Jahggant OQuadro (2017) No segundo single de divulgação pro lançamento do segundo disco, a banda coloca na rua mais uma parte do Nêgo Roque!
Jahggant é o segundo single lançado com um belo videoclipe, pela banda baiana de rap, OQuadro, na caminhada para o lançamento no dia 09 de novembro de 2017, do seu segundo disco: Nêgo Roque (2017). Tendo já lançado o primeiro single dessa nova empreitada Muita Onda, em parceria com rapper paulista Emicida fruto do projeto Conexões Sonoras e com a participação do grande mestre das pick-ups: Dj Gug. Jahggant é a porta mais fidedigna para o que em nossa humilde opinião o próximo disco da banda vai apresentar de novo em termos de sonoridade.
O primeiro single lançado e acima referido, trazia ainda a velha formula do OQuadro produzir sua música, com uma sonoridade mais calcada no orgânico, enquanto que Jahggant já começa a apresentar os novos caminhos. Novos caminhos para as mesmas ideias, uma roupagem nova dialogando com o melhor do que a música negra mundial e regional vem produzindo nos últimos anos. Incorporando em seu próprio tempo, a força da cultura negra que sempre cultuou com excelência, OQuadro se caracterizou por injetar no Rap outras sonoridades da música negra.
Composta por grandes músicos, pesquisadores e formando um mosaico de influências que passeiam livremente do metal ao ijexá, a banda vem batalhando a muitos anos por um reconhecimento que já existe em seus inúmeros fãs e na crítica especializada. Se não estão nas primeiras colocações no ranking dos views tanto melhor, pois demonstra que na corrida de ratos que o mercado musical propõem, eles declinam. Sempre buscando originalidade em suas composições, sem se render a modismo, a banda criou já uma obra duradoura. Dessa vez, a música Jahggant é inspirada nas experimentações do percussionista Jahgga Man.
O fato primordial é que dentro do espaço mainstream do rap, onde mc’s brancos possuem a cara lavada – pleonasmo – de afirmar que a música “deles”, a cultura “deles” é negra, OQuadro reafirma em Jahggant “Ser” a música negra. Ser parte, pois como canta Nêgo Freeza: Ubuntu (Eu sou porque nós somos). E é no dialogo sincero e honesto, fruto das pesquisas do percussa acima referido, que assina o arranjo base, e com os arranjos de Ricô e Rafa Dias que o single é a segunda pedrada do novo disco. Numa mescla curiosa de elementos dispares que vão do jazz às Brassbands de Nova Orleans, há nessa música uma outra utilização e ligação entre o orgânico e o eletrônico ou digital, visando abrir espaço para efeitos e construções até então pouco explorados pela banda. A inserção dos sintetizadores, junto ao trabalho de baixo muito foda do Ricô, e a guitarra de Rodrigo Dalua resumida ao minimo, dão a cara dessa nova sonoridade cantada por Jeff: “Tambores são sempre espirituais, orgânicos e digitais, africanas conexões umbilicais.“
A lírica presente na música é uma verdadeira aula de africanidade, que pode servir inclusive para esses meninos que afirmam ter a música e cultura negra como referência mas desconhecem a línguas de origem africana. Assim como também desconhecem os costumes, a história e a geografia de África, formando aquele grupo de pessoas que entende o continente como um país. Para esses, sentem com os fones de ouvido, pois a aula é de graça e vem inclusive no modo mais divertido- para quem tem preguiça de buscar o conhecimento acadêmico – da música. Certamente não será em Miami que encontrarão essas referências, mas enfim, ignorância pouca é bobagem no Brasil de hoje.
OQuadro é a música negra e mais uma prova disso é o audiovisual produzido por Felippe Thomaz que reuniu uma rapaziada linda num estúdio para filmar as imagens que ilustram esse single. A semiótica não poderia ser melhor aplicada, do que se não entendermos essas imagens que giram em torno de um homem e seus tambores. Signo maior da música e do clipe, pois coloca em dialogo a cultura e a música referidas, a quem pertence de direito e de fato. Corpos dançando no balanço de uma bateria simulacro de um beatmaker de corpo inteiro, pernas e braços espancando o kit, é o trabalho de Victor Santana(batera) que conduz a linda confraternização como um ogan profano.
Como os nossos antepassados de tempos milenares, os participantes do clipe se divertem em comunhão plena, de uma negritude consciente de suas heranças e de seu papel histórico. O clipe é pleno de referências afro futuristas e os figurinos dão a grandeza dos participantes assim como dialogam com várias vertentes musicais. Num espaço de alegria plena, que para a cultura negra é sinônimo de resistência, onde crianças, mulheres e homens cantando e dançando em volta do tambor são também obras de arte. Como disse o cineasta francês Alain Resnais em seu clássico filme As Estatuas Não Morrem: “Um corpo negro em movimento é arte.”.
Nas voltas que o mundo dá ao longo das eras, graças aos orixás volta-se sempre ao começo, e o começo é África. E OQuadro habita nesse espaço de criação intelectual e musicalmente falando, é hoje na música brasileira uma das muitas forças que atravessam e redefinem a tradição afro brasileira. Resta-nos aguardar o dia 09 para conhecermos esse personagem conceitual Nêgo Roque, em sua unidade, e vos lhe digo, vocês não perdem por esperar.