In Venus: novo álbum da banda paulistana segue seu cunho político com questionamentos sobre a sociedade, mas também aponta novas possibilidades de futuro.
Por Carollina Lauriano
Dizem os historiadores que um século não se inicia em seu ano um, mas sim quando um grande acontecimento o insere na história, sendo assim, já podemos apontar 2020 como o marco inicial do século XXI.
No início de fevereiro, mesmo ainda sem saber o que seria a sucessão dos meses seguintes, a banda paulistana In Venus iniciava o processo de gravação de Sintoma, seu segundo álbum, que já levantava questionamentos sobre o que seria esse complexo período de pandemia, ao mesmo tempo que refletia sobre novas possibilidades de futuro, utilizando-se da arte como ferramenta de compreensão dos nossos tempos.
Entre os dias 22 a 26 de fevereiro, Cint Murphy (voz e sintetizadores), Duda Jiu (bateria), Patricia Saltara (baixo) e Rodrigo Lima (guitarra) entraram em um processo de residência artística nos arredores da cidade de São Paulo para a finalização do disco, que contou também com a participação de uma coletiva de artistas e profissionais que esteve ativa na concepção do álbum neste período de isolamento voluntário da banda. A coletiva Formas, constituída por Adriana Latorre, Brunella Martina, Camila Visentainer, Erikat, Filipa Aurélio, Thais Lopes e Thamu Candylust surge da necessidade da banda em compartilhar processos criativos entre artistas, que foram as responsáveis pelos visuais do disco.
Nesse sentido, Sintoma marca um novo momento para a banda que, há mais de um ano com uma nova formação, pôde experimentar novas formas de tocar, conferindo um caráter mais experimental e rítmico ao som do quarteto. Se a sonoridade não pode mais ser comparada ao Ruína (primeiro álbum da banda, de 2017), o cunho político permanece nas letras carregadas de questões pungentes escritas por Cint Murphy.
Outra constatação importante é que Sintoma traz todas as suas letras em português. Em um momento no qual presenciamos a falência de um ideário de globalização, voltar para as raízes parece a decisão mais acertada para falar de assuntos tão caros para nossa sociedade.
Se o novo álbum chega em caráter de apontamentos e denúncias para as instâncias e comportamentos sociais que precisam urgentemente serem revistos, a In Venus também propõe, em suas práticas, desejos de um futuro possível. Abrir seus processos criativos para que uma pluralidade de corpos pudesse imputar ali outras visões de mundo foi o caminho escolhido pela banda para a construção de Sintoma.
Ao enfatizar a importância da força de um coletivo majoritariamente dissidente e feminino, do protagonismo de corpos políticos como realizadores, In Venus nos mostra que seu novo álbum chega não somente como discurso, mas com atitudes que apontam para caminhos de mudança de um mercado ainda em um processo lento de ressignificação.
Capa por EriKat (coletiva FORMAS)
Produção e edição: Mari Crestani
Mixagem e edição: Malka Julieta
Masterização: Luis Tissot
Captação e edição: Helena Duarte (Estúdio Mestre Felino / Fevereiro de 2020)
Todas as composições por In Venus
Arte: Erikat
Projeto gráfico: Rodrigo Lima
Produção executiva: Cint Murphy e Patricia Saltara
Selos: No Gods No Masters e Efusiva
IN VENUS
Formada em São Paulo em 2015, a banda de post-punk In Venus apresenta um mosaico de ritmos e sonoridades que se somam e complementam às letras críticas ao contexto geopolítico contemporâneo. Atualmente a In Venus é composta por Cint Murphy (voz e sintetizador), Duda Jiu (bateria), Rodrigo Lima (guitarra) e Patricia Saltara (baixo).
Em 2016, lançou o single “Mother Nature”. Em 2017 divulgou seu segundo single, “Youth Generation”, e no mesmo ano estreou o debut álbum Ruína, produzido por Lucas Lippaus e gravado no Estúdio Aurora, em São Paulo. Em 2018 lançou o EP Refluxo, produzido por Desirée Marantes e gravado no T-Recs, estúdio do selo Hérnia de Discos, com direito a show de lançamento no teatro do Sesc Belenzinho.
Em 2019 a banda se afastou dos palcos para entrar em processo de composição de um novo álbum, fazendo poucos shows dos quais se destacam apresentações no CCJ (Centro Cultural da Juventude) e festival Minas No Front, do Sesc Pompéia. Em 2020, a banda apresentou o primeiro single intitulado “Ansiedade”.
Em 2021 lança o álbum “Sintoma”, produzido por Mari Crestani, captado por Helena Duarte no estúdio Mestre Felino, mixado por Malka Julieta e masterizado por Luis Tissot.