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Jose Araya “um fotógrafo punk nas lutas chilenas” – Entrevista

Jose Araya “um fotógrafo punk nas lutas chilenas” – Entrevista sobre as manifestações que recentemente ocorreram no Chile!

 

No segundo semestre de 2019 eclodiu no Chile uma das maiores revoltas populares ocorridas naquele país.

O povo, com pautas distintas e tendo em comum a insatisfação com o Governo foi às ruas lutar contra o Estado. Por outro lado, o Estado deu uma resposta repressora e violenta, criando assim o barril de pólvora perfeito para uma verdadeira guerra civil.

Em que pese ter havido avanços da população, com recuo do Governo em algumas medidas antipopulares anunciadas, o povo já estava com um acúmulo de insatisfações e não recuou.

No meio disso tudo, no olho do furação da revolta chilena, estava Jose Araya, fotógrafo que retratou grade parte dos acontecimentos.

Batemos um papo com ele sobre o que rolou no Chile nesses últimos meses.

Dudu (Oganpazan):Oi Jose! Inicialmente gostaria que falasse um pouco sobre sua trajetória na fotografia, bem como sobre as atividades que desenvolve para além da fotografia jornalística.

Jose Araya: Trabalho principalmente como diretor de fotografia no cinema, em filmes rodados no Chile, México, Espanha e Estados Unidos. Sou professor a 13 anos, trabalho para importantes empresas e marcas, mas acerca de 05 anos tenho me dedicado ao cinema documental.

Dudu (Oganpazan): E como decidiu documentar a insurgência popular nos levantes ocorridos em 2019 ai no Chile?

Jose Araya: Moro a 05 minutos do centro de Santiago (capital do Chile), acreditei desde o início que era o meu dever documentar a revolução. É um tempo de mudança, mudança de pensamentos e mudança de vida. Felizmente tenho muitos equipamentos fotográficos e cinematográficos, na minha vida pude ter acesso a diversas técnicas, que vão desde a fotografias analógicas, digital e até a filmagens digitais e analógicas.

Dudu (Oganpazan): Com relação ao seu envolvimento com movimentos (contra) culturais, como se deu?

Jose Araya:  Eu sou punk desde os meus 13 anos de idade, escutei minha primeira cassete aos 12, mas conheço os problemas sociais desde muito novo.

Tive uma banda que foi bem conhecida a nível nacional e internacional, onde praticamente todas as letras tinha um cunho e crítica social. Desse modo, isso de participar de movimentos de insurreição ou revolucionários para mim não é nada novo.

Estudei na Universidade onde estudavam ex-MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária) e ex-presos políticos da ditadura de Pinochet, então até o dia de hoje isso tem sido parte de minha vida, só senti que havia chegado o momento, aquele momento que esperei desde criança.

Dudu (Oganpazan): O Chile sempre foi um ótimo celeiro de bandas de hardcore, sempre teve uma cena forte e sincera, você sentiu a presença desses grupos nas manifestações? Digo, pode perceber a presença de grupos como punks e skinheads antifascistas no front?

Jose Araya:  Sempre uma parte importante dos grupos revolucionários das marchas são compostos por punks ou skinheads, agora isso é visto como uma parte importante, eu sei porque uma grande parte deles são meus amigos a 15 ou 20 anos, por isso é fácil para mim identificá-los. E sim, eu sei, mas também precisamos levar em conta que eles estão encapuzados e é difícil dizer que ele é punk ou skinhead, mas lá estão eles, dos grupos anarquistas ou dos mais radicais ligados ao terrorismo.

Dudu (Oganpazan): E em relação as hinchas (tipo de agrupamento de Torcedores de futebol, um tipo de Torcida Organizada), parece que havia um tipo de união entre todos eles contra a opressão do governo, independente da rivalidade entre clubes, poderia falar um pouco disso?

Jose Araya: Eles estavam unidos de uma maneira muito bonita, o que o futebol não podia unir fez a luta.

Eles entenderam que, no final das contas, somos todos iguais, vivemos nos mesmos lugares, pegamos o mesmo metrô, até compramos no mesmo mercado. A partir daí, a união entre as barras (barra bravas, um outro termo para hinchas) me pareceu um fenômeno muito agradável, algo que nunca havia sido visto, mas o lema permanece o mesmo: “Todos contra Piñera”.

Dudu (Oganpazan): Faça um balanço das manifestações, com pontos positivos e negativos.

Jose Araya: O fato de termos despertado abriu a possibilidade de mudar tudo, mas em troca de quê? Conseguiremos o que queremos? É impossível sabermos agora se conseguimos, houve muitas mortes, muitos feridos, muitas mulheres estupradas e desaparecidas, mas sim, acho que valerá a pena, tenho muitos ferimentos no corpo, mas não me importo, porque o  que estamos fazendo irá mudar tudo para nossos filhos e netos, e não temos mais medo.

Dudu (Oganpazan):  Foi perceptível uma grade presença de mulheres nas revoltas, você acha que a repressão militar foi mais incisiva em relação a elas?

Jose Araya: Houveram muitos casos de mulheres abusadas, assassinadas e desaparecidas. Acho que as mulheres sempre foram fundamentais em qualquer mudança social, só agora que são vistas e feitas para serem vistas nas ruas, elas, como nós, não mais temos medo. As mulheres resistiram tanto ou mais que nós, são essenciais, precisamos delas, agora não é um “se cuida”, é um “nos cuidamos entre todos e todas”. Acho maravilhosa a presença de mulheres chilenas, mulheres que se sentem assim, emancipadas e empoderadas. Essa é a figura da nova mulher chilena, quem diz o contrário é um troglodita.

Dudu (Oganpazan): Sempre acabamos escutando notícias sobre a situação do Chile via grande mídia, que por muitas vezes acabam não transmitindo dados reais da situação no país. Gostaria que nos falasse, na sua visão, como foi a repressão policial nas manifestações.

Jose Araya:  Desde o dia zero, há uma forte repressão por parte do Estado, tanto para se manifestar como para se expressar através da mídia tradicional. Não há lugar para a liberdade de expressão, não há espaço para a imprensa livre, estamos sendo perseguidos, muitos foram baleados, estamos na mesma coisa que Pinochet cultivou, ainda são os mesmos, os mesmos que intimidaram nossos pais e avós, agora eles nos intimidam, mas somos a geração sem medo e, se não temos medo deles, lutaremos nas ruas até vencermos.

Dudu (Oganpazan):  E qual é a trilha sonora dessa revolução chilena, em sua opinão? Tipo, qual a banda que considera que simboliza bem tudo que vem ocorrendo?

Jose Araya:  Fiskales Ad-Hok.

Dudu (Oganpazan):  Deixa uma mensagem final para nossos leitoras e nossas leitoras.

Jose Araya:  Penso que, apesar de tudo o que vivemos, dos 05 meses em que resistimos, a única coisa que nos resta é continuar resistindo, por mais trágico e doloroso que seja esse processo, todo o amor que temos um pelo outro; Os sonhos sempre valem à pena e o único caminho para a vitória é isso, só assim venceremos.

Confiram o trabalho de Jose Araya: @josemiguelaraya

-Jose Miguel Araya: “um fotógrafo nas lutas chilenas” – Entrevista

Por Dudu

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