O Gov’t Mule é uma banda plenamente estabelecida no ”mercado”. Trata-se sem dúvida alguma de uma das maiores enterprises sonoras que se tem notícia e, além de possuir trabalhos realmente grandiosos, o combo ainda é reverenciado ao redor do globo por fazer shows de quatro, cinco ou até mesmo seis horas! Sem falar na musicalidade (no termo mais amplo da palavra), que além de se preocupar em criar material próprio, resgata o ideial ’70 da jam e mostra a humildade de grandes mestres por reverenciar os grandes clássicos.
Quem é fã da mulinha sabe, esses caras tocam qualquer coisa. Já teve cover do Sabbath, The Doors (inclusive com uma série de shows acompanhados do Robbie Krieger), John Coltrane, Traffic, Pink Floyd, Neil Young… Poderia ficar escrevendo até amanhã de manhã, chegou em um nível que o grau de excelência é tão digno de nota que a banda começou a lançar esses registros.
No fim de 2014 o bando de Warren liberou uma caixinha tripla mandando Pink Floyd no ilustre e surpreendente ”Dark Side Of The Mule”, sendo este o primeiro disco focado nessa parte de tributos, o que, claro, não faz os fãs esquecerem dos fabulosos covers que viraram rotina nos discos ao vivo dos caras. E um dos trabalhos mais especiais acabou sendo top of mind no Record Store Day, o toque Keith Richards de ”Stoned Side Of The Mule Vol. 1”.
Line Up:
Warren Haynes (guitarra/vocal)
Matt Abts (bateria/percussão/vocal)
Steve Elson (saxofone)
Danny Louis (teclado/órgão)
Jorgen Carlsson (baixo)
Track List:
”Under My Thumb”
”Monkey Man”
”Doo Doo Doo Doo Doo (Heartbreaker)”
”Paint It Black”
”Angie”
”Ventilator Blues”
”Shattered”
Gravado no Halloween de 2009 na Filadélfia, este registro faz algo que quase ninguém consegue quando parte para esse lado de prestar homenagens: Ser relevante. Se pararmos para pensar, o Rolling Stones é uma das bandas que menos precisa de mídia, eles são os caras que mais são objetos de escrita (seja em biografias ou autobiografias), e incontáveis bandas já gravaram covers dos britânicos, só que diferentemente de toda essa gama de artistas, o Gov’t não fez o chamado ”mais do mesmo”, até o set list é peculiar.
Aqui a banda resgata a parte fina do Blues, passando por alguns grandes hits é claro, mas focando na década de setenta em peso e sem precisar gravar ”Satisfaction”. Aliás o começo do show com o tilintar de ”Under My Thumb” conquista o ouvinte com uma paixão quase juvenil. A energia é ótima, ”Monkey Man” surge com solos e mais solos, ”Doo Doo Doo Doo Doo (Heartbreaker)” aparece com a participação de Jackie Green (músico que teve a honra de dividir riffs com Warren) e daí pra frente é só bailar.
Evocar o clima de abóboras sádicas em busca do clima de Halloween com ”Paint It Black”, pegar ”Angie” emprestada e envolvê-la com a aveludada voz de Haynes e chumbar os ouvintes com um dos takes mais brilhantes da fase Mick Taylor, os relatos de um ventilador inútil dentro da abafada mansão de Keith em Nellcôte (na época de Exile), a contundente ”Ventilator Blues”. Tema que aqui dobra de tamanho se comparado com a gravação de estúdio dos Stones e ainda ganha requintes de maior jam do disco com uma gaita chavosa e um slide trepidante.
É assim que se comemora 20 anos de vida e música, saindo em tours, lançando discos e acima de tudo mantendo o nome da boa música sempre em voga, mas não queime a largada, ainda tem mais uma sessions com ”Shattered”… Mais de duas décadas se passaram e o Gov’t segue surpreendendo, coisa linda de se ouvir!