Uma das mais brabas do cenário nacional, Juju Rude vem soltando clipes marcantes e sempre com muito hip-hop correndo em suas veias!
Não se trata de mera injustiça como se fosse apenas fruto de vontades individuais, a estrutura da sociedade nos impõe a todos uma desigualdade que lhe é intrínseca, que é parte mesma de suas condições estruturantes. Em nosso país, o racismo, o machismo e a luta de classes, são o tripé estruturante do nosso socius, tendo derivado daí também a LGBTQI+fobia para fechar o quadrado da crueldade.
Dentro do hip-hop nacional, homens e mesmo mulheres, consomem demasiadamente produções feitas por homens, e a própria estrutura do game reproduz isso de um modo que muitas vezes não percebemos grandes artista. Às vezes, elas estão ao lado de um fenômeno do momento, mas curiosamente não são percebidas e nem valorizadas pelo público.
Juju Rude tem uma caminhada muito importante no novo cenário do rap feito no Rio de Janeiro, mas infelizmente é pouco vista. Suas produções sempre prezam por manter uma estética favelada, e sobretudo muito real, ela não faz o tipo, éla é. Sua voz e suas linhas são fortes e marcantes, sobretudo por em sua arte ela deixar muito claro uma visão política que é hoje fundamental para entendermos a favela. Apesar de estar ao lado de outros MC’s que ganharam bastante destaque por fazer o que se convencionou chamar Trap de Cria, e sem dever em nada aos mesmos,em termos de qualidade, Juju Rude não alcança os mesmos números.
Lá no RJ, como aqui em Salvador, e como diria o mestre GOG: “Periferia é Periferia, em qualquer lugar”, a política da branquitude é produzir uma guerra entre nós mesmos. Essa perspectiva pode nos servir para entendermos tudo, até mesmo o fato de que o rap mais real segue sendo invisibilizado pelo capital, pela indústria cultural, pels desvalorização das mídias independentes, por uma segregação que vitimiza gênero e sexualidade.
A falta de união dentro da cultura hip-hop é uma efeito produzido de fora. Juju Rude, em suas músicas sempre passa uma visão de união, de empoderamento das mulheres, e de consciência em torno daquilo que significa ser favelado. A desunião e os conflitos que incidem em geral em torno de nós enquanto moradores de quebradas, e consequentemente dentro de uma cultura que nasceu para acabar com a guerra entre nós, vem das desigualdades produzidas de fora, seja pelos estruturantes acima citados. Homens brancos e héteros dominam a indústria cultural, representam fielmente os padrões que devem ser consumidos.
Em tempos de vida e caminhada virtual, ouvir uma artistas como Juju Rude é colcocar os pontos nos is, e em sua participação do projeto Radar DX, ela dá a letra: “Pouco do que vivo é postado”. O recorte que se tem de artistas a partir daquilo que está apresentado nas redes sociais, é muito pouco para se formar uma ideia da vida real dos mesmos. Nesse sentido, “Amada (prod. Doidão)” é uma faixa excelente para se compreender quais são as ambições da MC e sobretudo a força de suas rimas, sua visão de mundo.
Em meio a um monte de trap de cria, meio confusos, meio fakes, Juju Rude se levanta com as direções corretas, com a cartografia subjetiva do que deveria ser o real Trap de Cria. Ser “Inimiga do Estado”, uma de suas mais fortes faixas, não é fácil.
O primeiro passo, é retirar o estado como modelo do pensar e consequentemente da arte que se faz, e nesse quesito Juju Rude é só aulas. Ao contrário de muitos, suas música não faz apologia vazia de armas e de ser algo que o estado pré determinou. Em suas linhas ela entende a vida bandida, mas entende também que isso foi produzido de fora, (a guerra às drogas faz parte do Racismo estrutural e da nossa luta de classes). E nesse sentido, não é saudável aos seus e àqueles que ela quer ajudar e pelos quais luta, que essa posição social seja reforçada sem nenhuma reflexão.
Ser a voz da criminalidade não significa fazer ou reforçar a criminalidade, cantar a favela é fácil, o problema é ver dentro do rap, estar do lado dos cria e ao mesmo tempo fazê-los entender a estratégia do estado para todos nós, de quebrada. Como cantou o grande mestre Bezerra da Silva, que viveu a vida toda cantando essa realidade: “A Favela é um problema social”, nos orgulhamos de sermos favelados, mas precisamos lutar por dignidade, justiça e liberdade.
Juju Rude segue a mesma linha, dentro da sua vivência e consequente perspectiva feminina. Se você curte rap do bom, ouça essa mana! A MC carioca promete lançamentos para logo menos, fiquem ligados e conheçam, valorizem essa artistas combativa do nosso hip-hop nacional”
-Juju Rude solta o videoclipe de Amada, conheça uma das melhores MC’s
Por Danilo Cruz