The Fjords é uma banda de synth pop norueguesa que nunca teve muita expressividade fora do seu país de origem. Pelo menos até agora, pois o clipe da música All In vem chamando a atenção de um público mais amplo, colocando o grupo no mapa até de quem não é muito fã do estilo.
Boa parte dessa atenção se deve à violência explícita mostrada no clipe, mas é preciso ressaltar que ele não é chocante apenas por causa disso. Seu impacto vem da maneira como os diretores Line Klungseth Johansen e Øystein Moe conseguem nos fazer refletir sobre temas sérios do mundo contemporâneo utilizando uma linguagem que mistura a fantasia com um realismo cru e desconcertante.
O clima melancólico da canção serve para pontuar o tom do clipe com uma sensação opressiva e de crescente tensão. A sintonia entre som e imagens é muito bem realizada, dando a impressão de que a música foi feita para o vídeo e não o contrário. O que aumenta o poder da mensagem ali transmitida, provocando reações inflamadas tanto dos que apreciaram o resultado final, quanto dos que de alguma maneira se sentiram ofendidos pela violência gráfica exibida.
O vídeo clipe fala especialmente para a geração que cresceu nos anos 80 cercada por filmes e games cheios de tiros, explosões e mortes. A intensão dos realizadores de trazer de volta a atmosfera particular daquela época fica bem perceptível desde o começo. O primeiro minuto do vídeo, que mostra um menino em seu quarto, é repleto de referências à cultura pop dos anos 80: Star Wars, Gremlins, Nintendo… E é ai que a coisa começa a ficar interessante.
Munido de seu nintendinho 8 bits, alguns jogos e a pistola que acompanhava o console, o garoto perambula pela cidade até encontrar um grupo de adolescentes fazendo arruaça numa lanchonete. Ao ser intimidado por eles o menino reage atirando com a arma de brinquedo que surpreendentemente faz o mesmo estrago de uma verdadeira.
O grupo é chacinado pelo atirador que vai mudando os jogos do seu Nintendo para armas mais poderosas: a espingarda, o lança-chamas, o foguete, ou seja, o próprio vídeo game é utilizado como uma arma letal.
Não se trata, porém, de uma crítica à violência nos games, mas de uma reflexão sobre o bullying e sobre as matanças efetuadas por jovens atiradores em escolas – temas muito bem abordados no documentário Tiros em Columbine de Micheal Moore.
A reposta mais fácil e covarde sobre os motivos desse comportamento violento entre os jovens geralmente vai no sentido de apontar a violência nos filmes e nos games como os grandes culpados desse fenômeno, esquecendo de problematizar questões mais profundas da própria sociedade em que vivemos.
Testemunhamos no clipe a revanche do oprimido, que se utiliza dos recursos à sua disposição para enfrentar seus algozes. Não fica claro se essa vingança se dá apenas na imaginação do personagem ou se o derramamento de sangue realmente ocorreu.
Porém, não resta dúvidas sobre o quanto os diretores gostam, e conhecem de games. O código que o garoto faz no joystik (daqueles tipo: dois pra cima, três pra baixo, A, B, A + B) como que para ativar a função que transforma o brinquedo numa arma letal e a sopradinha marota que ele dá em um dos cartuchos antes de coloca-lo no console, deixam isso muito evidente.
Assista e tire suas próprias conclusões: