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CD's, Grateful Dead

Grateful Dead – Blues For Allah

O dia em que me sentar para escrever com alguma ideia pré determinada, acredito que será o último dia de vida do Macrocefalia Musical. É óbvio que existem textos que precisam sair, mas o lance nesse recinto sempre foi a ideia que pinta livre, tal qual um improviso do Grateful Dead. Se habitasse minha própria utopia todas minhas ideias iriam sair tal qual um solo do mestre Garcia: na hora e com feeling de estúdio.

Pedir passagem e cair no papel sem pressa, contornando as letras, fazendo a pontuação do groove e concluindo o vinil na resenha de um dos maiores baluartes da improvisação. Toda vez que me proponho a digitar lembro do Grateful Dead, pois assim como a fluência do instrumental dos caras, espero que minhas palavras ajudem mentes a viajar melhor no som ou que usem esse GPS sem rota para encontrar novas Alembics por aí, como a que o próprio Jerry usou para fazer o chorinho no ”Blues For Allah”, um dos maiores trabalhos do empório da jam, datando takes de 1975, logo ali.

Line Up:
Jerry Garcia (guitarra/vocal)
Donna Jean Godchaux (vocal)
Phil Lesh (baixo)
Keith Godchaux (teclado/vocal)
Bob Weir (vocal/guitarra/violão)
Mickey Hart (bateria)
Bill Kreutzmann (bateria)
Steven Schuster (flauta)

Track List :
”Help On The Way/Slipknot!”
”Franklin’s Tower”
”King Salomon’s Barbles”
”The Music Never Stopped”
”Crazy Fingers”
”Sage & Spirit”
”Blues For Allah”

A fase setentona de todas as bandas clássicas é sempre o apogeu da qualidade. No caso do Dead acredito que exista um grande equilíbrio no contexto geral, algo que se inicia nesse trabalho, logo após o tilintar criativo de ”Help On The Way/Slipknot!”. Som que desde o primeiro segundo já adentra o recinto com tudo, mas sem levantar suspeita, bancando a serenidade de vocal aveludado.
Levantando a tese filosófica da banda como se o tempo fosse um mero detalhe e mostrando toda a delicadeza Hippie de ”Franklin’s Tower”. Teia sonora que apesar de cessar relativamente cedo (lá pelos 4 minutos e pouco), não deixa de perder o brilho, se bem que essa ai, ao vivo, chegava a uns 15 minutos fácil! E a instrumental ”King Salomon’s Barbles” chega com essa ideia, chamando o Phil Lesh no swing e apostando das baquetas da dupla Mickey Hart e Bill Kreutzmann, nomes que arquitetam uma cama de teclados infalível para Keith Godchaux administrar a viagem. 
Depois de uma viagem deste nível é bom dar uma acalmada com algo mais real e acredito que ”The Music Never Stopped” (o single deste disco), chegue pra colocar sua cabeça no lugar. E pra isso Bob Weir assume os vocais, um mero detalhe para Donna Jean Godchaux, que voz! Bob tem lá seus créditos mas Donna manda bem demais e uma vez que o Jerry abre a caixa mágica, mais um solo finaliza os corpos celestes que rodeiam a atmosfera dessa trip criativa.
Fermentando momento lindos, como ”Crazy Fingers” a minha favorita deste disco… O reggae se faz presente por osmose nessa pegada! A voz de Garcia é um convite à morte cerebral, ele nem solou ainda mas só o ambiente já faz você sumir deste plano, a mística é impressionante e o tom leva sua mente no banho maria… Bem que tudo poderia ir pelos ares, mas o grande lance desses caras é ganhar a galera sem ter que mudar a timbragem.
Só que as vezes a calmaria deixa claro que é possível alucinar sem ter que mandar o vizinho abaixar o groove.  Certo sons surgem como um desafio a sua integridade mental e ”Sage & Spirit” é um deles. A flauta convidada de Steven Schuster faz você se perder de tal maneira que chega um momento que ninguém sabe diferenciar o violão da flauta, é uma viagem deliciosa, o único problema é se achar depois…

E se você ainda não se perdeu do grupo, agora é a hora, chegou a vez da saideira (e também faixa título) ”Blues For Allah”. Mais de 12 minutos de crueldade. Parece até ao vivo, esse é o Grateful Dead que eu conheço! Viajar é preciso e aqui é a moda psicodélico, faça bom proveito desse discão e dessa homenagem de Robert Hunter (responsável pela letra desse som).

Criador de notas que em compasso sinuoso, se fundem para homenagear Faisal, o Rei da Arábia Saudita, monarca que segundo Hunter, era fã do Grateful Dead, mas que em virtude de seu falecimento (Faisal foi morto por seu sobrinho Faisal Bin Musaid), não pode mascar uma bala de haxixe ao som desse belo exemplar, por isso o título ”Blues For Allah”. Grande Grateful Dead!

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