Um dos discos mais interessantes da carreira de Hiram Bullock, Hiram Bullock Plays The Music Of Jimi Hendrix, presta homenagem com Big Band.
Um dos expoentes norte americanos quando o assunto é Jazz, Funk, Blues e outras cozinhas que podem ser tocadas numa Fender Stratocaster, Hiram Bullock é um nome que merecia mais projeção quando o assunto é guitarra.
Com um approach dos mais versáteis – característica que o permitiu trabalhar ao lado de nomes como Bootsy Collins, Stevie Ray Vaughan, Miles Davis, Jaco Pastorius e Marcus Miller – sem perder o rebolado – o músico nascido em Osaka (onde seu pai servia o exército na época), mas radicado nos Estados Unidos (na cidade de Baltimore), foi dono de um estilo único.
Mais do que Blues, Funk ou Jazz, Hiram tinha sentimento em sua guitarra. Tocava fácil, fácil até demais alguns diriam… Não tinha tempo ruim, era só plugar o instrumento que a Fender ficava a mercê.
Com ampla percepção musical e compreensão sobre dinâmica, Hiram foi parar na guitarra só depois de tocar piano, baixo e saxofone, quando já tinha 16 anos de idade.
Falecido em 2008, aos 52 anos, em função de um câncer de gargante, o prolífico guitarrista deixou uma sólida discografia solo (com 16 registros), além de 3 discos ao lado de Carla Bley, mais 3 com a Roberta Flack, vários lives ao lado de Jaco Pastorius, uma mão cheia de trampos com o Gil Evans… Vou parar por aqui, caso contrário não vai ter resenha.
Só que dentre essas ótimas colaborações e projetos autorais, existe um CD em particular que é de longe o menos badalado de sua discografia, porém um dos mais surpreendentes, falo sobre “Hiram Bullock Plays The Music Of Jimi Hendrix“.
Line Up:
Billy Cobham (bateria)
Hiram Bullock (guitarra/vocal)
Christopher Dell (vibrafone)
Stefan Rademacher (baixo)
Line Up WRD Big Band Koln:
Heiner Wiberny (saxofone tenor)
Matthias Erlewein (saxofone alto)
Oliver Peters (saxofone tenor)
Jorg Kaufmann (saxofone barítono)
Andy Haderer (trompete)
Rob Bruynen (trompete)
Rick Kiefer (trompete)
Klaus Osterlog (trompete)
John Marshall (trompete)
Ludwig Nuss (trombone)
Dave Horler (trombone)
Bernt Laukamp (trombone)
Mattis Cederberg (trombone)
Frank Chastenier (teclados)
Track List:
“Crosstown Traffic/Little Miss Lover”
“Red House”
“Foxy Lady”
“Little Wing”
“Voodoo Child”
“Gypsy Eyes”
“Manic Depression”
Hiram Bullock – “Hiram Bullock Plays The Music Of Jimi Hendrix”
Lançado pelo selo JazzThing em 2008, esse ao vivo ainda conta com a presença de Billy Cobham (bateria) e da WDR Big Band Koln, uma das mais tradicionais Big Bands, não só da Alemanha, mas da europa como um todo.
É interessante perceber que esse show foi gravado no dia 27 de maio de 2004 – diretamente da universidade de Colônia, zona oeste da Alemanha – mas só foi mixado quase 4 anos depois, já em agosto de 2008, no próprio estúdio que a Big Band está acostumada a frequentar, o WRD Studio 4. O trampo ficou sob a tutela de Reinhold Nickel e, apesar da demora, o resultado final é digno da grandeza inicial da proposta.
Esse registro é singular principalmente na questão dos arranjos. Hendrix era um grande fã dos instrumentos de sopro. Admirador de Rahsaan Roland Kirk, Jimi sempre prestou muita atenção na sutileza dos metais e é possível encontrar depoimentos do americano comentando sobre os impactos dessa influência no seu modus operandi de tocar.
São 14 peças só para os metais. Sobre a banda do Hiram Bullock? Bom, na bateria temos Billy Cobham. O panamenho mostra faz um acompanhamento que você não vai se esquecer em momento algum, mesmo em meio a uma parede de metais. O modo como ele ajustou as coisas na bateria para conseguir aparecer, sem roubar tanto a cena, foi muito inteligente e mostra um pouco do quilate de sua técnica.
Bullock segura o rojão nos vocais e toca sempre com propriedade, eternizando belos solos e improvisações. Outro ponto que merece destaque é o baixão do Stefan Rademacher, além da presença marcante de Christopher Dell nos vibrafones. Frank Zappa estaria particularmente orgulhoso desse último.
O maior problema desse CD mesmo é o tempo. O set não dura nem meia hora, mas vou lhe dizer, esses serão cerca dos melhores 28 minutos do seu dia. Logo na abertura já entra um medley com “Crosstown Traffic/Little Miss Lover” que se aprochega com um baixo gorduroso, meliante da pior espécie.
Com “Red House” os metais da WDR Big Band mostram como o Blues pode soar majestoso, já emendando o hit “Foxy Lady”. Essas passagens mostram a força de um arranjo de metais num compacto combo de Rock ‘N’ Roll. Enquanto isso, o órgão faz a cama e ajuda a torna a receita irresistível.
A casa já devia estar de pé depois dessa. O Rock já tinha virado Funk, os músicos seguem um arranjo cuidadosamente montado, mas o quarteto do Hiram toca solto e lidera com sensibilidade. Um exemplo disso é o belíssimo mea culpa para um dos sons símbolo da áurea Hendrixiana, a doce “Little Wing”, já com “Gypsys Eyes” virando a esquina.
Depois do encerramento, com “Manic Depression”, é quase impossível não pensar: “Am i experienced?”