Oganpazan
Discos, Resenha

Inverso – Arthur Vinih

Capa de Inverso novo álbum de Arthur Vinih
Capa de Inverso novo álbum de Arthur Vinih

Inverso está finalizado, fica a expectativa de quando acontecerão os shows de lançamento e a disponibilização do álbum na net. 

Faz quase uma semana que espero a chegada de Inverso, novo álbum de Arthur Vinih, na minha casa aqui em Salvador. Esse tipo de problema acaba sendo comum quando se insiste em trabalhar com esse tipo de mídia em plena era digital. Estivesse o álbum disponível para download na internet já poderia tê-lo ouvido após conclusão de todos os detalhes corrigidos durante a fase de pós gravação.

Vocês devem estar pensando como estou escrevendo a resenha de um álbum que ainda não escutei. Na verdade ouvi Inverso assim que as gravações terminaram, esta é uma das vantagens de ser amigo do artista. Contudo ainda não ouvi o resultado final e só vou conseguir esse feito quando o carteiro me gritar lá da rua. Nossa, havia me esquecido, não tenho onde reproduzir o CD aqui em casa. Aposto que a maioria das pessoas hoje vive esse constrangimento quando ganha ou compra um CD. Portanto minha gente, além de esperar pela entrega dos correios ainda terei que converter as faixas do álbum para MP3 e assim conseguir finalmente ouvir o álbum. Se minha vida dependesse de ouvi-lo, juro que já teria comprado o caixão e reservado um horário numa dessas casas funerárias para realizar o velório. 

Como minha vida não depende disso e ainda por cima já ouvi o álbum (embora não em sua versão final), sei que a espera vale muito a pena! Arthur fez um excelente álbum que pode inseri-lo sem problemas no circuito de shows em âmbito nacional. Claro que para isso é preciso mais do que um material de qualidade. Trabalho duro e uma boa assessoria são indispensáveis para alcançar tal objetivo. Mas a centelha para começar a incendiar a carreira musical de Arthur Vinih está acesa, agora é jogar gasolina em cima. 

Estou fora de Ponte Nova há quinze anos. Acompanho superficialmente a vida cultural da cidade. Partindo dessa limitação me arrisco em afirmar que Inverso se apresenta como o mais ousado projeto musical feito em Ponte Nova nas últimas duas décadas. A qualidade técnica da produção e gravação do álbum mostra o compromisso em fazer algo profissional, que fosse além das fronteiras da família, dos círculos de amizade e do público janteiro que frequenta os estabelecimentos onde há música ao vivo na cidade.

Imagino ser decepcionante pra qualquer compositor sério ver seu trabalho fadado a estantes empoeiradas de amigos e familiares. Mais frustrante ainda deve ser tocar as músicas compostas com apuro e dedicação em lugares onde serão ignoradas por pessoas mais interessadas em comer e conversar do que apreciar sua arte. Inverso tem potencial para fazer Arthur cruzar tais fronteiras, romper os grilhões que o prendem a esta rotina infernal de fazer música ambiente pra granfinada da cidade poder jantar. Veremos se o músico conseguirá fazer toda potência de Inverso se tornar fato. 

Enquanto torcemos e esperamos os desdobramentos do lançamento de Inverso, vamos falar de algumas músicas dele fazem parte. O álbum traz uma sonoridade diversificada, transitando por diferentes vertentes musicais, mostrando que Arthur não procura aprisionar sua sonoridade num formato específico. Tem reggae, samba, pop, valsa, funk (não aquele do Rio) e umas outras coisas mais que não consigo encontrar termos que as definam com precisão. São doze faixas ao todo, onze músicas inéditas e uma faixa bônus em que a música Pensamento em Temporal é apresentada em versão diferente da original.

Inverso começa com um samba groovado, se é que isso existe, com letra arraigada na ancestralidade africana do compositor. Seguindo a tradição da oralidade própria das tribos africanas, a música Mãe Preta narra a aparição da avó materna de Arthur num sonho para dar-lhe conselhos. O músico jura de pés juntos que o fato realmente aconteceu, adensando ainda mais a aura mística que cerca a música. Haverá dá uma amenizada na torrente rítmica deflagrada pela faixa anterior. Reggae levinho, flertando com o pop atravessado de ponta a ponta por solos de flauta enquanto guitarra, baixo e bateria pavimentam a estrada rítmico-harmônica para a voz de Arthur não cair em nenhum buraco.

Segue o álbum com Pensamento em Temporal. Essa música tem uma história comigo. Arthur a compôs faz alguns anos, provavelmente é a música mais antiga do álbum. Enfim, lembro quando ele tocou a musica pra mim na calçada da antiga sede da Percepção Musical. Gostei dela de cara. Mesmo crua, sem o arranjo adequado pra expressar toda potencialidade que  já trazia consigo desde o início, dava pra sentir que algo bom poderia sair dali. Quase não sai. O primeiro arranjo para a primeira gravação dessa música ao invés de materializar o potencial nela contido o impedia de sair. Ouvi uma música sem graça, com arranjos pouco criativos, que não conseguiam dar à música a vibração da qual necessitava. Nas mãos do produtor Thomas Medeiros a música conseguiu realizar toda sua potência. Os lábios de Elias também foram importantes para isso, pois o uso dos metais foi fundamental para que Pensamento Temporal  ganhasse o groove que lhe faltava na gravação anterior. 

Na falta de arcabouço técnico para definir a música Capricho vou chamá-la de samba esquisito. A levada causa estranheza, chega a incomodar os ouvidos em alguns momentos, mas estranhamente faz com que você queira continuar ouvindo. Efeito provocante esse viu! O trombonão de Elias, assim como o dono nos eventos sociais que frequente, se espalha na música sem cerimônia. Transmite-lhe toda vitalidade própria do som dos metais tocados nas gafieiras.

Vou dar um salto sobre Vestido Azul Inverso pra chegarmos logo a Versos que Vem. No melhor estilo Black Soul Brother de ser, esta música envolve e exige do seu corpo que comece a balançar. Os ataques dos metais conjugados com a linha de baixo frenética dão uma injeção de adrenalina no coração da música e se tocadas com a mesma intensidade ao vivo, corre o risco da casa vir abaixo.

Se há na organização do álbum uma virtude foi escolher a música Sorte de Nós Dois pra apagar a luz antes de sair. Essa música consegue absorver com uma esponja todo sentimento bom pra si. Da harmonia às melodias presentes, tudo emociona nessa música e não dá pra evitar o marejar dos olhos quando o coral de crianças entra cantando. Além disso desperta uma nostalgia monstruosa sem vínculo com nada em específico, apenas a sensação… 

Esse aí é o Inverso do Arthur Vinih. Ouçam e tirem suas próprias conclusões. Tenho certeza que todos iremos concordar ao menos com uma coisa: Arthur Vinih compôs uma obra de arte que merece ser devidamente apreciada! Na entrevista que fizemos com ele o músico falou sobre o o processo de criação do álbum, para conferir clique aqui

Nota: 

Ficha Técnica:

Arthur Vinih: Voz, Violão e Guitarras
Adailton Couto: Bateria
Cristiano Provezani: Contrabaixo
Nando Vasconcelos: Percussões
Jader Moreira: Flauta Transversa
Elias Vitorino: Trombone, Trompete e Tuba
Participação especial:
Thomas Medeiros:
Backing Vocal em “Vestido azul”
Contrabaixo em “Haverá”
Moringa, Ganza, Contrabaixo e Ukulele em “Sorte de nós dois”
Samples em “inverso”

Crianças da Musicalização Infantil da Escola Percepção Musical em “Sorte de Nós Dois”

Arranjos: Thomas Medeiros e Arthur Vinih
Direção Musical: Thomas Medeiros
Arte Gráfica: Dinho Bento
Fotografia: Marcello Nicolato

Produzido por Thomas Medeiros e Arthur Vinih

Gravado, Mixado e Masterizado por Thomas Medeiros no Estúdio Horizontes (Viçosa-MG) no período de Abril a Dezembro de 2014

https://soundcloud.com/arthurvinih

Matérias Relacionadas

Terrace Martin e a sua mão de midas em Sinthesize (2020)

Guilherme Espir
4 anos ago

While You Were Sleeping – José James

Carlim
10 anos ago

“Shakespeare do Gueto” é o primeiro clipe solo de Ravi Lobo. “Puxando a matilha”

Danilo
3 anos ago
Sair da versão mobile