Groove na Batata: o melhor palco é a rua

O que é o groove? Eis aqui uma indagação difícil, profunda e que não possui apenas uma resposta, é quase um cosplay de pergunta mal formulada do verstibular da FUVEST. O feeling é uma aresta que está envolvida com o groove, sem sentimento não dá pra afirmar que o som carrega aquele quê diferenciado.

Fotos: Roberta Gomes

Um detalhe abstrato, sei disso, mas é justamente essa fagulha que faz com que uma pessoa escute um som e não troque por outro. É um requinte malandro, experiente, rapaz, o groove é indescritível, mas isso serve apenas pra quem produz uma jam quadradona.

O dicionário nos diz: o Groove (é necessário escrever sempre com letra maiúscula), é um termo da língua inglesa que quer dizer ritmo. Se você preferir a tradução literal, o termo correto é sulco, mas a música não é uma arte que possa ser explicada por meio de exemplares do Houaiss, Michaelis, Aurélio e seus compadres da lingua culta.

Fotos: Roberta Gomes

Não, jamé! A música, o groove, o slap, meu amigo, esses são pontos que, por mais teóricos que pareçam, envolvem apenas um elemento: a química, Explicar o que é o groove é humanamente impossível, George Clinton, o Ícaro que chegou mais perto dos raios sonoros, está ai pra provar, sequela é pouco para o que P-Funk personificado se ternou.

Por isso, não enlouqueça, apenas tente entender que o Groove é o que lhe faz apreciar algo. Se amanhã é feriado, hoje é dia de groovear. Se na sexta-feira chegou o momenta daquela cerva mais trincanda que a economia do Brasil, pode crer que vai ter swing no seu copo.

O Groove é fascinante, sofisticado e um temperamental bon vivant. É um assunto que nos leva à devaneios e no fim das contas torna um algo intangível, numa tese de doutorado, pois até os caçadores de mitos concordam: não sabemos o que é o Groove, onde ele mora, ou do que se alimenta, (veremos no Globo Repórter), mas temos certeza que esse empecilho sinestésico foi sentido no último dia 17 de outubro, data estelar para a quinta edição do Groove na Batata. Mais uma realização do coletivo Corvo Lunático.

Fotos: Roberta Gomes

É na rua que o som assume uma de suas formas mais livres. Foi com interferências meteorológicas que o evento entrou em cena meio vacilante. O frio ameaçava uma chuva, as pessoas foram chegando e mesmo nesse nesse clima de vai/não vai, o Mescalines se jogou na jam como sempre e o reverendo Mariô Onofre já esquentou o brinquedo preferido do Buddy Rich, enquanto Jack Rubens se alternava entre um handmade com pinta de Seasick Steve e uma Harmony Rock ’65 que estava venenosíssima!

Fotos: Roberta Gomes

O set não se extendeu por muito tempo devido às ameaças de precipitação, mas não teve jeito, não tinha sereno, geada ou garoa que fizesse a dupla desperdiçar toda essa troca de energias com o público. Tocar na rua é isso também, ou melhor, é exatamente isso, utilizar os problemas como moeda de troca para uma jam, experimentar e fazer aquele bom e velho barulho que o Rock ‘N’ Roll tanto nos ensinou a amar. Abençoado seja o Groove.

Fotos: Roberta Gomes

Depois, seguindo a grade horária, era o momento de apreciar mais uma dose de Groove. Só que dessa vez o tempero era mais ácido, tão alcalino que chegou até com outro nome: Groovy, mas não qualquer um, esse era de Bombay.

Um som que carrega aquela alcunha Hammond, com Jimmy Pappon, o Willie Wonka que faz o baixo como Ray Manzarek, adicionando doses cavalares de floreios no marfim. A bateria não perdia o compasso, improvisou na base de ”Thorazine Shuffle” e fechou a conta com solos no sitar que surgiam com a calma de um riff que transcende numa Gibson.

Fotos: Roberta Gomes

Foi com requintes orientais e ocidentais que o trio formado por Jimmy Pappon nas teclas, Leonardo Nascimento na batera e Rodrigo Bourganos no sitar, superou alguns problemas técnicos e provou que na rua, o buraco é mais embaixo. Foi alternando temas autorais como o Funk de ”Tala Motown” e covers inspiradíssimos, como a versão do trio para o Wholla Lotta Love”, que o Bombay Groovy saiu sob uma chuva de palmas e deixou o Groove à ponto de explodir, mas ai o Chaiss na Mala voltou a ajustar o termostato do Free Jazz e a vibe ficou Cool novamente.

Fotos: Roberta Gomes
Nessa noite o Chaiss quinteto chegou no Largo da Batata com outra formação. Foi como quarteto, sem o beat trompético de Reinaldo Soares e com um inspirado Richard Fermino no sax (substituindo o camisa 9 Vinicius Chagas), que o Jazz correu solto, foi chamando as pessoas que estavam circulando pelas redondezas e, no fim da noite, fez com que a trilha Jazzística de nosso cotidiano fosse iluminando os caminhos mais boêmios de São Paulo.
Fotos: Roberta Gomes
Teve ”Free Beise” pra todo mundo e o entrosamento estava tinindo. São anos tocando por aí, na sombra e água fresca das vielas de sampa, por isso, o Chaiss está sempre preparado. Eder Hendrix solava como um Rei vestido com um terno risca de Fusion, Fábio Albuquerque acompanhava a fritação com vigor, mas no fim o improviso foi se elevando e quando percebemos o grave do Rob Ashtoffen estava solando e se entrelaçando no sax.
Temas de cinco minutos viraram suites e o bis do quarteto foi um dos mais longos que já presenciei, mas nem tinha como reclamar, os timbres estavam cristalinos, o Chaiss estava em seu habitat natural e a platéria cumpriu seu papel, dançou e tomou uma breja. Que noite!

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