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George Benson & Beatles: the other side of Abbey Road

O tributo de George Benson ao álbum branco dos Beatles. The Other Side Of Abbey Road aproxima o fab four do lado jazzístico da força.

O dia 26 de setembro não é um data histórica, mas deveria. Antes que você corra para o Google, já mando uma dica preciosa logo na lata: ”Abbey Road”. Neste dia saiu a obra prima dos Beatles, o disco derradeiro, pra mostrar não só para o mundo, mas para os próprios músicos, que eles estavam em outro patamar criativo.

Depois que esse LP saiu, a repercussão foi tanta, que nomes realmente respeitado por aí ficaram completamente embasbacadas com o resultado das gravações do fab four. Um dos maiores exemplos do respeito de seus pares é o disco “The Other Side Of Abbey Road”, de um dos maiores nomes do Jazz, o guitarrista George Benson.

Alguns músicos piraram tanto no décimo primeiro trabalho de estúdio da banda, que colocaram em suas respectivas cabeças que precisavam pagar tributo por terem a oportunidade de escutar algo tão precioso. Foi como pagar um dízimo por tal musicalidade.

Primeiro veio o Booker T. & The M.G.’s que capitaneados por Booker T. Jones, lançou (em abril de 1970) o belíssimo ”McLemore Avenue”, o ”Abbey Road” da perspectiva R&B do groove. O resultado foi tão primoroso quanto o trabalho dos Beatles, mas como quem criou todo o disco para que Booker T. pudesse mudá-lo sob sua própria legislação foi os Beatles, primoroso mesmo é o original.

Só que isso não foi tudo. Outro cidadão que se sentiu na obrigação de agradecer a poesia de Lennon e Cia foi o o mago negro da semi acústica, o meliante George Benson – que assim como Booker T. Jones – resolveu compilar os takes do álbum branco em belas Jams e (para variar) criou algo de fato brilhante.

Sempre achei que ”McLemore Avenue” era o melhor cover de Beatles já feito, mas aí ouvi ”The Other Side Of Abbey Road” e parafraseando Zygmunt Bauman: ”Tudo que é sólido se desmancha no ar”.

Line Up:
Raoul Poliakin (violino)
Marvin Stamm (trompete)
Ernie Hayes (órgão/piano)
Wayne Andre (trombone)
Bob James (piano/órgão)
Bernie Glow (trompete)
George Benson (guitarra/vocal)
Freddie Hubbard (trompete)
Ron Carter (baixo)
Mel Davis (trompete)
Ed Shaughnessy (bateria)
Don Ashworth (saxofone)
Jerry Jemmott (baixo)
Sonny Fortune (saxofone)
Idris Muhammad (bateria)
Jerome Richardson (saxofone/clarinete/flauta)
Phil Bodner (flauta/oboé)
Ray Barretto (percussão)
Hubert Laws (flauta)
Herbie Hancock (órgão/piano)
Andy Gonzales (percussão)
George Ricci (violoncelo)
Emanuel Vardi (viola)

 

Track List:
”Golden Slumbers”/”You Never Give Me Your Money”
”Because”/”Come Together”
”Oh! Darling”
”Here’s Come The Sun”/”I Want You (She’s So Heavy)”
”Something/”Octopus’s Garden”/”The End”

 

Sem querer comparar os dois discos, mas caso você não tenha ouvido nenhum deles é bom saber um pouco mais sobre as estruturas que regeram os dois trabalhos.

Como disse acima, o trampo da banda de Booker T. era mais Soul e R&B, por isso sempre achei a versão de George Benson mais completa e competente, por agregar de uma forma inédita, trazendo um belo repertório de cordas e uma visão jazzística da música desse grupo que um dia já foi formado por 4 branquelos com cabelo tigelinha.

São menos de 35 minutos de Groove, mas quem escuta percebe não só a complexidade do trabalho, mas também nota como ele quis elevar o padrão da música que o Beatles trouxe com ”Abbey Road”.

Booker T. fez releituras, Benson desmembrou as partituras e remodelou tudo com base no melhor do Jazz e uma roupagem clássica infalível, algo que o gênio ainda fez sem perder a fidelidade frente ao som original.

Se o senhor achar este disco em algum lugar compre, é bem raro e quando se acha para vender o preço é absurdo, se bem que se visse um dando sopa pagaria o preço que fosse necessário! Alguns amigos acham que é brincadeira, mas esse é um dos melhores trabalhos que Benson já fez e um dos melhores registros que você vai ouvir na vida.

Vocês devem ter notado o tamanho da lista de músicos que foi necessária para preencher o instrumental desse disco, portanto a perfeição de ”Golden Slumbers”/”You Never Give Me Your Money” é absolutamente justificável. Os arranjos arrebatadores, embebidos num mar de metais e cordas… O timbre de baixo do Ron Carter é um deleite. Uma das maiores conduções da história do Jazz.

A parede de metais, o piano do Herbie Hancock, o groove marcante de ”Because”/”Come Together” é digno de ser tocado por horas e o brilhantismo de Benson e sua semi acústica em ”Oh! Darling”?! Ele parece flutuar…

Essa faixa cumpre a difícil tarefa de evidenciar um pouco do fino tato que Benson possui, não só como guitarrista, mas também como grande vocalista e inserido nesse contexto de balado o som é praticamente irresistível.

Que voz e que timbre! Só tem ET nesse line up, do Freddie Hubbard ao Latin Jazz do Ray Barreto e arranjos do Don Sebesky, o mago responsável pelos homéricos registros que a CTI lançou na década de 70 … É a nata do groove, parceiro.

Quem me conhece sabe que sempre tive dificuldade com os Beatles, mesmo com o ”Abbey Road”, mas esse trabalho revela os temas com uma visão que muito me agrada. Gosto do original, mas esse e o ”McLemore Avenue” me traduzem as linhas do grupo da maneira que sempre quis que elas fossem realmente. As ideias aqui presentes enaltecem o groove e trazem outra perspectiva para os arranjos, expandindo o viés criativo do LP original.

Trata-se de um momento raro onde o cover consegue ser tão bom quanto a versão original de fábrica. O piano de ”Here’s Come The Sun”/”I Want You (She’s So Heavy)” é fantástico…

A forma como a faixa ganha um ar majestoso com a introdução do marfim é quase poética. Dá pra sentir a tensão das cordas. É impressionante como todos os elementos presentes no disco aparecem tão claros e nítidos como seu reflexo na água.

São medleys desconcertantes e passagens instrumentais absolutamente brilhantes. Quem diria que aquele introdução ia virar o groove que o Ray Barreto complementa tão bem na percussão?

Quando a bolacha se encerrar (ao som de ”Something/”Octopus’s Garden”/”The End”) você vai até se levantar pra aplaudir.

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