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Iron Maiden – The Book Of Souls

Com o advento da modernidade, o Rock se viu bastante próximo da obsolecência e, ao contrário do que muitos pensaram, isso não foi tão ruim assim. Com tantos subgêneros aparecendo, foi questão de tempo para que os ouvintes buscassem novos rumos, algo natural dentro da evolução do tempo, uma atualização de software que só acontece com ideias frescas.
O único problema é que esse Darwinismo sonoro funcionou com quase todos os estilos, menos o Heavy Metal. Na cabeça de um headbanger parece que o mundo nunca sairá dos anos 80, fator que sempre foi um problema para se compreender as novas ideias que surgiram apoiadas no som pesado.
Hoje, passados 35 anos, muitas bandas injustiçadas ganharam o respeito merecido e outras que sofreram com duras críticas, hoje já foram abençoadas pela justiça. Só que essa crise de meia idade misturada com delírio existencial ainda é recorrente em nossa sociedade.
Veja o novo disco do Iron Maiden, por exemplo. O décimo sexto trabalho de inéditas da banda é excelente. ”The Book Of Souls”, o primeiro disco duplo de estúdio da história da banda, mostra como é possível mudar as regras do jogo sem perder a essência, mas mesmo assim tem gente falando: ”ah, mas não é tão bom como o ”Piece Of Mind”. É claro que não, estamos em 2015 meu amigo!

Line Up:
Bruce Dickinson (vocal/piano)
Dave Murray (guitarra)
Nicko McBrain (bateria)
Adrian Smith (guitarra)
Steve Harris (baixo/teclado)
Janick Gers (guitarra)

Track List CD1:
“If Eternity Should Fail”
“Speed of Light”
“The Great Unknown”
“The Red and the Black”
“When the River Runs Deep”
“The Book of Souls”

Track List CD2:
“Death or Glory”
“Shadows of the Valley”
“Tears of a Clown”
“The Man of Sorrows”
“Empire of the Clouds”

Lançado no dia 04 de setembro de 2015, ”The Book Of Souls” prova como o Iron Maiden é uma banda relevante em qualquer calendário. Cinco anos após o mediano ”Final Frontier”, o quinteto reaparece com seu disco mais desafiador, progressivo e competente desde ”A Matter Of Life And Death”, lançado em 2006.

Temos aqui mais de 90 minutos do mais puro e belo Heavy Metal. Repleto de insights progressivos, o primeiro CD carrega apenas 6 temas, sendo que dois deles rompem com a barreira dos 10 minutos. O segundo disco também prova-se igualmente eletrizante (talvez até mais que o primeiro), pois dá sequência aos temas épicos e se encerra com a maior faixa da história da banda, os mais de 18 minutos da belíssima ”Empire Of The Clouds” e seu surpreendente piano.

Talvez o que muitas pessoas não entendam, desde que o Iron começou a utilizar toda a vasta técnica de seus músicos, para a criação de temas mais longos e elaborados apoiados no Prog, foi que, diferentemente de uma banda comum, os britânicos não buscam viver de renda e rodar o mundo com discos medíocres como se fossem uma cópia de si mesmos, não, isso jamais.

Mesmo na casa dos 60 e poucos a banda ainda tem força. São várias tours todos os anos e se os velhacos ainda podem fazer isso, por que não tocar no mundo todo com um disco que continue a redefinir a música? Por que não tentar ir além, tal qual faziam no começo de tudo?

Parece ser uma indação simples, mas quem acompanha o cenário sabe que  não é bem assim. Grande parte dos medalhões vivem das glórias do passado, mas o Iron é uma das poucas bandas que mantém os grandes momentos frescos na memória, afinal de contas um bom trabalho é um dos grandes sinônimos para definir o legado da banda, seja agora ou lá atrás.

Só que o Iron de agora não busca estabilidade. É claro que esse disco inspirou novos objetivos, mas as métricas surgem com liberdade, tal qual o single deste disco. Falo sobre ”Speed Of Light” e seu clipe com pinta de Nintendo 64.

É um disco formidável. O baixo não perde a cavalgada, a batera segue exata, o trio de guitarras tinindo e o resultado fala por si só. Acredito que esse seja um dos picos criativos da banda, e falo isso em todos os aspectos. As letras narram acontecimentos grandiosos com desfechos e detalhes impressionantes, como acontece com a maestria de ”The Red and The Black” e na faixa título.

Temos aqui um trabalho para ser dissecado, prestando atenção na riqueza de detalhes, o equilíbrio para não exagerar e toda a arquitetura naval que é uma composição deste sexteto. Depois de 6 takes, o segundo disco surge com mais 5 contos homéricos e apesar de temas mais ”diretos” (se comparados às suites do CD anterior), os momentos de brilhantismo seguem surgindo.

Um dos pontos altos desta etapa final é ”Tears Of A Clown”, tema inspirado no mestre Robin Williams, gênio da comédia que infelizmente escolheu encerrar sua vida. A voz de Bruce Dickinson segue comprovando que todo o cuidado que o vocalista teve com seu instrumento de trabalho fez a diferença.

Hoje, com mais de 60 anos, o britânico possui um alcance notável e durante todo o disco você pensa: caramba, não foi ele que se recuperou de um câncer, este ano?! ”The Book Of Souls” é um trabalho excelente por inúmeros fatores. Vai levar um tempo para absorver todas as ranhuras, só que será duplamente recompensador.

É uma aula para se entender mais sobre as mudanças sonoras dentro do Heavy. Um disco obrigatório para qualquer fã de boa música, pois além de apresentar uma banda de sábios, coletivo de grandes mentes que sabe mudar as regras do jogo antes de virar peça de museu.

”The Book Of Souls” evidencia o fôlego juvenil que um bando de sexagenários ainda consegue soltar da bombinha asmática e deixar a geração do milênio 200 com tosse. Que pegada, rola até um remake do riff de Wasted Years ao som de ”Shadows Of The Valley”.

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