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Debulhando o groove do Guinebissau

Projeto que começou em 2019 – no porão da avó do baterista – o som do duo Guinebissau impressiona pela versatilidade em prol do groove.

Abraxas Records

Lançado no dia 12 novembro de 2021 via Abraxas Records – com exclusividade via Oganpazan o EP “Talvez pode ser quem sabe”, aparece com 5 faixas e vai do Country ao Rock com a mesma tranquilidade que a Dona Cida (avó do baterista Douglas Labigalini), vai buscar um copo de água na cozinha.

Duo Guinebissau

Antes de partir para o tira teima da resenha, é importante pontuar pontos bastante estratégicas à respeito dessa união criativa. O projeto que é formado por Thiago Franzim (guitarra/voz) e Douglas Labigalini (bateria/percussão/voz), possui outras ramificações muito interessantes no underground nacional, mais especificamente em Londrina, cidade natal da dupla.

Vale lembrar que juntos, os 2 meliantes ainda fazem um som com o trio de Stoner Red Mess, além de debochar uma psicodelia progressiva e Funkeada com o quinteto Aminoácido. Isso é relevante de ser mencionado, pois de alguma forma todas essas influências ecoam nesse novo projeto, mas com uma abordagem nova, tanto em termos de configuração, quanto dinâmica e estética grooveira.

Foto: @manugarcia_

Com um nome sugestivo e que parece ter surgido numa epifania regada à Tim Maia em sua fase racional, o som do Guinebissau é bastante versátil e foge da cozinha quadrada e tradicional de duos de guitarra e bateria.

Guinebissau – não sei pode ser quem sabe

A abertura do disco já deixa isso claro. “Talvez pode ser quem sabe” aparece com um tema com a bateria colada na guitarra. Parece que um helicóptero pousou na sua cara. Com um quê de John Scofield, o grupo já embala o ouvinte no swing e quando o Funk começa a engrossar na acidez, a cozinha já vira a chave e mergulha no fuzz.

O interessante é justamente isso, essa dinâmica de bruscas mudanças, algo que passa longe de alienar o ouvinte e apenas engrandece a experiência. Entre um groove com raízes country e uma verdadeira pancadaria franciscana (que as crianças hoje em dia chamam de Stoner), o entrosamento e a química musical entre o senhor Thiago e o seu comparsa, o reverendo Dr. Douglas, precisa ser enaltecida. Supera até gambiarra.

Arte: @gabe_lemes

Track List:
“Talvez pode ser quem sabe”
“Eu sei que você sabe”
“O que sabe, não fala”
“Nada”
“Cambalacho (bonus track)”

O Douglas dá uma aula de condução e os detalhes percussivos na faixa de abertura fazem você bater o pézinho sem piedade. O Thiago mostra muito feeling na guitarra. O interessante é como ele aplica a técnica de tocar guitarra com os dedos (própria do Country), para tocar diversos estilos e tunar o swing na distorção..

“Eu sei que você sabe” aparece com a mesma abordagem, contemplando um violão na chapante levada de vocais, todos feitos pela dupla. Em meio à toques psicodélicos, Jazzísticos e Zappeanos, o trabalho se desenrola com uma abordagem que realmente deixa o ouvinte à mercê dos acontecimentos.

Foto: @manugarcia_

Isso é bárbaro, pois a proposta musical da dupla parece ser essa mesmo, surpreender o ouvinte, mas sem perder a coesão, pensando na identidade sonora. Não é muito barulho por nada. Diria que na verdade é um barulho fino, sem pirotecnia, é groove, peso e papo reto, com muito espaço para sarcasmo.

São muitas referências. Em “O que sabe, não fala”, Thiago e Douglas aparecem num etílico Blues. A variação de timbragens da guitarra, violão e bateria também é um deleite à parte. Fica claro como a dupla sabe tirar som dos instrumentos e utiliza dessa sensibilidade para variar o repertório.

O play é rápido. São pouco mais de 15 minutos de interação, mas a proposta surge com um frescor genuíno e que realmente faz o ouvinte degustar o som de cabo à rabo. Nem dá pra acreditar que esse trampo foi gravado num porão improvisado de estúdio (sem ventilador).

Foi tudo ao melhor estilo faça vocês mesmo. Microfone emprestado, bateria com remendo, guitarra zunindo e o resultado sai dos falantes com uma urgência notória. Foram 3 dias de gravação e a intensidade está na essência de cada take.

Pra fechar o set, mais vocais viajandões em “Nada” e tem até uma bônus track com “Cambalacho”. Fritaria das mais finas. O trampo de mix e master do Thiago Franzim ficou sinistro. Ele teve mão pra variar timbres sem perder a mão. A faixa bônus resume bem o resultado desse encontro.

Parece um coquetel de telecaster com uma colhe de chá de fuzz e um disco do Willie Nelson.

Pimba. Tá pronto o sorvetinho.  Aperte play no EP e saque o clipe do single “Talvez pode ser quem sabe“, com direção de Gabriel Lemes e styling de Manuela Garcia.

Guinebissau, Moçambique e Angola.

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