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Galf AC x Sumidade Beats – sobre experimentalismo e voracidade no Rap nacional! Entrevista

Galf AC x Sumidade Beats

A dupla Galf AC x Sumidade Beats, vão lançar neste domingo um EP onde o experimental e voraz são a base da estética, leia nossa conversa

Neste domingo, 22/01 o disco World Packing Money ganha às ruas, parceria entre o beatmaker e produtor Sumani Beats e Galf AC. O MC baiano encontra o produtor paulista em 11 faixas entre interlúdios e canções em um disco que já concorre para ser um dos grandes lançamentos do ano. 

Experimentalismo musical é a tônica deste trabalho onde o louco do Sumani Beats produziu uma sequência de beats “medonhos” deixando a Galf AC a responsa de colocar o flow e a lírica que o tem feito ficar conhecido como um dos nomes mais relevantes dentro da Nova Golden Era. Sem perder sua principal característica, o MC que vem desenvolvendo trabalhos em um ritmo de produção voraz e de excelência, consegue produzir versos onde a espiritualidade e a política ganham contornos únicos. 

A produção de Sumani Beats é realmente disruptiva, convocando o ouvinte a não buscar lugares confortáveis, quebrando expectativas. Todo produzido de modo orgânico como nos explica abaixo o produtor, World Packing Money (2023), chega forte se baseando na tradição porém com os olhos no futuro. Musical e poeticamente denso, estamos diante de uma daquelas obras que são um verdadeira paulada no crânio!

Conversamos com a dupla para saber um pouco melhor, sobre suas ideias a respeito da música, sobre como se deu a produção, influências e sobre as novidades que estão por vir. Leia abaixo nossa conversa: 

Oganpazan – Sumani meu mano, agradeço essa troca de ideias e gostaria de te perguntar: Como e quando você começou a produzir beats e quais os caminhos estéticos que você busca, quais suas principais inspirações? 

Sumani Beats – Começa com o formato ouvinte! , sempre teve arte presente no meu meio , principalmente som ,até que eu por vontade de ter uma banda comecei a tentar aulas de violão. Não achei tão didático então comecei a procurar por conta própria assuntos sobre como fazer… passeei por vários instrumentos não toco nenhum e toco todos ao mesmo tempo ahahahah, não consigo reproduzir um som de alguém por 3 minutos sem errar mais fico 24h criando sem pausa .. mais ou menos por aí !

Até que na faculdade de design ( tentando algo rentável ,algo que tbm passeio ; desenho e afins) mais sempre fazendo música… conheci o produtor Kanela Sp , que me passou a visão no Fruit loops como humanizar mais o som …. Meu objetivo era gravar minha paradas já que não tinha uma banda pra isso ….. mais sem as técnicas meu som ficava  quadrado…. Rap no caso.. já outros estilos ficavam lindossss… Então comecei a estudar a história, entender o pq de tantas máquinas ,microfones, mesas de som!

E a virada de chave aconteceu ! Trombei na internet o Lisciel Franco do Forestlab que explodiu minha mente … assim como Alan Flecha do Zarolho ,o Rafa do Ladyleusa ,Wagner Landman que sempre compartilharam o conhecimento … Dessa forma eu consegui entender! 

O som pra ser foda tem que ser gravado sem edição nenhuma! DE DENTRO PRA FORA, Como uma fotografia vai captar um momento específico… Aí meu som veio mesmo… Me encontrei na naturalidade das coisas, tô ouvindo oq eu quero tá pronto… Sem mentira… sem afinação. Impressão da realidade, De um  para outro! Minhas inspirações são as mesmas dos mestres de todos ; Wu Tang, Dilla, Doom …. E tudo que provem disso. E todo jazz , soul , dance , R&B, Grunge. Difícil falar, sou preso a sonoridade/textura. Isso que me faz inspirar ou não independente de estilo ou rótulo

Oganpazan – O que você almeja ao fazer música? Qual o seu principal desejo?

Sumani Beats – Desejo que quem escute perceba a individualidade como algo necessário pro bem estar de cada um ; como indivíduo mesmo, verdadeiro pra si próprio. Porque penso que se cada um se encontrar não tem porque haver problema, nem interno nem externo. A gente só de desvia do bem quando não tá vivendo verdadeiramente! A sociedade tende a esse mau , a indústria faz isso como metodologia …Pensar em como progredir .. independente da moda; Seja ela qual for, por exemplo: vestuário , carros… O cara vai pra praia pra desfilar um Gucci, tira mil fotos, mais o objetivo natural da praia é a praia, os valores se perdem muito fácil pela vaidade.  Então eu sendo mais um nesse caos, tento implantar essa semente de amor na ideia alheia.

De que o que serve pra você geralmente só serve pra você ! Viva verdadeiramente!  SEJA FELIZ! O segredo do sucesso é estar bem consigo … tudo flui

Oganpazan – Quais elementos você utilizou na produção desses beats, como você compôs essa sonoridade suja e toda quebrada?

Sumani Beats – Essa sonoridade é a soma de instrumentos reais captados por microfones processados num sistema analógico e mixado também em analógico longe de telas e gráficos …. Somente o link do coração e ouvidos a fim de entregar sensações , a soma dos barulhos , sobras , levam para lugares diferentes, saem do padrão comercial! Dão liberdade pra eu criar e consequente pra quem ouve ! 

Além disso, vejo como principal a maneira como se cria. Não tem correções, ou ficou bom ou grava de novo ahahaha. Em contra partida, a dinâmica e ABSURDA! Começa com um simples barulho em loop, e vai se construindo conforme o sentimento manda. A quebradeira vem dos erros. Isso torna mais humano dramático, confuso com toques de sanidade, ao tentar fazer perfeito já vão conter erros e isso torna real ….

Oganpazan – Como você entrou em contato com o trabalho de Galf AC e como essa parceria ocorreu? 

Sumani Beats – Estava passeando pela internet e os robôs 🤖 jogaram um som dele na minha …. Fui ver pois a sonoridade me chamou atenção, pela voz dele mesmo, pois até então não tinha alguém que colocasse a lírica desse jeito no instrumental. Respeitando a cadência torta desse estilo sujo onde o metrônomo não existe …. O MC encontra algum elemento que chama mais atenção dele pra usar de marcação por ex … Hora canta hora troca o flow … brinca mais com o instrumental. Aí mandei uma mensagem na dm dele ahahah dizendo que se ele precisasse de instrumentais tortossss medonhos tinha logo vários.

Ele respondeu, ideia vai ideia vem …. Sei lá sou de sentir a parada ! Não faço isso com as pessoas , mas com ele eu senti a necessidade de falar pra ele isso, e o resumo foi que o santo bateu forte …. E é só o primeiro … quero trazer ele pro estúdio pra fazermos 100% no pessoal … as alquimias são maiores o resultado chega mais longe … tudo na fita! Sem edição sem computador…… como os monstros fizeram e fazem. Proposital do momento do acaso da espontaneidade, a mix já vem da captação vou somando instrumentos processando … e essa viagem termina num Akai de rolo onde a magia final acontece. Além de que a história de cada equipamento, o “ como “ foi pra adquirir ele e o conhecimento que vem junto é que ele vai trazer, interfere diretamente no som final … a magia tá aí …. As pessoas envolvidas e tudo mais … A intenção foi fazer que o ouvinte visualize a lírica como num filme. Entre no som através dos sentidos , como se a track tivessem texturas

Oganpazan – Neste trabalho de Galf AC existe uma atmosfera onde a lírica e o som, a música dialogam gerando umas visões através dos samples, isso é proposital? Qual foi a sua intenção? 

Sumani Beats – Isso é proposital, e a leitura da minha brisa “ feita pelo Galf , ele interpreta o instrumental no que inspira ele , dando mais forma ao contexto , e outros cortes adicionados na mix afim de levar o ouvinte para uma imagem do som , texturas, datas , lembranças , sabe quando  o cara ouve e fala ; nosssa parece que tô em tal lugar” ou ; caberia em tal coisa em “…. Pq quando eu ouço os mestres sinto isso, me leva pra outro lugar. Então a soma da nossa loucura combina…. Resultando nessa quebradeira.

Como disse a intenção foi aguçar os sentidos hora pela estranheza ou pela lírica ou por determinado timbre q entra na mente causando SENSAÇÕES!

Oganpazan – Quais os próximos trabalhos que vai soltar na pista esse ano mano? 

Sumani Beats – Cara tenho MUITO instrumental esperando MC, vou na bala dessa missão. Além de por na pista esses sons pra galera curtir. Eu sempre fui mocado, ao mesmo tempo que a internet permite ela satura e desrespeita. Ouvir música tem que ser um par de caixa .. apreciar o momento e etc…Hj qualquer coisa toca em qualquer lugar … não é bem assim. Acabei não “postando“ nada, mais tenho material pra brincar agora, dar um destino. Pq eu respiro a música, não sei fazer outra coisa.  

GRAVAR é meu VÍCIO, no estúdio eu estou completo, mas com ajuda dos parceiros coloquei a cara no “jogo”, e vou piratear esse game … fora de padrão estipulado … liberdade pra cabeça pensa! Afinal, não importa o que aconteça eu vou sempre fazer som .. essa poha é minha vida. Minha missão só tenho que encontrar os caminhos .. não é possível que isso é atoa …. Tem algo a mais que eu não enxerguei ainda … essa é a batida até o final! 

Oganpazan – No ano passado meu irmão, você foi sem dúvidas o MC que mais lançou trabalhos, como você sentiu o retorno desse esforço? 

Galf AC: Primeiramente agradecer a Danilo Cruz e toda equipe que faz  esse trabalho magnífico no Oganpazan. É assim, desde 2021 idealizei isso de lançar inúmeros trabalhos com produtores e beatmakers na visão de dar visibilidade não só ao meu trabalho mas também ao trabalho dos produtores que se doam e amam  o que fazem e mesmo assim sem nehum reconhecimento por isso. E logo se iníciou a minha parceria com meu produtor Tiago Simões (Cremenow Studio) e disso posso dizer que nunca haverá um retorno à altura de nossa parceria. 

Digo e afirmo isso é nossa religião e ligação através da música timbres e vivência. E sim cada dia que passa tenho retorno do meu trabalho, pessoas que vem até a mim me agradecer por ter escutado alguma música que realmente tem ligação com sua realidade. Expondo indignações e em busca de soluções para inúmeros problemas sociais. Alguns produtores e beatmakers que tive a honra de conhecer e trabalhar ao longo dessa caminhada: Traumatopia, Barba Negra, Giallo Point, Goribeats, Sumani Beatz, Jumar Paralelo, Entidathe, Nnay, Dr. Drumah, entre outros. Pra mim é muito gratificante estar produzindo com mentes em constante evolução. Entendo a minha linguagem construindo obras na base do respeito e reciprocidade. Então a resposta é sim, cada dia que respiro trabalho, isso por si só é grandioso e sublime e a recompensa disso é a minha existência. 

Oganpazan – Em World Packing Money (2023) me parece que você consegue o seu trabalho mais experimental, como foi a experiência de ouvir esse trabalho pronto? 

Galf AC: Vínhamos já conversando pelas redes e arquitetando uma forma que faríamos o Disco, Ep, até então nada em mente. Sumani me enviou alguns beats e logo consegui descrever mais ou menos como seria a estrutura do então World Packing Money. Escrevi a maioria dessas músicas no mesmo dia. Gosto dessa interação com a produção, de me entregar e expor o meu modo de ver e viver a vida no agora! Mas isso não queria dizer nada hehehehehehe enviei as músicas para o Sumani mixar e aplicar a master e quando voltou, veio isso, essa obra altamente fragmentada e encorpada com uma identidade única e original. 

Achei foda toda a criação e desenvolvimento que foi feito esse projeto. E achei surpreendente. Agradecer a Sumanidade Arte por todo tempo e alma dedicado no nosso corre.

Oganpazan – De onde você tira suas inspirações para compor mano? Você tem lançado diversos trabalhos e sempre dentro de uma lírica contra ofensiva às violências que o povo negro sofre cotidianamente em nosso país, no entanto, você não me parece se repetir. Como você tem operado essa mágica?

Galf AC: Eu sempre fui muito ativo buscando informações e novos conhecimentos um mero alquimista. Mas brincadeiras a parte, pra ser bem sincero até eu fico surpreso com tanta informação e criatividade que exponho nas letras e nos flows… algo que realmente encaro como o meu Divino. O  acesso ao meu inconsciente e além de tudo dedicação e persistência acreditando no que faço e colocando. O coração nos planos… já ouvi de pessoas que me viram produzindo na hora e me dizerem que eu faço parecer fácil o que é difícil. E digo que a prática em busca da excelência eleva qualquer trabalho seja lá qual for este trabalho…. E vou seguindo fluxo desta maneira, amando respeito e me dedicando cada vez mais a música, ao Rap que me resgatou das mazelas.

Oganpazan – Como se deu a escolha dos beats para World Packing Money (2023)? Como foi feita essa curadoria, e de que modo os beats mudam sua forma de compor? 

Galf AC: Como tinha dito na pergunta anterior. Ele me enviou uma série de beats onde automaticamente eu já tinha estabelecido na minha mente a linha que eu iria seguir naquela obra. E escrevi em todos os beats escolhidos assim que ele me enviou. Assim fica mas fácil, quando se tem esse magnetismo de ouvir e instigar o indivíduo no caso eu Galf AC. nisso tive a ideia da capa e contra capa e fiz valer, o Sumani já veio fazendo os vídeos em uma pegada mais vintage 80, dando assim uma característica devida ao disco e as produções. Depois disso ficou fácil nessa imersão sonora saber onde este projeto iria chegar, agora é só apreciar.

Oganpazan – Correm boatos de que você vai dobrar a aposta do ano passado, com mais discos e EP’s do que foram lançados no ano passado, isso é verdade? Você já pode nos adiantar o que vem pela frente?

Galf AC: É isso, nunca tive essa visão de fazer estas obras por números de lançamento. Realmente é um fluxo de produção que vivo. Sagaz, Voraz e Intenso. Não posso afirmar se vai ser menos ou mais. Mas posso dizer que vai sair coisa pra caralhooo esse ano e muitas dessas coisas já estão pré produzidas. Sigo fazendo meu trabalho e lapidando, a minha história onde todos os envolvidos tem sua intimidade e particularidade nela. E o que posso adiantar é que haverá a Maré de Março. Só fé e gratidão e os planos continuam.

-Galf AC x Sumidade Beats – sobre experimentalismo e voracidade no Rap nacional! Entrevista
Por Danilo Cruz 

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