O duo Hermanos Gutiérrez é um sopro de frescor sobre o clima muitas vezes áridos da indústria fonográfica. Seu som cativa pela leveza, simplicidade e profunda sensibilidade!
Hermanos Gutiérrez: sensibilidade e inovação musical
Navegar pelas águas tumultuadas do cenário musical contemporâneo se assemelha a explorar um vasto oceano de sons e estilos, frequentemente repleto de modismos passageiros.
Uma avalanche constante de produções e lançamentos impulsionados pelos incansáveis algoritmos das redes sociais e das plataformas de streaming tornam o cenário musical cada vez mais homogêneo, obscurecendo a busca por artistas verdadeiramente inovadores e ousados.
No entanto, mesmo os poderosos algoritmos esbarram na força do acaso. Este surge tal qual um farol, e mesmo oferecendo uma luz esmaecida, consegue fornecer uma rota segura. No meu caso essa luz tênue surgi ao assistir uma entrevista do Lucio Maia, guitarrista da Nação Zumbi, num desses mesa cast voltado para a cena musical.
Lúcio descreveu de forma tão apaixonada uma banda, que acabou despertando em mim a vontade de ouvi-la. Tratava-se do duo Hermanos Gutiérrez, composta pelos irmãos Esteban e Alejandro Gutiérrez.
Podemos dizer sem medo, que possuem uma carreira sólida, afinal lançaram seis álbuns entre 2017 e 2022. Os caras também tem uma presença de palco cativante gerando uma atmosfera intimista ao longo de suas apresentações.
Esteban e Alejandro costuram elementos conjugados de pop, folk e música latina de uma forma que é, ao mesmo tempo, única e universal. Sua música possui certa melancolia, própria de antepassados do blues, ainda em sua terra natal, o continente africano, tal qual as melodias dedilhadas por Ali Farka Touré.
Podemos referenciar sua sonoridade a nomes como Ry Cooder e as trilhas de Ennio Morricone para os faroestes clássicos do diretor italiano Sérgio Leone. Por falar em Leone, o último álbum dos irmãos se inspira numa das obras primas do mestre italiano, “The Good, the Bad and The Ugly” (no Brasil, “Três Homens em Conflito” )lançado em 1968.
Parceria decisiva na produção do último álbum do duo
O nome do álbum é El Bueno e El Malo e foi lançado em 2022. O álbum foi produzido na lendária cidade de Nashville, nos Estados Unidos, por Dan Auerbach, o talentosíssimo líder do grupo The Black Keys.
Aliás, Auerbach, foi completamente seduzido pela criatividade e profundidade da música dos Gutiérrez. Tanto que levou a dupla para sua gravadora, a celebrada Easy Eye Sound. Acabou indo além e participou de uma faixa, convenientemente nomeada de “Tres Hermanos”. Certamente a presença de Auerbach na produção do álbum foi decisiva pra o resultado que podemos ouvir em El Bueno e El Malo.
Remando contra a maré, mas sempre avançando
Em um mercado muitas vezes saturado de fórmulas previsíveis, eles estão entre aqueles e aquelas artistas, cujas composições possuem certo frescor e despertam emoções nos ouvintes.
Merece destaque o fato de fazerem um som exclusivamente instrumental. Ambos os irmãos são instrumentistas talentosos e seguros. Demonstram isso tanto nos registros de estúdio quanto em suas performances ao vivo.
A cumplicidade entre as guitarras, desenvolvida ao longo de cada faixa através de “diálogos” envolventes, captura o ouvinte pelas emoções despertadas a partir do contato com os sons produzidos.
O universo da música pop é dominado pela regra segundo a qual música pra fazer sucesso deve ser cantada. Tal compreensão de música está bem sedimentada no imaginário popular. Isso ocorre por meio da intervenção dos investidores, empresários desse segmento de mercado, preocupados em ter um produto rentável.
No entanto, o duo Hermanos Gutierrez, consegue trilhar, com algum sucesso, um caminho menos percorrido, cheio de obstáculos, oferecendo uma música exclusivamente instrumental. Conseguiram se inserir nessa esfera comercial, apesar de fazerem um som incomum para o cenário da música pop.
Esteban e Alejandro Gutierrez são, sem dúvida, instrumentistas talentosos e seguros em sua jornada musical. Seus registros de estúdio são uma demon
stração clara de sua destreza técnica e da paixão que possuem por seus instrumentos.
Cada nota, cada acorde é executado com maestria, transmitindo uma profundidade de emoção que transcende as palavras. Suas guitarras, verdadeiras extensões de suas almas musicais, ressoam com uma clareza e precisão notáveis.
O que diferencia os Hermanos Gutierrez de outros artistas instrumentais é a maneira de conseguir capturar o ouvir pelas emoções despertadas através do contato com os sons que produzem. Cada canção conta uma história, comunica sentimentos profundos e cria um ambiente que transcende barreiras linguísticas. É uma prova do poder da música como uma forma de comunicação universal.
Num contexto pop saturado de artistas cujas músicas, muitas vezes buscam sucesso rápido com letras pegajosas, o duo Hermanos Gutierrez se destaca como referência de originalidade e habilidade musical.
Seu compromisso com a expressão instrumental é uma recompensa para os apreciadores de música que buscam algo mais profundo e significativo em sua experiência musical. Não podemos deixar de confiar e celebrar o talento e a paixão destes irmãos que nos brindam com um som autêntico.
Hermanos Gutiérrez pela primeira vez no Brasil
Após conquistarem plateias, apresentando-se em alguns dos maiores festivais do planeta, além de aparecerem em programas de TV e rádio na Europa e Estados Unidos, os caras finalmente desembarcam no Brasil. Com produção da Maraty, Esteban e Alejandro estão preparados para incendiar o palco do Cine Joia, em São Paulo, no dia 22 de novembro.
Será uma noite histórica de celebrações da música latino-americana, que contará ainda com uma apresentação especial do mestre Renato Teixeira, autor de clássicos da música brasileira como “Romaria”, “Frete”, “Amanheceu, Peguei a Viola” e “Tocando em Frente”, entre outros hinos sonoros que nos emocionam.
Quem colar no Cine Joia no próximo dia 22 vai presenciar uma noite única, de encontros musicais ímpares e conexões emocionais raras de se experimentar num show. A música dos Hermanos Gutiérrez é a síntese da música popular contemporânea, resultado de migrações humanas rumo ao lado norte do equador, resultando em fusões culturais ricas e únicas.
Semelhante aos Hermnos Gutiérrez no Oganpazan:
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