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Iza Sabino e a invisibilização de mulheres no hip-hop (de novo!)

Iza Sabino e a invisibilização de mulheres no hip-hop (de novo!). A MC e produtora é vítima de mais um capítulo de machismo no rap nacional!

Desde o lançamento do álbum de Iza Sabino e FBC, “Best Duo”, tenho acompanhado as notícias sobre e algumas vezes chega a ser tão frustrante quanto as do atual desgoverno do país. 

Mais uma vez, a desgastante discussão sobre a invisibilização das mulheres dentro do hip-hop precisa voltar à tona e explicar o óbvio que uma enorme parcela do público do rap insiste em fingir que não vê. 

E dessa vez, é ainda pior, pois atingimos um novo nível de invisibilização. Iza Sabino não é uma participação no disco. Ela é autora, produtora, faz mais de 3 tipos vozes diferentes no disco, incorpora personagens e ainda assim, está sendo ignorada. É uma mina produzindo com um cara e sendo deixada de lado. Absurdo em tantos níveis que me revolta só de falar. 

Sei que todas as mulheres vão se identificar com o fato de que às vezes a revolta dá lugar pro cansaço de falar, ensinar, ser didática e paciente, dia após dia, com situações que ferem nossa existência. 

Uma das reportagens que li a respeito do álbum “Best Duo” sequer cita o nome da Iza Sabino. Sério, não aparece o nome dela na reportagem nem uma única vez… 

E decidi escrever sobre isso hoje, após, pela segunda vez, o Mano Zóio da Rádio Revolução Rap ignorar o nome da Iza Sabino ao tocar a música “Vale Grana”. A mineira alcançou outro patamar de visibilidade, mas junto, outro patamar de invisibilidade. É muita gente que se importa com uma mina cantando rap. Isso já incomoda e já é o suficiente para tentarem impedi-la de crescer ainda mais. 

A participação feminina nesse processo histórico e de legitimação do hip-hop é invisibilizado desde sempre. No início do movimento, os MCs se reuniam na Estação São Bento e por não terem acesso a sons com uma boa potência usavam latas de lixo para fazerem os sons que precisavam. 

Dentre esses rappers, se destacavam Sharylaine, considerada uma das pioneiras no cenário do hip hop brasileiro. Em 2010 surge a Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop que tem como principal objetivo dar destaque às questões raciais e sociais voltadas para mulher, fortalecendo assim suas identidades. 

A rua era (e claramente ainda é, senão esse texto nem seria necessário), um espaço em que a mulher não tem o direito de expor seus ideais, devido a uma cultura patriarcal, que dita os lugares que a mulher deve estar presente. 

Existe uma luta enorme por parte de mulheres que estão engajadas no hip hop que busca enfrentar essas barreiras sociais que as impedem de ter seus direitos. Através dos elementos do hip hop, a mulher consegue falar de si para outras que se encontram em uma mesma situação. 

A grande reivindicação do movimento, por parte das mulheres, é que as demais mulheres tenha uma visão politizada e de valorização de si. 

Aqui no Oganpazan, estamos sempre falando de mulheres sensacionais que são referências e rimam com maestria cada vez que se propõem a fazer algo novo. Entretanto, uma boa parte do público do rap está tão acomodado e mal acostumado que quando vêem uma matéria sobre mulher, nem sequer têm a curiosidade de abrir e ler, que dirá compartilhar e ajudar a impulsionar mulheres. 

A desculpa é sempre a mesma: “não conheço muitas mulheres que rimam”. Não conhece e nem quer conhecer, até porque, hoje em dia é muito fácil descobrir e ter acesso a mulheres que mandam muito nos beats, no audiovisual, rimando e quase sempre, com um nível técnico superior a muitos MCs por aí. Até porque, se a cobrança é dobrada, a qualidade também é. Esse tipo de argumento de preguiçoso só faz continuar a invisibilização de mulheres no hip hop.

Visibilidade não paga as contas mas ajuda outras mulheres a se fortalecerem e não dependerem de espaços criados por homens. Além disso, sabemos que apenas visibilidade não paga conta mas por outro lado é um primeiro passo para que mulheres tenham autonomia e consigam mais views em suas produções. Um comunicador canalha e machista que apaga a Iza Sabino, não apaga apenas uma parceria em um disco, apaga a produtora, a autora solo que já possui o excelete EP Augusta (2019), e ainda apaga a MC participante do excelente grupo mineiro de mulheres Fenda

Cada vez que a Iza Sabino (e outras mulheres) são ignoradas ou tratadas como meras participações, o hip-hop se desvia do seu foco principal. Quem compactua ou se omite diante disso, também prova que não ama a cultura: ama ver homem rimando. E só.

 

-Iza Sabino e a invisibilização de mulheres no hip-hop (de novo!)

Por Gabriela Santos

 

 

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