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James Brown na batera: Buddy Miles e o Fuzuê de Them Changes

Sempre fico pensando como seria se determinado artista não tocasse o instrumento pelo qual o mesmo ficou conhecido. Acredito piamente que se Jimi Hendrix tivesse pego outro instrumento para se expressar, os rumos do planeta cósmico seriam outros. Penso que se o Cherokee tocasse baixo seu nome de registro seria Bootsy Collins, aliás, peço que mantenham a mesma linha de raciocínio para o que surgirá nas próximas linhas.
Imaginem por um momento… Ousem delirar e imaginar James Brown tocando bateria. Pra quem não sabe, o mestre do Funk tocava bateria, é inclusive válido ressaltar que as habilidades de Brown iam além, fora dos vocais ele também manjava dos marfins quando sentava ao piano! Mas foco, lembrem-se: bateria.

Tentem imaginar como seria a carreira do americano, se ao invés dos holofotes de front man, James tivesse optado pelas baquetas ao fundo do palco. Alguma ideia de como seria? Quem já ouviu falar em Buddy Miles deve perceber as semelhanças que a encarnação de James Brown com baquetas nas mãos materializava quando jogava sua explosiva ”American Music” no ventilador!

Os céticos bem que tentam ignorar os fatos, mas as proezas de Miles foram muitas. Não foi só o épico registro com Hendrix, o negrão tocou só com os melhores, de Mike Bloomfield à John McLaughlin. É só escolher e marcar na lista, o cara sabia com quem andar depois da aula.

O carregamento era pesado camarada, se você quisesse o puro néctar do blend exclusivo de Funk-Soul-&-Rock que a persona de Miles gerava, era só chamar o cidadão e reforçar as instalações, por que com Buddy Miles in the house o resultado era de ”Them Changes” pra cima. Eis aqui apenas um dos clássicos que o mestre criou, este mítico LP lançado em 1900 e setenta era apenas um crachá para efeitos de Soul e acidez.

Line Up:
Fred Allen (vocal)
Lee Allen (saxofone)
Teddy Blandin (trompete)
Peter Carter (trompete)
Billy Cox (baixo)
Tom Hall (trompete)
Tom T. Hall (trompete)
Marlon Henderson (guitarra/vocal)
Duane Hitchings (órgão)
Robin McBride (teclado/vocal)
Bob Hogins (teclado/piano/vocal/trombone/órgão)
David Hull (baixo/vocal)
Dwayne Hutchings (órgão)
Jim McCarty (guitarra)
Charlie Karp (guitarra/violão/vocal)
Andre Lewis (piano/órgão/vocal)
Buddy Miles (bateria/baixo/guitarra/vocal/teclado)
Bob Parkins (órgão)
Robert Pittman (saxofone)
Roland Robinson (baixo)
Wally Rossunolo (guitarra)
James Tatum (saxofone)
Phil Wood (piano/vocal)
Mark Williams (vocal/saxofone)
Toby Wynn (saxofone)

Track List:
”Them Changes”
”I Still Love You, Anyway” – Charlie Park
”Heart’s Delight”
”Dreams” – Gregg Allman
”Down By The River” – Neil Young
”Memphis Train”
”Paul B. Allen, Omaha, Nebraska”
”Your Feeling Is Mine”

Buddy Miles não é um nome muito conhecido, mas de fato experiência era algo que nunca lhe faltou, isso tudo fora a técnica soberba e o Funk malandro que corria solto em seu Kit. Durante sua carreira, o músico registrou um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos com Carlos Santana, chapou a cozinha do Electric Flag e ainda deu uma aula de bateria em sua exclusiva carreira solo, enquanto deixava muito vocalista no chinelo com uma pinta de Soul Man invejável.
Não, para Buddy não bastava apenas destruir tocando bateria e sair por aí desfilando seu estilo plástico e elegante, ele ainda queria infernizar a vida dos vocalistas e mostrar que além de rápido nas baquetas, sua traqueia produzia uma voz fantástica, algo que em ”Them Changes” (tema que conta com o bass hendrixiano de Billy Cox), atinge um de seus pontos mais altos.
Aliás desde o primeiro tema, logo com a faixa título do disco, é possível perceber que o baterista exalava Funk. Escute a voz de Brown em temas mais sentimentais como ”I Still Love You, Anyway”, porém tente não prestar atenção apenas na bateria do cidadão. Sinta a riqueza de detalhes, a beleza dos arranjos… Grandes músicos sempre tiveram grandes bandas por trás e com Miles isso não era diferente.
Escute o estrago da banda e seu mestre com o cover de Gregg Allman ao som de ”Dreams”. Note que não é só de caos que um compositor vive. O cover do standard de Neil Young com ”Down By The River” é um dos melhores já registrados, e sua versão era tão aguardada que com o tempo se transformou numa das grandes assinaturas do músico.

Em sua obra cada detalhe foi planejada, a história nos mostra isso e por mais que seu som tenha sido arquitetado de maneira cerebral, o conteúdo dos LP’s faz o ouvinte fritar & fritar com cada detalhe, utilizando apenas o lado criativo e artistico do cerebelo.

Esteja ele presente em ”Memphis Train” ou no instrumental primoroso de ”Paul B. Allen, Omaha, Nebraska”.  A música desse cara era colorida, potente, pesada e desafiou diversos parâmetros para que outros pudessem quebrar barreiras, mas no final das contas, o que conta é o sentimento que cada tema eternizou.

”Your Feeling Is Mine”, por exemplo, é uma faixa que pode levar até os mais experientes aos prantos, mas eis aqui um momentos chave para se entender toda a profundidade de um cara que nem sempre teve o reconhecimento que merecia. Acredito que o senhor George Allen Miles Jr. tenha sido mais um grande monstro da música, que assim como tantos outros visionários, esta extremamente à frente de seu tempo. Ele era bom de Miles, the badest of the bad.

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