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O infinito particular de Joe Armon-Jones

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Um dos nomes mais requisitados quando o assunto é Jazz, Joe Armon-Jones é mais um wokaholic da música. Tecladista e produtor, o britânico pode ser ouvido no grupo da saxofonista Nubya Garcia, emulando o Fusion em seu próprio projeto, o Ezra Collective, ou viajando ao lado do baixista (e também produtor) Maxwell Owin, no projeto “Idiom” – EP de 2017 que combina Jazz e música eletrônica – e agora também em carreira solo, depois que o seu primeiro disco, “Starting Today“, chegou aos becos miscigenados de Londres.

Joe Armon-Jones

Um dos nomes mais jovens da cena, Joe está longe de estar começando sua carreira, muito pelo contrário. Líder de inúmeros projetos, como vocês puderam ver no parágrafo acima, o músico está na linha de frente de um movimento que está redefinindo os padrões do Jazz para esse novo momento histórico que vivemos, a chama música contemporânea.

E depois de passar os últimos anos tocando como sideman para nomes como Pharoahe Monche e Ata Kak, por exemplo, o prolífico compositor agregou toda a sua já considerável experiência, tanto em estúdio quanto em turnê, para gravar o ousado “Starting Today”, disco liberado pela Bronswood Recordings no dia 04 de maio de 2018.

Um trabalho que sintetiza a riqueza estética, criatividade, talento e alto nível técnico dos músicos que formam essa verdadeira panela de pressão que caracteriza a cena Jazz na Inglaterra atualmente, “Starting Today” desafia o ouvinte, tamanho o seu vocabulário musical e conta com a presença de nomes como a saxofonista Nubya Garcia, o já citado Maxwell Owin, o baterista Moses Boyd (Blinker and Moses) e o guitarrista Oscar Jerome.

Arte: Divya Scialo

Track List:
“Starting Today”
“Almost Went Too Far”
“Mollison Dub”
“London’s Face”
“Ragify”
“Outro (Fornow)”

Retrato dos mais intenson e caóticos, desde a bela capa de Divya Scialo (que lembra a viagem do Zappa em “One Size Fits All” – 1975), esse disco mostra o quão plurimusical (se é que essa palavra existe), é o cérebro de Joe Armon-Jones.

Músico com um approach muito fluído e repleto de influências que vão desde a Cumbia até a música africana, o som de Joe é um blend que após algumas horas de play começa a se decifrar frente aos seus ouvidos.

 

Starting Today

Com uma veia forte para a improvisação, o disco surge como quem não quer nada, contando “só” com 6 faixas, no entanto o tempo corre por quase 50 minutos após o play.

O primeira tema do disco já chega com quase 10 minutos de duração e o ouvinte já se liga que, entre vertiginosos solos de marfim, elementos eletrônicos, o saxofone de Nubya Garcia e o vocal Free Jazz de Ashberer, a principal característica dos grupos que estão surgindo é a falta de padrão. Não existe uma “identidade nacional” e isso é bastante benéfico para a oxigenação do próprio cenário.

Na faixa seguinte o ouvinte é apresentado a “Almost Went Too Far” e dessa vez todo o caldeirão da faixa anterior pediu arrego e deu lugar a um boogie delicioso, com uma pegada de Lounge que agrega acidez na medida certa.

Escutando os caras que formam esse cenário, ignorando agora a veia criativa do Jazz, nota-se que todas as faixas tentam sair do lugar comum (e elas de fato fazem isso), mas cada música funciona como uma carta aberta, como um novo experimento e é isso que está deixando os fãs malucos, a imprevisibilidade da cena.

Tudo muda o tempo inteiro. Logo depois já aparece um Dub digno de quem aprecia a arte de nomes como Jacob Miller. Não tão denso como um paredão jamaicano de Sound System do Lee Scratch Perry, em “Mollison Dub”, Joe impressiona pelo domínio das harmonizações jamaicanas e mostra como até o Dub pode ser mais melódico e contar com timbres suaves.

Fusion cheio de referências, climas que se constroem e viram pó em segundos… Escute “London’s Face” e veja como a improvisação ainda tem espaço para explorar o novo. Aproveite também para sacar o trampo do Oscar Jerome, ele fez que faz as guitarras nessa jam.

Arranjos de grande beleza, faixas longas e um Fusion repleto de tempos quebrados e intrincados. O play flui com tanta naturalidade que chega a parecer fácil tocar nesse nível. Numa das faixas é possível até ouvir os músicos dando risada no fim de um take.

A última música (“Outro Fornow)” foi só uma vinheta para deixar uma surpresa no ar. Depois de um Fusion igual “Ragify” acho que foi a melhor escolha.

Essa cena de UK vai dominar o mundo. Escute não só o Joe, mas o maior número de grupos que você conseguir encontrar, pois tem sido um prazer ouvir essa galera do chá das 16:20 fazendo música.

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