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Jeremy Irons & The Ratgang Malibus, munoz, Shows, superloft, The Muddy Brothers

Jams num container: o primeiro Abraxas Fest no Superloft

A música sempre pareceu ter todas as repostas. Em vários momentos, nem foi ao menos necessário fazer qualquer tipo de pergunta, a solução era simples, bastava ficar em silêncio, apertar play e prestar atenção, pois o desfecho era extraído das notas.
Mas o groove possui tantos enigmas… Certas passagens ficaram sem respostas, mas como a história segue sendo tocada, é bem comum ver como algumas incógnitas reaparecem nas partituras e como lidamos com isso, afinal de contas, são novos tempos.
Semana passada mesmo, um dos maiores suspenses do planeta vitrola resolveu reaparecer. Depois de ver o Blues do The Muddy Brothers entortar até o slide mais calejado, e de ser atingido pela química bombástica dos caras da Muñoz, o Jeremy Irons & The Ratgang Malibus reacendeu o debate: o que é que tem na água da Suécia?
Arte: Alexandre Palacio
Rapaz, você já reparou no número de bandas fantásticas que brotam na Suécia com a banalidade de um naco de grama? Asteroid, Graveyard, The Crystal Caravan, Vidunder, Witchcraft, Captain Crimson, Horizont… 
Posso continuar falando até amanhã e mesmo assim não citarei nem 20% dessa fantástica cena. Mas quem estava presente no Superloft no dia 05 de dezembro, viu que mesmo não sabendo o que rola nessa água, uma coisa ficou clara: o Jeremy Irons toma.
Só que não vamos colocar uma kombi na frente de um gado bovino. Vale ressaltar que a cena nacional vai muito bem (obrigado), e que, mesmo sem essa H2OH benta, nós seguimos tirando leite de pedra com o volume morto.
Foi ali, no seco mesmo, que o trio The Muddy Brothers mostrou como é que o som de Vila Velha fica depois que a água acaba. O caldo engrossou, o Blues ficou encorpado e ai quando os caras começaram a improvisar, até o container sentiu a embutida.
Fotos: Fernando Yokota
O set foi arrastado, repleto de feeling e enquanto João Lucas mostrava seus dotes de Soulman, os menos experientes ficavam impressionados com tanto groove, mesmo percebendo algo óbvio: o Muddy não tem baixo, e também nem precisa. 
Fotos: Fernando Yokota
A guitarra do Will Just oxigena o som de uma maneira muito abrangente. O clima é seco, pega o senhor pela jugular e vai dosando os bends graves, conforme a distribuição de Renato Just na louça de Buddy Rich.
Foi impactante, mas a união entre a crew da Abraxas e o os proggers do Banana Progressyva estava apenas começando, e quando o Muñoz subiu no palco, a intensidade do som beirou o ridículo. Precisamos conversar sobre jams num container… Quando o som saia da banda e chegava na platéia, a primeira onda batia com força, mas pelo fato da estrutura ser fechada, o som que ecoava parecia rebater e voltar como um segundo soco na boca.
Fotos: Macrocefalia Musical
Foi assim que a Muñoz mostrou a receita de seu som. A cozinha é simples (teoricamente). O groove é um Blues-Rock improvisadíssimo com insights advindos do Stoner para uma abordagem atual, consumando uma união que mostra um som que, ao juntar os irmão Samuel (bateria) e Mauro Fontoura (guitarra/gaita/voz), nos mostram uma simulação do que acontece quando um foguete tenta pegar rabeira numa locomotiva desgovernada.
A intensidade, tesão e o sentimento com que esses caras tocam é formidável. Eles sempre se doam 100% no palco e, entre passagens mais lentas, outras mais velozes e caóticas, o que fica é a criatividade com que a dupla emula tantos tempos malucos, em nome daquela boa e velha jam.
Fotos: Macrocefalia Musical
O set foi quentíssimo, fora que ver os caras andando pela platéia depois do show foi quase inacreditável, se fosse eu, teria capotado ali, na bateria mesmo. Só que independente de qualquer coisa eles tinham que fazer um esforço, afinal de contas o Jeremy Irons estava preparado para levar sua mente até o cosmos sem passagem de volta. 
Fotos: Macrocefalia Musical
Pouco profissionalismo é bobagem. Nem mesmo quando a guitarra do Karl Apelmo morreu o show parou, ele descolou uma Fender com os caras da Muddy Brothers e levou os fãs do Space ao delírio. Quantos climas! Quanta técnica, peso, feeling, psicodelia Blues e o caralho a 4!
Pense num quarteto entrosado. Parecia que você estava ouvindo o disco, tamanha a perfeição com que a banda tocava temas de seu mais recente CD, o excelente ”Spirit Knife”, lançado em 2014 pela Small Stone Records.
Fotos: Macrocefalia Musical
Foi uma aula de feeling, criatividade, improvisações chapantes e psicodelia. Mas o que mais impressiona é admirar a performance desses caras no palco. A banda elenca passagens intrincadas como se fosse a coisa mais normal do mundo…
O baixista, Viktor Kallgren, segurou a onda no groove com a calma de um monge. Na bateria, Henke Persson então nem se fala, o cara era o responsável por acompanhar toda aquela fritação e se mantinha calmo como um aposentado na fila do banco.
Fotos: Macrocefalia Musical
A técnica do quarteto é de fato grandiosa, a fidelidade impressionante, assim como os solos do inspiradíssimo Micke Petterson. Foi uma grande noite, a última celebração da Abraxas para esse grande ano de 2015, um ciclo de 365 dias que além de muito som, nos renderam grandes memórias.
A abraxas e o Banana Progressyva lhes desejam uma boa psicodelia no natal, e um Stoner no ano novo. Para mais detalhes imagéticos, visite o Flickr do Fernando. 2016, venha, pois a psicodelia quer lhe usar.

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