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Início Meio Início – Passando o passado a limpo

Início Meio Início - Passando o passado a limpo
Início Meio Início – Passando o passado a limpo

Apesar de curtinho – são apenas 29 minutos – o filme, Início Meio Início se configura desde já como um marco importante para o hip-hop baiano. Um marco por dois motivos. Primeiro porque aparece num momento extremamente importante para a cena na cidade, segundo porque tem como objeto de apreciação um dos grupos mais importantes da história do rap na Bahia: a Versu2. O diretor Fabiano Passos, criou um filme dinâmico e cheio de depoimentos pessoais que juntos conseguem extrair como que a essência da trajetória dos Mc`s Mobiu, Coscarque, CDoze e do Dj Jarrão.

Essência essa extraída de forma sucinta, mas conseguindo plasmar aquelas que seriam as características mais marcantes de suas histórias. Uma espécie de filme impressionista que, por conta do seu tempo de duração, extrai apenas o tutano, a luz e os reflexos que a Versu2 produziu. A escolha estética do documentário captura não a descrição realista do objeto, não perde tempo com origens, biografias, deixando transparecer na tela algo mais próximo de uma “jobgrafia” ou “workgrafia”, ou seja, a escrita dos trabalhos, explorando a marca que suas posturas, ideias, produções e obras deixaram na cena baiana e brasileira.

Partindo desta escolha o filme nos obriga a pensar os conceitos que os depoimentos deixam transparecer. Conceitos expressados seja pela influência que sofreram, ou pela impressão que sentiram ao entrar em contato com o trabalho ou com as figuras. Ideia onipresente em quase todos é o fato de ter sido a Versu2 a grande responsável pela profissionalização do cenário hip-hop de Salvador. E neste aspecto é curioso notar um cruzamento entre o cenário punk, hardcore que remonta certamente ao período anterior á formação do grupo. Rangel a.k.a. Mobiu, é um artista oriundo desta cena que na cidade de Salvador esteve (pelo menos em um período) junto ao surgimento do rap na cidade.

Se nos esforçarmos para entender o alcance deste agenciamento, é possível pensar que a ética do “Do it yourself”, oriunda do punk rock, tenha sofrido um refinamento. Essa a conduta – ou ethos – faz com que os trabalhos e a postura profissional de Rangel tenham alcançado o nível de excelência a todo momento, tendo seu lugar reconhecido. Sendo assim fica fácil notar que o punk encontra aqui uma solução de continuidade, algo que inclusive se faz presente na própria poética do grupo. Poética essa que recebe uma depuração, formando um background que sustenta a contundência das posturas e a qualidade da estética pensada para os materiais oferecidos ao público, dos flyers, adesivos e camisas aos clipes e as músicas. Todos esses cruzamentos, atravessamentos e influências que ajudaram a formar grande parte da cena que hoje só cresce, vão aos poucos transparecendo o surgimento e as origens deste território onde os indivíduos atuais caminham.

Trajetória que em algum momento encontra outras duas peças fundamentais, nos ajudando a ir montando esse quebra cabeça. E aí entram em cena Mc Coscarque e Dj Jarrão, a outra metade do canto-letras e o professor do ritmo, o articulador das bases sonoras. Um só caminho que se afirma do múltiplo, a atitude punk se une ao flow jazzístico, mestre da improvisação e da suavidade (não menos contundente) das rimas, mas voltado ao cenário underground do rap, que se une também ao formador, pesquisar, professor, DJ Jarrão. Nesse caldeirão de qualidades distintas, porém complementares, é que vamos bebendo aos poucos e espaçadamente, goles capazes de nos fazer entender um pouco a caminhada, mas muitos mais as encruzilhadas que ao se atravessarem produzem a diferença impactante desta história, o efeito-acontecimento Versu2.

São sempre linhas: de fuga, paralelas, tangentes, curvas que aos poucos o documentário nos apresenta. Cartografias que vão a São Paulo, Belo Horizonte e Ilhéus encontrar Emicida, Família de Rua, OQuadro (Freeza), mostrando como as melhores cabeças do rap nacional estão lado a lado com os caras. Essa ideia nos leva ao começo do filme, quando o Mc Coscarque nos conta que o título da obra, assim como a carreira da Versu2, é como um looping, uma volta de 360 graus. E se pensarmos um pouco neste título (Inicio Meio Inicio) e nos atentarmos sobre os depoimentos que tentam desvendar os motivos do hiato e as expectativas deste retorno, podemos esperar muitas diferenças. Somos empurrados a entender que o retorno é a volta da diferença, a seleção daquilo que deve ser afirmado, união, persistência, inovação.

Sim diferenças, pois pelo que conhecemos do grupo – e do que aprendemos sobre eles ao assistir o documentário – a Versu2 sempre se afirmou pelos seus diferenciais. Novas concepções estéticas, outra ética profissional, empreendedora e nova. Nesta volta do grupo encontramos o Mc CDoze, o que já é algo diferente. Três que voltam quatro. Mas também encontramos artistas mais maduros, buscando continuar a aprender e interferir no seu meio, reiniciando o sistema sem a ajuda do programador. Pois como alguém diz durante o filme: “eles são o hip-hop”. Seus atos demonstram como o rap é a essência deles, algo que conseguimos compreender pelas pinceladas impressionistas citadas acima.

Só nos resta constatar: a diferença está na rua, o jogo continua subindo de nível! Assista o documentário abaixo e conheça a história dos caras. 

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