solo, o trampo foi registrado em Tóquio, gravado e lançado em 1979.
Apesar de não ser um disco solo do Herbie, é com certeza absoluta um dos pontos altos na carreira do maestro, pensando em sua relação com as cozinhas mais swingadas.
E como se a participação da dupla já não fosse o suficiente, o registro ainda conta com uma banda de apoio formada pela nata da cena americana e japonesa.
Na bateria, um dos mestres da baqueta, Alphonse Mouzon. No baixo, nada mais nada menos que o Paul Jackson, isso fora o mago Webster Lewis – que dividiu o trabalho de teclas com o Herbie – Bennie Maupin no sax, Bill Summers na percussão, Ray Obiedo na guitarra e Mari Kaneko e Yuka Kamebuchi na voz.
Que time, né? Entendeu por que os colecionadores ficaram malucos quando as poucas cópias que saíram na época sumiram?
Disponível no pela primeira vez desde seu lançamento, “Butterfly” agora pode ser adquirido via Be With Records, selo britânico responsável pela empreitada toda. A reedição saiu em 2018 e veio com a icônica arte da capa original restaurada, tudo com OBI e uma qualidade de som monumental.
Um disco que mostra a sofisticação da música japonesa, essa gravação beira a perfeição e já serve também como uma bela porta de entrada para o cenário de City Pop e AOR do qual o Japão foi pioneiro. Os timbres, a clareza das linhas, a nitidez… A interpretação para o boogie-disco de “I Thought It Was You” (faixa do próprio Herbie) é o puro reflexo da classe num arranjo de Jazz-Funk.
É uma coleção de covers arrebatadora e um dos pontes altos na carreira de uma cantora fantástica. Vale ressaltar que além de trabalhar com o Herbie nesse disco, Kimiko também gravou verdadeiras gemas ao lado de nomes como Oliver Nelson, Cedar Walton, Gill Evans e Mal Waldron. Não é brinquedo não, papai.
O groove de “Head In The Clouds” explora toda a ampla capacidade melódica de Kimiko Kasai. É importante inclusive salientar a performance da cantora, pois ela está longe de ser coadjuvante nesse trabalho, sua voz é o que rege o tom dos temas.
A versão de Stevie Wonder em “As”, mostra um feeling exuberante por parte de sua lírica, algo que permeia toda a audição do registro.
Sabe aquele disco que você escuta e não acha nada fora do lugar? Então, é esse aqui. O melhor de tudo é que ainda tem no Spotify. A seleção do repertório foi meticulosa. Coisa fina.
