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Ivan Conti Mamão e a longevidade de um groove Macunaímico (Entrevista)

Ivan Conti Mamão e a longevidade de um groove Macunaíma, entrevista com o longevo batera que tem groovado em vários estilos em sua carreira!

Um dos maiores testes da vida é o tempo. A longevidade do som, o peso da história do groove. A concepção artística de quem cria, pensando em expansão, não em limites. Fronteiras criativas são empecilhos que limitam o ser criativo em sua própria trincheira.

Desafiar e se sentir desafiado. Absorver e observar como essa referência irá crescer com o tempo. Pensar o som com os sentimento de quem valoriza o aspecto orgânico da jam. Seja ela um Funk de rachar o assoalho ou um Jazz que faz até o mais brutamontes sentir o drama.

A longevidade artística é um privilégio. Poucas gozam de tamanha interdisciplinaridade, mas observar baluartes como Ivan Conti Mamão – do alto de seus 73 anos – é uma aula magna sobre amor e respeito ao som. Depois de decifrar os meandros da música brasileira (do Samba à Bossa, do Funk ao Jazz) o meliante carioca ainda se aventura por texturas eletrônicas e pelo Hip-Hop, encurtando distâncias estéticas como um Macunaíma pedalando na orla da praia.

Com algumas décadas no taxímetro do Azymuth, Mamão segue renovado e revigorado com seu “Poison Fruit”, disco/projeto – lançado pela Far Out – que causou alvoroço em 2019. Vivendo uma excelente fase, o baterista intercala turnês internacionais com o Azymuth – ao lado de Alex Malheiros (baixo) e Kiko Continentino (teclados) – sem perder a urgência que caracterizou o feeling de sua abordagem.

O Oganpazan conseguiu trocar uma ideia com o maestro antes que ele subisse ao palco do SESC 24 de maio para emular as camadas sinestésicas do Azymuth. Dia 13 de fevereiro, durante mais de 1h e meia de espetáculo, a plateia pôde sacar a alquimia de uma banda fundamental, soberba e única dentro de seu próprio infinito particular.

Degustar desse som e ouvir do mestre os desafios de sua própria jornada criativa representaram momentos honrosos e que ficam marcados como uma cauda de cometa nos ecos de uma madrugada estrelada no espaço. 

Com uma interação de fato impressionante e uma sensibilidade para preencher o som, pensando em condução de improvisos e dinâmica, a cozinha do grupo segue pungente e refrescante. É um desafio, mas depois de trocar ideia com o Mamão ficou claro como a liberdade é a força motriz que move tantos anos de história.

Guilherme Espir (Oganpazan) – Mamão, pra começar, queria falar contigo sobre o “Sujinho”, que é uma colaboração sua com o Madlib de 2008, sob o pseudônimo de Jackson Conti.

Eu conheci o Madlib por meio do Brian Cross (B+) lá de Los Angeles. O Madlib sempre gostou do Azymuth e das minhas músicas. Ele veio para o Rio de Janeiro e trouxe uma compilação com as minhas músicas e eu achei muito bacana. Nós tomamos uma cervejinha e ele falou, vamos gravar? 

O B+ disse: vamos embora. Nós fomos para o Estúdio Verde lá no Rio e começamos a gravar. Eu até perguntei pra ele o que ele queria na hora, mas ele disse pra tocar que depois a gente ia ver o que fazer juntos. Eu comecei a tocar e ele pegou a aparelhagem dele e deu muito certo.

Ele é músico de excelente bom gosto, a visão de produtor dele é muito completa.

E o disco é bem raro né, meio obscuro.

Sim, é verdade. O B+ não é mais produtor dele hoje em dia, ele mesmo se produz, né? Eu encontrei ele aqui no Rio e nós até subimos ao palco juntos e eu fiquei muito feliz de ter feito esse trabalho com ele, foi sensacional ter conhecido essa galera…Eu fiquei bem próximo do Daniel Tamempi e do Nuts depois disso e são colaborações que eu gostei muito de fazer com o passar dos anos.

Acho que foi em 2007 que nós tocamos juntos. Foi como parte de um projeto que reuniu 5 bateras e 5 DJ’s e ele estava junto. Ele, o o Ba-Boom, Coleman… foi daí que eu conheci essa galera e é uma troca muito legal.

Guilherme Espir (Oganpazan) – Falando do “Poison Fruit”, como que você chegou na roupagem do disco? É muito fresco e a junção do tocado com o orgânico criou algo bem massa. Ao vivo deve ser muito interessante.

Com certeza, eu gostei muito do resultado final do disco, mas além disso, pensando no show é muito interessante. A gente costuma pegar uma base de alguma passagem e aí misturamos essa track com com experimentos que fazemos na hora mesmo, ao vivo. Ficou muito bacana e as pessoas tem gostado bastante.

Vocês tocaram até no festival Xama ano passado.

Sim, esse é um trabalho que eu faço tem mais de 30 anos. Eu gosto muito de pesquisar isso e fazer essas experiências. O produtor do Azymuth (que também é o meu produtor) veio aqui pra casa no Rio (Joe Davis) e depois de ouvir disse que a gente precisava lançar isso.

Eu disse pra gente ir para o estúdio, mas ele disse que queria tudo como estava, era só questão de mexer em alguns detalhes e eu pensei: tá ótimo. Meu filho (Thiago Maranhão) me ajudou muito com isso também, essa nova geração né?! Eu adoro o jeito como vocês pensam e ele é percussa também, além de educador musical… Contribuiu muito com o processo.

E eu já fui até convidado para fazer o segundo disco.

Guilherme Espir (Oganpazan) – E saiu o “Katmandu” agora, como que foi o processo pra compilar esses remixes?

Até falei com o meu filho sobre isso, foi uma experiência bem legal.

Como foi, você participou pra fazer a curadoria dos DJ’s? 

Então, foi tudo iniciativa deles e eu fico feliz de ver profissionais do mundo todo, uma galera da pesada mesmo, sempre relendo meu trabalho e criando essas coisas maravilhosas.

E acaba que vai de encontro com a questão da renovação do seu público

Exatamente, esses DJ’s todos são demais e a gente aprende muito com eles

Em termos de produção deve ser uma conversa massa.

Com certeza, a gente se entende rapidamente e a minha intenção foi essa, justamente de promover essa troca e eu fico muito contente. O Pablo Valentino, DJ francês, foi outro que trabalhou comigo e foi bárbaro, muito legal mesmo ter essa nova visão e se manter atual.

Guilherme Espir (Oganpazan) –E sobre a Far Out, como você enxerga a importância deles nesse processo de renovação de público, tanto seu, quanto do Azymuth? 

A gente tocou na França, num casarão que era até a casa do Prince, foi lá que eu conheci o Joe Davis. Nós fomos pra um bar e falamos sobre fazer um trabalho e essa junção perdura desde meados dos anos 80 e essa junção foi muito importante para a banda.

Vocês são muito cultuados fora do Brasil né

Eu acho isso lindo. Uma vez nós tocamos na Croácia e quando chegamos no saguão do Hotel veio um fã com um disco nosso. Na hora eu fiquei até impressionado, por que não tinha como ele conseguir aquele disco lá, até perguntei pra ele onde que ele tinha arrumado, sabe?

Nós somos muito bem recebidos e isso é consequência do trabalho da Far Out que está sempre nos ajudando e fazendo nosso som rodar o mundo.

Guilherme Espir (Oganpazan) – Mamão, pra fechar, gostaria de saber como você consegue orbitar tantas referências de música brasileira, olhando pra tantas roupagens e um repertório que vai da Bossa ao Samba-Jazz e o Hip-Hop com grande liberdade. Qual sua percepção disso?

Eu gosto muito de pesquisar. Esse conhecimento nosso de muito tempo se atualiza quando eu crio com pessoas novas. É a minha vida, eu amo tocar e quanto mais eu estiver fazendo som isso me faz muito feliz e realizado.

É importante estar junto de pessoas com o mesmo objetivo que você em termos de comprometimento com o som.

Claro, com certeza. Pesquisar e acompanhar as novidades é muito importante. Eu já estou preparando o trabalho novo do “Poison Fruit” e eu acho sensacional estar envolvido e eu sempre tive vontade de tocar com DJ.

É algo que também está em alta hoje e mesclar os elementos eletrônicos.

Exatamente, é uma experiência muito interessante e eu tenho aprendido muito, vamos ver como vai ser agora no segundo disco!

 

 

 

 

 

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