Um disco importante para a história do Rap Nacional e um dos grandes trabalhos da carreira do mestre GOG, completa 20 anos!
Após um hiato de quatro longos anos desde o lançamento do trabalho anterior, o muito bem recebido: CPI da Favela (2000), último trabalho do GOG em sua formação mais conhecida e a mais longeva do grupo, época em que ainda dividia o front com Japão, Dino Black e DJ Mano Mix.
Morando em São Paulo, mais precisamente no interior paulista, diretamente do 019, em uma inédita parceria entre o Face da Morte Produções (selo do grupo Face da Morte) e a Só Balanço, este último de propriedade do próprio GOG (pioneiro no segmento de rappers/grupos donos de gravadora no Brasil) firmam esta colaboração que viria dar a luz ao clássico Tarja Preta.
O disco é composto por dois “comprimidos” que bebem de diversas fontes, dentre elas a boa música do Brasil para servir de base rítmica ao longo das 23 faixas que compõem o trabalho. Entre colagens e samplers, em Tarja Preta, Genival Oliveira Gonçalves, vai costurando e construindo cuidadosamente um compilado de clássicos que escutados hoje, nos lembra mais uma coletânea.
Em termos estéticos, Tarja Preta também explora o lado criativo do poeta e que André Carvalho soube captar muito bem e que vale destaque. Emulando uma caixa de remédios, o já citado designer André Carvalho, responsável pela fotografia e projeto gráfico do álbum, que tem no seu encarte formato e “linguagem” de bula de remédio (disponível na versão em CD), apresentado em “duas cartelas” a concepção e toda a proposta visual do trabalho.
No segundo comprimido (CD-2), composto pelas onze faixas/doses restantes, vale destacar: “Rua Sem Nome, Barraco Sem Número” onde GOG dá uma canetada sinistra em homenagem ao Mestre Sabotage, falecido no ano anterior ao lançamento de Tarja Preta. Também destaca-se “Sonhos Latinos”, em que o poeta além de render homenagem ao líder revolucionário Che Guevara, discorre sobre a necessidade urgente de uma unidade no que ele refere como “Pátria Latino-americana”. Outra track que não pode passar batido é a suingada e dançante “Lei de Gérson”, onde o poeta faz um trocadilho com a famosa lei do tricampeão de 1970, aqui o que impera é a lei da música, e seguindo os “mandamentos black” e a cartilha do bom Rap nacional, recheado com samplers, colagens e scratches e encima de canções do reverendo da música preta, Gérson King Combo.
Uma coisa curiosa que existe acerca da atmosfera em torno do disco é que ao discorrer pelas 23 faixas que compõem o trabalho, não parece estarmos escutando um álbum tão longo, além do repertório do disco ser um dos melhores e mais bem produzidos da carreira do artista, trata-se de um disco como já dito, cuidadosamente pensado e estruturado para ser concebido exatamente como foi.
E em se tratando de um CD duplo, uma ideia pouco provável e pouco viável nos dias atuais, dada a celeridade e urgência do mercado de streaming, onde singles e no máximo os EP’s ditam o ritmo e a forma como as pessoas devem consumir música. Tarja Preta caminha exatamente na contramão de tudo isso (“…toda rebeldia tem seu preço…” By GOG), não é um disco pra quem tem pressa, é um disco pra quem gosta de boa música, um disco pra quem gosta de um bom Rap.
Audições apressadas em trabalhos como esse faz com que o ouvinte não contemple a experiência e em se tratando de “remédio” não é recomendado parar o tratamento no meio, escutem os dois comprimidos e curtam a viagem…