Oganpazan
Destaque, Música, Notícias, Sem categoria

Grandes Lançamentos Rap Nordeste #2 Videoclipes!

Grandes lançamentos Rap Nordeste #2 é uma coluna semanal compilando lançamentos do nordeste para que se conheça melhor a qualidade da região

Grandes Lançamentos Nordeste #2 mudou e agora é semanal, no intuito de deixar o nosso público realmente atualizado com os sons lançados em nossa região. Pensamos que de 15 em 15 dias seria suficiente para dar uma ideia do que vem sendo produzido, mas rapidamente nos tornou evidente que isso era uma mentira que tínhamos inventado para nós mesmos.

Se você como nós tem o mínimo de noção do rap feito no nordeste, sabe que a qualidade e as diferentes propostas musicais e posicionamentos políticos aqui é abundante né? Sendo assim, estabelecemos aqui essa espécie de coluna, um espaço fixo onde faremos um recenseamento quinzenal (ops agora semanal) dos lançamentos do rap nordeste, sejam apenas em vídeos, apenas em áudios ou mesclando na mesma seleção os dois tipos de apresentação.

Uma das coisas que o rap nordeste precisa atualmente é construir um público que o consuma de forma inteligente, sem remeter nossas produções à parâmetros que nos são estranhos. Que valorizem o que aqui é produzido e consequentemente façam com que seja possível aos artistas percorrer a região. Seja através das suas produções, mas sobretudo através de turnês. O Rap Nordeste precisa alcançar auto suficiência mercadológica em sua própria região e não depender de shows e do estouro no eixo pra ser consumido. E nem de atrações de fora abrindo line up pra se apresentar em outros estados. 

Mas para que isso ocorra entendemos que o primeiro passo é o bom e velho: NOS OUVIR, NOS VER e termos a nós mesmos como referências, é o tal do Nós Por Nós em ritmo regional, ok? Então sendo assim, pega visão:

1. A Febre – Avisa pro Amor (BA)

Um dos grupos há mais tempo em atividade no rap de Salvador, A Febre surgiu em 2008 e é formada por: Alencar, DJ Naldo, Siba e Preto Dr. Com dois discos lançados, Por Amor a Deus, a Família e a Favela (2010) e Fase Dois do Velho Jogo (2014) os manos acabaram de soltar seu primeiro videoclipe oficial. Sempre calcando seu trabalho numa veia de forte crítica social e política, seguindo na missão de denunciar as injustiças que as nossas favelas vivem, os manos escolheram o amor como tema de sua estreia audiovisual.

E que estreia, a experiência ensina e os caras que já possuíam suas ideias muito bem representadas nos beats e na poesia, conseguiram transforma-las bem e às colocar com força em imagens. Com a direção de Elemilson Cruz e as locações escolhidas perto da quebrada dos manos na Boca do Rio já denotam as ideias presentes na letra. O parque de Pituaçu é substituído pelo shopping abandonado em Patamares. Um direção segura que consegue transpor bem a ideia da letra em suas imagens e cenas. Da briga do casal (o parque) até a apologia da solidão dolorosa (o shopping vazio). Pois a música fala sobre desilusão amorosa, em tom de sofrência. Vagabundo que nunca teve o coração partido que atire a primeira pedra. Assistam essa boa produção.

2. Diomedes Chinaski & Poema Liricista – O Que Não Me Causa A Morte (PE)

Em uma batalha de 2014 lá em recife, Diomedes Chinaski enfrentando Lucas Sang clamava para que alguém trouxesse o Poema, o Poema Liricista. E eis que três anos depois nos aparece essa colaboração entre dois dos grandes mc’s vindos de Pernambuco. Sob a direção de Fernando Baggi, diretor baiano que vem produzindo audiovisuais de alto nível, os dois atores são flagrados pelas ruas e vielas de Recife até o momento de seu encontro e daí por um rolê juntos. Em mais uma produção foda da grande Du.Solto Films!

O filosofo francês Gilles Deleuze anunciava que a filosofia de Nietzsche estava em plena concordância com a juventude em 1968 pois esses jovens produziam enunciados novos a partir da filosofia do alemão. E isso sim representava muito bem o “ideal” daquele que sempre combateu os acadêmicos e sua mania necrofílica diante de grandes obras.

Num beat de Brandon Fontes, os manos desfilam rimas que atualizam e contextualizam um pensamento da diferença com o poder da produção de sentido que o rap e o hip hop possui. Numa postura altiva e afirmativa da vida em seu amor fati, Poema Liricista e Diomedes Chinaski demonstram em suas linhas que aprenderam muito bem a arte do revide. Aceitar aquilo que lhe acontece, não é o mesmo que se resignar, e a potência de afirmar o sofrimento transformando esses acontecimentos em arte é pra poucos. 

3. Projeto 4Elementos – INLVCIDVS (RN)

https://www.youtube.com/watch?v=2XCKd7KI444

O Projeto 4Elementos existe desde 2014 no estado do RN e passou por muitas transformações até se moldar da forma que é hoje. Contando com Brow Louco e G-Quan Nakashi nas rimas, o grupo se liga num molde de rap underground mesclando uma lirica suja com criticas sociais pertinentes como podemos perceber nesse videoclipe recem lançado. Se preparando para lançar seu segundo EP na pista, que está sendo produzido por MXBEATS na Sequelados Produções e vai receber 5 faixas, titulado ‘INLVCIDVS’.

INLVCIDVS (a faixa) que recebe o mesmo título do EP saiu com o videoclipe gravado por Davi Selton, denunciando os preconceitos que são a base de nossa sociedade. Na tela uma colagem é proposta, entre imagens de cenas reais e o rapper dentro de um local abandonado. Produzindo uma interessante contraposição que está realmente colocada na letra. Uma mente refletindo sobre os temas sociais que nos afligem a todos, contrapondo duas visões sobre a lucidez. A da sociedade “normal” que é denunciada como ilusória e a do poeta sozinho, solitário entre os escombros dessa mesma sociedade. Afastado, marginal, sujo, de proposito, porque senão a sociedade corre o risco de ser confrontada com a verdade.

O Lançamento do EP será ainda neste mês e terá outros trabalhos visuais segundo a produtora: O.K.A Produções. Então faz o favor de se inscrever no canal dos caras e ficar atento às notificações.

4. Khriz Santos part. Ravi – LNH8 (BA)

Algumas obras de arte marcam o amor por sua terra natal, esse é um tema de grandes obras seja na música, na literatura, na pintura e etc. No rap não é diferente e grandes músicas tem como tema as quebradas de origem dos músicos. O bairro da Liberdade, local icônico para a música negra brasileira, recebeu uma homenagem especifica do rapper Khriz Santos. Que poetizou a Linha 8, sua quebrada dentro do “mundo” Liberdade, junto ao seu “conterrâneo” Ravi Lobo (Nova Era). E pra quem não sabe o único grupo de rap de Salvador a lançar um disco por uma grande gravadora ainda nos anos 90, o MD Mc’s, tinha em sua formação Davi Vieira, também morador dessa quebrada.

Com direção de Mateus Chagas e roteiro do próprio Khriz Santos as imagens captam as belezas, as crianças, a bonita juventude negra e os anciãos da quebrada. Enquanto isso, Kriz e Ravi narram as contradições, a violência e o descaso do estado que segue ceifando vidas junto à guerra de facções. Contradições que o rap não deixa serem caladas, levando-nos a um olhar critico sobre nosso habitat e cotidiano. Poeticamente o homem habita, dizia lá o filosofo da Floresta Negra.   

5. Arielly Oliveira – Lamúrias (AL)

Arielly Oliveira é uma das artistas mais interessantes do rap nacional hoje, dona de um voz linda e capaz de diversificar seu flow, ela mescla como poucas R&B e Rap. Conseguindo efeitos musicais capazes de transcender o rap e alcançar outros públicos. A artista produz um equilíbrio muito interessante entre uma persona sedutora, arte engajada e muita qualidade vocal. Mulher, mãe, nordestina, a alagoana milita com veemência relatando em suas letras todas as dores, potência artística e afectos que lhe atravessam. E ao fazer isso, ela sai de si mesma alcançando o coletivo do qual faz parte e compartilha as dores e a força. 

Lamúrias é um duplo do clássico Garçom do pernambucano Reginaldo Rossi, porém como todo duplo comporta o máximo de diferença. Enquanto o cantor se lamuriava ao garçom de um amor perdido, Arielly Oliveira nos narra as dores, lamúrias da carreira artística. Com a direção de Caio Bruno a artista é capturada em toda sua beleza, angustia e sensualidade em um bar. Entre o afogar das magoas e uma apresentação, a noite, os bares são também seu habitat. O sucesso (popularidade) não é algo justo e é de algum modo efêmero, a música de Arielly Oliveira não, sua arte já marca de modo indelével seu estado e em algum momento deve chegar a todo o Brasil. 

6. FF – Telas Expostas (PE)

Integrante da A Banca Z, grupo local do Recife, FF já lançou com seus manos dois excelentes discos, ano passado os caras lançaram Flores do Umbral (2016) e esse ano soltaram o EP Karma (2017). Junto com seus manos, FF vem dando cara à novíssima geração do rap Pernambucano. O grupo que tem apenas dois anos quase de formado e já soltou dois discos, também já tem o solo do mano JXTV R o qual resenhamos recentemente. E agora é a vez de FF dar vazão ao seu trampo solo com um videoclipe dirigido por Junior Soac e Rayanne Carlota.

Com um beat produzido pelo seu parceiro de grupo RVTX, FF vem diferente do trampo produzido em seu coletivo. Aqui ele propõe uma poética mais intimista, numa perspectiva contemplativa, mesclando percepções do social a alguns bragaddocios diferenciados. Telas Expostas entrega um quadro meio abstrato dessas percepções, mas não menos bonito por isso. As linhas seguem em cima do beat de forma pivotante como Kandinski, criando uma harmonia diferente das paisagens mais comuns. A necessidade de reflexão é algo evidente depois de ouvirmos esse single de estreia solo.  O nosso lugar em relação a politica, com a ética e sobretudo diante de nós mesmos é tratado com bastante habilidade pelo mc. Ficamos no aguardo dos próximos trampos do Felipe Freitas (FF), para ver se conseguimos estabelecer alguma tipologia de sua poesia e ritmo solo, essa estreia agrada bastante e desperta curiosidade.

7. Biggie N – Além (PE)

Assim que tiver condições preciso fazer uma matéria sobre a turma de JG (HellCife), pois o som que vem emanando de lá é realmente diferente de tudo que tenho ouvido no Brasil. Os caras vem com características bem diversas e próprias, cheias de singularidades que não escutamos em outros lugares. Ao mesmo tempo grupos distintos possuem algum tipo de identidade que ainda não identifiquei pra além do Trap que todos fazem. 

Biggie N foi um dos doidos dessa trupe que mais ouvi nos últimos tempos, o EP lançado no ano passado JGIN$IDE (2016), não sai da nossa playlist desde que conhecemos o trampo do menino Nuno. E o mano acabou de lançar um clipe novo com o peso, a agressão e o Trap característico (Prod. AFACE) desse mundo aparte. Com produção da Bacurau Mob, o clipe em questão trabalha com uma bonita fotografia em preto e branco. Captando o rapper em quadra, liso, “Jogando estilo Paulo Henrique Ganso, meio campo fluxo”. E nesse fluxo corta a cena e dessa vez o mano esta no topo observando a cidade do alto. Perto das nuvens, sob a chuva, ele continua jogando e vê nas nuvens próximas o sorriso da gata. Apenas veja e se vicie!

8. NoBlah Part. Vagabundo Prodigio – 100 Blah (BA)

Aos nos aproximarmos de certos artistas e acompanharmos sua conduta diária, mesmo que na proximidade distante das redes sociais, podemos facilmente perceber a coerência de suas ideias com relação à suas práticas. Janaína Noblat e o Vagabundo Prodígio aka Flip são dois casos desses, onde podemos perceber que o conteúdo de suas linhas, estão de pleno acordo com suas atitudes. 100 Blah representa bem, é um excelente exemplo disso que acima colocamos, os dois artistas são daqueles mc’s que não falam muito na internet, quer dizer Flip fala. Porém o que o mano fala é sempre algo a se pensar, é sempre uma provocação a reflexão. Já a Janaína cultiva a meditação e o silêncio, esvaziando seu ego, para melhor dar vazão a sua poesia.

Se você não sabe o NoBlah projeto da mc, é uma corruptela de Sem Blá, Blá Blá, ou seja, sem conversa fiada, sem jogar conversa fora. 100 Blah conta com a produção luxuosa de Victor Haggar e versa exatamente sobre isso. Com a produção geral de Terezinha Passos e a direção de fotografia de Marcelo Nascimento e Darlan Barreto (Asa Produtora) e direção dos próprios Mc’s o clipe é também simples, de linguagem direta, mas forte como a música desses artistas. 

Sendo assim, é melhor que vocês assistam e reflitam antes de falar, filtrem para não deixar falarem por você, repense suas opiniões, evite a maledicência. De minha parte, fico por aqui por que já falei demais, até a próxima!

 

Matérias Relacionadas

Marcola é a Pedra que Ronca de Itapuã! 

Danilo
5 anos ago

Élio Camalle e o cancioneiro franco brasileiro

Guilherme Espir
6 anos ago

O Kamaal Williams gravou um EP que parece sorvete de creme

Guilherme Espir
1 ano ago
Sair da versão mobile