No apoteótico disco Innocence & Decadence (2015) o quarteto sueco Graveyard mostra mais uma vez que rock’n roll não é para amadores!
O grande lance em ouvir novas bandas é sentir o apetite com que certos combos entram no estúdio para registrar material inédito. A música possui um caráter de urgência gigantesco e é exatamente essa fagulha pulsante que nos faz seguir novas instituições, não só para consumir tudo que sai, mas sim para apreciar cada detalhe.
Hoje no cenário das quebradeiras, o groove segue bastante globalizado. Temos muita coisa no Brasil, toneladas na Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra e na Suécia. Terrinha abençoada que pelo menos uma vez por mês, vaza uma pepita que enlouquece os estômagos ávidos por barulho e psicodelia.
Só que dentro de toda essa gama musical, levando em consideração todos os grupos do alto escalão que se firmaram no mainstream com nomes estampados nos maiores labels do mundo, acredito que o Graveyard esteja um passo à frente dos demais.
Innocence & Decadence, o quarto disco de estúdio da banda (lançado no dia 25 de setembro de 2015), supera problemas no vínculo sonoro-humano e surge como um grito atormentado por liberdade. Estado de autonomia que quando atingido, escapa pela tangente e se torna mais ensandecido do que uma perseguição policial. A cada disco, quando você acha que eles surgirão mais estáveis e acomodados, o quarteto mostra que o gás é justamente esse: a desordem.
A química do disco segue a mesma de sempre, parece que plantaram um morteiro na sua orelha. O estrago segue veloz, o disco continua com a maldição de passar rápido demais, mas o replay está aí pra isso, afinal de contas esses 43 minutos se tornarão horas, dias e meses quando sua orelha ouvir os primeiro segundos de Magnetic Shunk.
É mais forte que glicose. Mais intenso que um tirar uma tatuagem com um ralador de queijo e tão poderoso quanto uma ressaca de Jack Daniels numa segunda-feira. A mixagem desse disco beira o ridículo. Em vários momentos a sensação que temos quando ouvimos os berros secos de Nilsson, é que ele está a 5 metros de você, em algum bar fétido e carcomido, emulando sessões de exorcismo em sua melhor gravação vocal.
Dai pra frente esquece, a banda embala o groove e o que me resta são apenas estilhaços descritivos. O single Apple & The Tree surge mais suave, só que está longe de ser leve. A dupla de guitarras segue sábia na escolha de riffs, demonstra técnica sem exageros virtuosos, volta com backing vocal’s que parecem um baque espírita e a cozinha baixo-bateria vive um de seus melhores momentos.
Depois que Rikard Edlund teve problemas para parar com os pinos e bolar um fino, a solução foi chegar no rehab. O Graveyard demonstrou apoio, ele até chegou a retornar para a banda, mas saiu (sem tretas), para tentar buscar novos grooves fora da casa do Pedrinho. Agora, com Truls Morck na cozinha, o som ganha novos contornos ardilosos, camadas de grave grandiosas e um feeling que engrandece temas emocionantes, como Exit 97.
Esqueça esse mimimi safado de Classic Rock, isso aqui é um retrato da modernidade. Tente seguir o baile em Never Theirs To Sell. Pequeno gafanhoto, Joakim Nisson talvez seja o vocal mais casca grossa da cena atual. A banda está no auge, a bateria de Axel Sjoberg impressiona pelo dinamismo e quando chegamos na hora da jam, o deus nos acuda conta até com revezamento de licks graças à Jonathan Ramm.
O disco é curto, mas as composições, os tempos, é tudo muito bem feito. Entre pauladas secas e amostras absurdas de feeling e vibração, os suécos seguem surpreendendo os ouvintes com passagens absurdas e que evidenciam grande tato, como no hit Too Much Is Not Enough e seu lindíssimo clipe. O solinho do miolo é apelação demais.
Blues-Rock finíssimo. A Nuclear Blast segue com o ouvido apurado para captar as melhores essências garageiras e garantir maior exposição, para grooves que é desnecessário dizer, precisam chegar ao maior número de pessoas possíveis e mudar esse cenário careta que está massificado por aí.
Não sei se esse disco é o melhor da história da banda, tampouco me importo com isso, mas é louvável ver como eles caminham (sem essa palhaçada de ”amadurecimento”), para conquistar gamas absurdas de público com mais um disco que será destaque no fim do ano.
Viciante, cativante, grosseiro e caótico, esse é o Graveyard de Innocence & Decadence. O mesmo grupo de sempre, teoricamente, mas que vivendo uma nova fase, ressurge louco pra se jogar na platéia. Mostrando velocidade de síncope em From A Hole In The Wall, troca de riffs por watt em Cause & Defect, excesso de cafeína no sangue com Hard Headed e um feeling blueseiro contundente ao som de Far Too Close.
Se você não sabe o que ouvir, escute Graveyard. Se você manja o que vai aparecer agora na playlist, pause e coloque esse disco, às vezes nós pensamos demais e perdemos grandes oportunidades. Se chover coloque Innocence & Decadence, se tiver sol, repita o processo e responda em sueco para todo e qualquer problema ou solução. Não existe ponto fraco nesse trabalho, eles ganham a galera até na hora de fazer uma balada. Stay For A Song meu caro, acredite, você não vai se arrepender.
Por Guilherme Espir – frita neurônios no site Macrocefalia Musical.
https://www.youtube.com/watch?v=0X5mA_ny_T0