Goribeatzz em Adepto ao Princípio traça um bonito painel do rap nacional underground!

Goribeatzz, produtor, DJ e beatmaker carioca acaba de lançar seu novo disco, um EP com 8 faixas que traz diversos MC’s fundamentais!

Em nosso país, beatmakers e produtores não são tratados como artistas de modo geral, a educação musical feita pela indústria cultural foca sempre nos frontliners, nos MC”s. Para quem possui uma formação dentro da cultura hip-hop, a valorização dos DJ’s e beatmakers/produtores é algo essencial pois sabemos que são os responsáveis pela música do rap. 

Neste exercício há bastante tempo, Goribeatzz tem ajudado a construir a cultura com sua arte plasmada em trabalhos que prezam pelo apego à tradição, porém sem esquecer de incorporar atualizações necessárias. Com 6 discos até aqui, a sua sétima bolacha apresenta toda a expertise conquistada por um artista que já trabalhou com nomes como BK, RaPadura, de quem já produziu o Antiéticos um dos grupos fundamentais do under nacional e terceira parte fundamental do Tetriz junto a Ramiro Mart e Matéria Prima! 

Em Adepto ao Princípio (2013) Goribeatzz traça com maestria um excelente retrato do momento atual da nossa Nova Golden Era. Com suas produções e através de uma selecta  de MC’s muito bem executada ele consegue traçar um panorama interessantíssimo ao mesmo tempo que produz uma obra de arte que não cessa de ecoar em nossos fones. Como um artista preocupado com a música, ritmo e timbres, criando em seus equipamentos as “bases” sobre as quais os MC’s rimaram, Goribeatzz gerou um EP com 8 faixas que segue uma pegada mais claustrofóbica, mais densa, o que reflete muito do período em que vivemos. A capa do disco é uma prova disso ao atualizar um foto clássica do mestre Cartola de balaclava, obra do mano Mattenie que além de MC participante do disco, também assina essa arte!

Certamente, artistas tendem a plasmar os momentos de vivência coletiva através de suas próprias lentes e em Adepto ao Princípio (2023) isso não é diferente. A coerência estética presente no disco se dá muito pelas produções do artista, que além de dialogar com pegadas mais clássicas do boombap traz também o frescor do drumless, e em alguns momentos joga na fronteira entre um e outro. Os climas sonoros e as ambiências rítmicas também colaboram para que os artistas tenham um espaço amplo de desenvolvimento poético, assim como na aplicação de flows diferenciados. 

O curioso de tudo isso, é que diante do resultado de Adepto ao Princípio (2023), pois existe um resultado musical e poético, ficamos com a sensação errônea de que o Goribeatzz além dos beats mandou também instruções para que os MC’s rimassem sobre um determinado tema. Porém não, em entrevista o beatmaker nos conta:

“Para esse projeto eu montei um catálogo de mais de 50 beats, e ia fazendo as conexões, mandava o link do soundcloud para eles e eles iam pegando os beats que queriam, nessas eu ia separando e colocando o nome deles. A questão de letra e tema eu deixo livre pros caras.” 

Isso nos esclarece sobre a conexão necessária entre os artistas que comungam da mesma vibe, pois não seria possível rimar violentamente em cima de beats mais abertos, mais alegres, mais extrovertidos. E neste sentido o Adepto ao Princípio apresenta-nos uma série de pedradas que prezam pelas críticas sociais e políticas. Com nomes fundamentais do rap nacional atual como Relvi, Galf AC, Thestrow, CHS, Dois AS, o Nochica, Xaga, Mattenie e Gil Daltro, além dos OG’s que permanecem na batalha como Mistah Jordan, Nairobi e o Jamés Ventura.  

Essa selecta operada pelo Goribeatzz apresenta também uma qualidade política em sua visão e consequentemente em suas produções, pois o beatmaker selecionou nomes do nordeste, do sudeste e do sul para esse trabalho, algo inédito até então nas suas produções. E essa escolha política nos oferece uma “crew” no pique “Looney Tunes Obscura” com personagens divertidamente diversos com sotaques e ideias muito próprias o que faz com que o painel musical pintado por Gori, funcione nacionalmente. 

O Adepto ao Princípio aqui nos leva a pensar sobretudo na força de trabalhos como esses que de certo modo dialogam muito com a nossa história. A riqueza de uma tradição que tinha nos samples a base estética para a produção da música que melhor representava o futuro que queríamos, encontra no drumless e no próprio trabalho do Gori de modo geral, neste e nos seus outros trabalhos, uma volta à própria música negra combativa. A adição ou não de batidas nos leva no trajeto de pensarmos a música negra do século XX como a base primordial que nos trouxe até aqui.   

Goribeatzz é um nome fundamental da nossa cultura, muito além da cultura e do hype do mercado musical, assim como os nomes presentes no trabalho, e com certeza vários outros que aqui não estão mas que seguem levando a luta adiante, com maestria!

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Por Danilo Cruz