Jacau e o Hardcore Crossover no sul da Bahia, uma entrevista onde podemos ver e escutar: A força de insurgência que os verdadeiros cultivam!!
Pandemia em tempos de ascensão da extrema-direita no mundo, aumento da miséria entre os brasileiros e crise econômica global instaurada. Temas novos para composição das bandas de Hardcore do mundo? Não necessariamente. Na verdade, nada disso soa como novidade nas reflexões e alertas que bandas como a Jacau trazem para o seu público em suas letras.
Dentro do universo literário da Jacau todos os dias são dias de pandemia para algumas dezenas de milhares de famintos desassistidos que ganham corpo, forma e conteúdo através da música, talhada no Hardcore. No mundo real, todo dia é dia de “limpeza social”, “estupro financeiro”, “escravidão”, “desemprego”, “dinheiro”, “corrupção” e “ódio” que dão nomes às faixas presentes na discografia da banda.
Muito além da crítica pela crítica, a organização encontrada nas gigs, material de divulgação, organização de turnês e parcerias propostas pela ideia política da banda transforma, informa e politiza seu público apresentando a autogestão como saída para a crise cultural de sua cidade, estado e país. São inúmeros shows pelo Brasil e com promessas de mais, contagiante…!
Nessa entrevista que fizemos com o guitarrista e um dos fundadores da banda, Jone Luiz, tentamos captar através de perguntas a energia descarregada por eles no palco ou no chão. Tentamos fazer uma linha cronológica desde o primeiro cd “Tocaia (2015)” até o petardo “Banzo (2018)”. Confira.
https://www.youtube.com/watch?v=ekkViYDVoFc&feature=youtu.be
Entrevista:
“Não fazemos questão nenhuma em tocar em eventos que o produto seja extremista, muito menos ser boa praça.”
Atualmente, a discografia da banda é formada por quatro álbuns. Quais as influências da Jacau? Como vocês definem o estilo da banda? E, há uma preocupação em manter uma linha sonora?
Jone Luiz: Isso, contamos com 3 Cd’s, 1 Ep, 1 Split e 1 Single participação em coletânea. Aqui na banda ouvimos de tudo! São quatro caras que adoram música, posso citar algumas como: Ratos de Porão, Brigada do Ódio, Napalm Death, Cólera, Terrorizer… Crossover, Hardcore livre é o que fazemos. Nossa preocupação é fazer um som mais honesto possível, às vezes HC mais cru, às vezes metalizando mais as músicas. Na realidade não nos preocupamos com o som no momento, sim com o que escrevemos, a música sai naturalmente. Preservamos mais a escrita, a mensagem.
O contexto de formação histórica da região Sul da Bahia está muito presente nas letras da banda, como a escravidão, o coronelismo e o ciclo econômico do cacau, por exemplo. É muito positivo inserir elementos identitários locais. A abordagem da história social e econômica tem uma perspectiva de conscientizar e resgatar uma memória coletiva?
Jone Luiz: Trabalhamos muito nossa região em nosso primeiro CD o “Tocaia”, o coronelismo foi muito forte aqui; A riqueza concentrada nas mãos de algumas famílias, exploração do trabalhador rural era constante, até hoje alguns fazendeiros locais são autuados e multados por trabalho em condições de escravidão. Ainda temos uma fiscalização precária, se realmente o Ministério do Trabalho cair nas roças encontrará muitos em condições de trabalho escravo, posso citar aqui várias fontes de autuação recente. Sem falar das grandes empresas “Organizações” como Trifill, Penalty, Tel, e a Vera Cel que faz um estrago grande também na questão da natureza.
Hoje temos um governo antipovo, contra o trabalhador, aplicando uma política neoliberal radical, e alinhado com ideias totalitárias, nazifascista. A Jacau tem sido umas das bandas a levantar bandeira contra o fascismo. É o momento das bandas resgatarem um discurso de luta, denúncia e protesto? Poderia comentar mais sobre o posicionamento da banda em relação a este alerta antifascista?
Jone Luiz: Isso, levantamos essa bandeira que vai muito além da música. Muitos falam “Fascismo foi de esquerda foi de direita” eu falo que a situação é de “Mau caráter” mesmo, então troque o termo fascista por mau caráter que define melhor. Nesse período ai recebemos muitas mensagens por nossa posição, falando que deveríamos fazer música e deixar politica de lado. Banda de Hardcore, Punk Rock, Rock em sua maioria é protesto. Rock sempre vai ser protesto. Na realidade que se foda, fazemos o que gostamos enquanto nós quatro e uns doido tiver curtindo está valendo. Repudiamos Bolsonaro, na realidade só em falar desse cara dá nojo, náusea e tristeza. Sobre bandas realmente não entendo esse medo de perder seguidores, fã burro. Medo de não tocar em outros eventos, não fazemos questão nenhuma em tocar em eventos que o produto seja extremista, muito menos ser boa praça. Momento é de se posicionar, pois tem interferência direta em nossa vida, vai além da música. Hoje já vejo algumas bandas começarem a se posicionar de alguma forma, já ajuda. Só avaliar o que estão fazendo com a cultura que estamos inseridos, projeto de governo para censurar tipos de música. Assim vai… Não pretendemos viver de música, até porque não somos tão bons assim, queremos mesmo é levar nossa mensagem, isso foi definido desde que a banda começou. Não vamos ganhar dinheiro, até porque não vende.
A Jacau fez alguns rolês pelo Estado. Como vocês analisam a cena do rock baiano?
Jone Luiz: Assim, estamos rodando bastante dentro e fora da Bahia. Passando por diversas cidades e capitais. O rock na Bahia está forte, vários eventos espalhados pelo Estado. Tanto na capital quanto no interior, muita banda gravando, fazendo clip… Muito no faça você mesmo, porque apoio não existe. Claro que tem muita gente reclamando de espaços, eventos, porém fica esperando acontecer as coisas cair do inferno. Man, se não tiver contente, faça seu festival, faça seu selo, faça seu corre isso nunca vai morrer, ligue seu amplificador e vá para rua. Não somos um estilo de massa, underground não vende. Underground é sangue nas veias. Acredito que a Bahia está bem servida de bandas.
A banda aparece no cenário em uma ascensão e com bastante destaque. Para o futuro, quais são os planos, cd, tocar em outros estados?
Jone Luiz: Na realidade gostamos de tocar, quem está no Underground pensando em glamour é melhor fazer outras coisas. Primeiro é se divertir com os amigos e levar o som. Iremos começar a trabalhar em um próximo cd para 2020, temos parceria com selos. Em 2020 queremos tocar no maior número de Estados possível. Lançaremos um single chamado “Terra Do Ódio” um clip [já disponível] nesse primeiro semestre. Temos muito amigos que nos ajudam, o que fica mais fácil pra gente fazer as coisas. Conseguimos vender também merchan que nos ajuda nos projetos futuros.
É satisfatório que também ocorram mais presenças e destaques de bandas do interior no cenário, saindo da centralização da capital. O interior também tem tradição na cultura rock com bandas e eventos. Como é a cena em Itabuna? Quais bandas e festivais você gostaria de destacar?
Jone Luiz: Na realidade quando as bandas estão passando pelo Nordeste todos querem tocar no interior. Tem muita coisa acontecendo, vários festivais. Aqui em nossa cidade nós organizamos o Rock Na Roça, Rock de Rua, Garagem, Protest, Beira in Hell dentre outros. Aí vem Ruídos no Sertão, Palco Do Rock, Festival Saco de Vacilo… É muito festival bacana que tem na Bahia. Fora os que fazemos em nossa cidade. Banda tem bastante; em nossa cidade e cidades próximas, tem várias como: Bad Maria, Pecados Capitais, Locomotiva, Bisco, Scrupulos, Ruarez, Natasha….. Temos várias para ouvir só procurar no face… Outras cidades do interior tem Cama de Jornal, Malaco Véio, Kabrunco, Thrashard , Suffocation Of Soul e muito mais. Quando parte para capital tem muitas bandas bacanas também.
A Jacau também produz eventos. Ao longo desse período o que você considera como pontos-chave para a manutenção e fortalecimento da cena rock do interior baiano?
Jone Luiz: Sim produzimos bastante tirando leite de pedra, temos nossos parceiros que corremos juntos. Temos nosso selo também, fazemos 7 tipos de evento com temática diferente e continuamente.
Devido à conectividade hoje em dia, onde podemos acompanhar a banda, quais plataformas, redes sociais e outros?
Jone Luiz: Nossas ferramentas Sociais:
Galera, muito obrigado por nos ter atendido. Espaço para as considerações finais e vida longa a Jacau.
Jone Luiz: Muito Obrigado a você pelo espaço. Valeu a galera por ter lido essa entrevista e bora para frente! Lembrando que não precisamos de Governo, prefeitura nada para movimentar. Junta os instrumentos e reverbera o som!
Entrevista: Décio Filho
Texto e Revisão: Danilo Cruz
Foto: Acervo Jacau/Fernando Guimarães