Grandes Singles no Rap Nacional Junho 2018

Grandes Singles no Rap Nacional Junho 2018, é uma copilação com alguns excelentes trabalhos, lançados em todo o Brasil, do Oiapoque ao Chui!

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O rap nacional é um termo vazio de substância, afinal na maioria das vezes é utilizado tendo em vista um certo numero de artistas eleitos por público e critica, como aqueles portadores de alcance sobre o vasto território brasileiro. Ou seja, onde se ler rap nacional é preciso entender, aqueles que chegam por meios e modos distintos ao grande público.

Após o acontecimento que foi a música Sulicídio,  muitos veículos correram pra noticiar de modo digamos, mais abrangente, outras expressões regionais do rap brasileiro. Mas agora que a poeira já está assentada, não existe sinal de fortalecimento dos mercados locais, voltando-se estes assim a receberem os “artistas nacionais” do rap, em detrimento das expressões locais. 

Se é bem verdade que o artista cria o seu público, é também verdade, que para isso, ele o artista, precisa de visibilidade. Mas o fato, aqui inexorável é que o público atual do rap é formado por matérias pagas, impulsionamentos, reacts e o mais do mesmo proposto pelos algoritmos dos streamings. Poderia ser uma geração muito mais informada do que foram as gerações anteriores do rap brasileiro, no entanto os formadores de opinião em geral ou são proselitistas pagos, ou se contentam com o repost de releases produzidos pelos assessores dos artistas.

Pessoas comentam nas redes sociais, sem nenhuma desfaçatez que rádios cobram três mil reais para vincular uma música em sua programação, ou que os reacts são pagos, mas só porque o “analista” curtiu o som. E é sabido, ou deveria se imaginar que uma cena musical é em geral feita, pelo quarteto, artistas, mídia, produtores e público. 

São poucos os sites, analistas e canais no youtube que se debruçam para tentar produzir uma visão de conjunto sobre produções que fujam do eixo-rio São Paulo, ou quando o fazem são alguns poucos eleitos, talvez eleitos pela grana? Num jogo onde as regras não são claras, os motivos para desconfiar dos critérios de seleção precisam estar o tempo inteiro em suspensão, ou colocados veementemente em cheque.

Selecionamos aqui alguns trabalhos excelentes e que não perdem em nada para grande parte do que está no mainstream, muitas vezes apresentando a mesma qualidade e produção técnica de nomes estabelecidos. Tentamos fazer um pequeno apanhado do grosso da produção de norte a sul do país.

Selecionamos apenas trabalhos lançados em áudio visual, mas essa seleção poderia ter obedecido qualquer outra regra de formatos, EP’s, discos, mixtapes, singles e teríamos bastante material para noticiar. É essa abundância de produções, que trazem em seu bojo, locais, experiências, sotaques e musicalidades diversas do comum que nos interessa descobrir.  

Segunda parte de um projeto que começou no ano passado com o lançamento de Homens e Deuses parte I. Cachalote e Bruna BG são um excelente exemplo de uma cena que tem se fortalecido e não cansa de demonstrar isso em exemplos claros. O norte do país sempre tão relegado dentro do cenário cultural nacional de modo geral, segue sendo produtor de expressões de muita qualidade. Nesse caso, Belém- PA é o foco aqui, com uma cena de rap forte e que já começa a construir alguma visibilidade fora das suas fronteiras.

Bruna BG é certamente uma revelação, com apenas um ano de produções lançadas ela já demonstra muita versatilidade, tanto canta quanto rima com bastante qualidade. Tudo isso fruto de sua caminhada na música, pois já atua desde 2007 em gêneros musicais distintos como reggae, rock, soul e samba. Versatilidade conquistada, ela escolheu o rap como expressão musical primordial para a sua arte.

O grupo Cachalote é formado por Alysson Leite e  Dennys Costa, e desde de 2015 seguem agitando a cena de Belém, já tendo aberto shows de nomes importantes do “rap nacional”. Da união entre o mano Dennys e Bruna BG, surge o projeto Homens e Deuses, que agora tem sua segunda parte lançada. Com um projeto de áudio visual bem executado e que ficou na responsa de Renan Chady, num beat trap do Erick Di e mix e master do Malaria Beats (Nois Por Nois Rec.). Na rimas, o papo é de progresso e vitória, auto fortalecimento da cena e da cultura local, auto reconhecimento de seus próprios talentos e busca pela valorização profissional.

Olhem pra a cena paraense de rap, porque se procura mc’s com muita qualidade, discursos afiados, boas produções, a rapa lá tá correndo bonito. 

Em uma incursão pelo Nordeste, mas especificamente no pequeno estado de Sergipe, da minha querida capital Aracaju, chegamos no mano Maeed e aqui também, na segunda parte de um projeto. El Dorado é uma ideia transformada em música, lugar procurado desde a época da colonização das Américas como promessa de riqueza e esplendor é aqui transubstanciado através de outros “valores”.

Se o primeiro El Dorado, procurado pelos exploradores europeus, causou imenso derramamento de sangue e a busca era apenas por ouro, outra possibilidade real é aqui transformada em objeto da música. Em sua parte 1 o projeto veio com a participação do mano Robson Lira (Ato Libertário), ali já ficava definida a cara musical do projeto: o dialogo entre o rap e o reggae. Agora em sua segunda parte, o dialogo se estabelece entre o rap e o ragga, com a participação do mano Cuca (ex-OCB).

Tendo saído recentemente do selo Alive Records, Maeed escolheu essa canção como uma forma de abençoar com boas vibrações essa nova caminhada, agora mais independente. Num beat que foi pego na internet e retrabalhado pelo Cuca, que é multi instrumentista e produtor de Trance, com o seu projeto Ziul Oiram, os caras destilam boas vibrações em ritmo de harmonia e alegria.

A música ressalta “valores” como simplicidade, harmonia com a natureza, honestidade e a malandragem para se manter de pé na luta, nos corres que nos fazem conquistar as condições para uma vida digna. Com um direção ágil da Caroline Ribeiro, o videoclipe segue a linha do anterior e a mesma concepção estética, filmado em um pico onde a natureza exuberante dialoga com a letra, que critica a pressa e a corrida de ratos atual no mundo contemporâneo.

Se inscrevam no canal do mano Maeed pois ele nos contou que muita coisa está para ser lançada.

Se você chegou até aqui, deixa que nós te contemos dois segredos que já deveriam ser de domínio público: o Rap Nova Era é um dos melhores grupos brasileiros fazendo a linha gangsta rap. Esse é o primeiro, o segundo é que “Na Madruga”, faixa que acaba de receber um clipe é um hino do rap baiano. Sem surfar hypes, se preocupando com uma arte que privilegie os sofredores, os irmãos e irmãs que tão na correria diária, o trabalho do grupo está muito bem condensado nessas imagens.

Formado atualmente por Ravi, Moreno e DJ Kbça os caras estão na correria para lançar seu terceiro disco, após a mixtape Nem Tente Contar Com a Sorte (2010/2011) e do excelente disco Brutality (2015). Nessa trajetória os manos estão investindo pesado na produção de audiovisuais de primeiríssima qualidade, como o clipe de TRETA feat. Dark Mc, lançado no fim do ano passado.

São 8 anos de grupo invadindo os guetos da Bahia à São Paulo e a Fundão, com respeito e muita integridade artística, o Rap Nova Era, traz nesse clipe do hino “Na Madruga” uma tradução de suas vivências na rua. Com uma direção firme e fotografia em preto e branco por conta do Icaro Luan, o som embala os rolês pelas vielas nos guetos de Salvador, a estrada perdida vivida pelas madrugadas!

Ravi e Moreno, na companhia do grande Galf A.C. e do mano DJ Kbça, são captados na madruga dando a real sobre as leis que governam o nosso caos urbano, a máquina de captura que ceifa vidas em todo território nacional. Essa música ainda não é um dos singles do disco, mas outras reais trilhas sonoras do gueto estão na programação do próximo disco dos caras, o esperado Renovação (2018) que virá com várias participações pesadas. 

Dia 30/06 (amanhã), o Rap Nova Era vai soltar o clipe da faixa “Vai Cair”, então faz o favor de se inscrever no canal dos caras no youtube, para receber essa tijolada que já embala os bate cabeças reais em Salcity.

Aqui um exemplo que mesmo dentro do eixo, alguns são deixados por baixo sem se responder a pergunta principal: Qual o motivo, para esses que estão diante do complexo midiático e influenciador do país não estarem sob os holofotes? Enfim, a intenção é que se pense e que se tente pensar e sentir fora da caixa. Para isso é preciso ingerir a pílula vermelha, assim como Neo o fez no filme Matrix (1999), das irmãs Wachowski, ou seja sentir e pensar a realidade com “novos” olhos, novos ouvidos, outra percepção.

Para tal, a Batalha da Matrix nos entregou a formula perfeita em sua versão rap, pois não se trata de um comentário ou analise sobre o filme, preenchido de referências politicas e filosoficas em sua primeira versão. Mas sim, de uma extensão poética protagonizada pelxs rappers SUB, Quimo, Rato, Alinega & Jafari, que desfilaram uma rajada absurda de punchlines, multisilábicas, e principalmente com uma lírica impressionante. 

Contando com uma produção caprichada e total do mano Vibox, o quinteto chega pesado como aquele mesmo bando do filme que invadia a Matrix num pique subversivo irresistível, que foi muito bem filmado e fotografado. Nesse primeiro episodio, o responsável pelo audio visual é Bruno Martorelli que se baseou nas referências da fotografia e os figurinos do filme para melhor mostrar a ideia. 

 

A cidade de Volta Redonda no interior do estado do Rio de Janeiro, tem uma cena muito forte de Rap e muitos estão moscando, sendo assim, a faixa VIVA! é uma excelente oportunidade de pegar a visão sobre essa efervescência musical, ainda pouco vista. Greggório é uma mano daqueles que caminham ao mesmo tempo que constroem um caminho para a cena, dos que evoluem e ajudam nas evoluções. 

Começando ali por volta de 2005, produzindo a Batalha da Peixaria (na garagem da mesma), fez depois parte do grupo R93 ( o grupo mais antigo em atividade no interior do Rio de Janeiro) ele começa agora sua carreira solo. Produtor de eventos também, já se contam 9 edições do O Rap É Foda, onde nomes de fora da cidade são trazidos para apresentações em Volta Redonda.

VIVA! conta com a participação da maravilhosa Natache, mulher preta de voz forte e inspiração no soul, R&B e no rap, discurso militante e beleza exuberante. Natache que é também cria das batalhas de rima, vem entre o trabalho “formal” e a faculdade, abrindo pouco a pouco seu espaço na música. A produção do beat ficou por conta dos manos do BBHT (BeatBass HighTech) que são o crème de la crème das produções locais.

O áudio visual  é fruto do belo roteiro do Greggório junto ao ponta de lança local Thiago El Niño, com direção da Monomito Filmes. Nas rimas a busca pela dignidade, pela harmônia e por uma vida não burguesa, um desafio secular para o povo preto brasileiro. A consciência de que é preciso viver o presente de modo intenso e disciplinado, para que a construção de um futuro seja concretizado, individual e coletivamente.

Uma produção bonita e daquelas que nos dão um folego a mais para continuar. Procure saber sobre a cena do Rap em Volta Redonda, e descubra nomes de ponta como os acima mencionandos, mas também Lelin, Ju Dorotea e muito mais…

Uma mulher negra, gorda, periférica e feminista encontra em seu cotidiano uma sequência inacreditável de problemas, capazes de assustar se nos abrirmos um pouco para a experiência de auscultar esse outro que em geral é nosso bem próximo. E estamos falando aqui do plano meramente cotidiano, das relações pessoais e sociais, dos perrengues econômicos, pois acrescente aí a luta por fazer seu trabalho virá, e você terá um leve deslumbre do que enfrenta a Maiara.

Respondendo pela alcunha de Perola Negra, essa mana carioca, radicada desde a adolescência no Rio Grande do Sul, se fixando na cidade de Pelotas, está no corre para mostrar seu trabalho. Defendendo pautas importantíssimas nos nossos tempos, ela o faz com uma qualidade técnica fantástica, portadora de um flow seguro, um timbre vocal certeiro e um discurso afiado.

A Perola Negra soltou um vídeo clipe de baixíssimo orçamento da música História Cruzada, mostrando que a qualidade artística e as boas ideias superam em muito a grana que é capaz de investir em mega produções. Certamente o ideal é ter essa grana para grandes produções a serviço da qualidade estética, no entanto, em quanto ela não vem, a rapper não fica estagnada. 

Lutando com a ajuda dos amigos, esse clipe todo feito de modo artesanal é fruto da colaboração do  Cassiano Teixeira Rocha, que junto com uma equipe foda, produziram essa pequena perola. Utilizando um plano fechado, trabalhando de modo exemplar com esse espaço reduzido, quase sem cortes e sobretudo explorando as possibilidades audiovisuais do close. 

Enquanto a letra desfila uma saraivada de petardos contra o racismo em suas mais diferentes esferas, a ideia presente na concepção áudio visual vai construindo um rosto poderoso, tornando música e imagem um elemento só no impacto estético. A Perola Negra, começa agora um corre pra lançar seu EP de estreia após o lançamento de duas faixas solo e um participação na cypher Poetas do Poço. Acompanhem ela nas redes sociais e se inscreva no seu canal no youtube.

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