Gal & Caetano Velloso estreavam juntos com o LP Domingo lançado em 1967. Esse ano completa 50 anos como um importante registro bossanovista!
Esse ano Gal Costa completa 50 anos de carreira, ao tomarmos como ponto de partida Domingo (1967), disco cheio de estreia que a cantora divide com Caetano Veloso. Interessante notar como aqui ela já despontava como a voz das composições de Caetano, antes mesmo de ser a voz da Tropicália. Curioso também notar, como esse caminho de reverência a bossa nova iria ser abandonado logo a seguir, com o disco manifesto do movimento Tropicalista (1967) e apenas um ano depois Gal já seria conhecida e poucos anos depois, resistiria como a maior representante em território nacional do movimento.
A tomar as palavras de Caetano, os registros aqui tratados e o que se veria a seguir, nota-se que em Domingo (1967) algumas características artísticas estavam em plena construção. Caetano ainda marcando a grafia Velloso, e a Gal, antes Maria da Graça, aqui ainda não tinha sido batizada como Gal Costa. Fica claro o sentido do processo estético do qual esse disco é uma importante marca. Os baianos preparam o terreno com esse debut, retomando os ensinamentos de João Gilberto, para alguns meses à frente, revolucionar a música brasileira, assim como seu mestre tinha feito 10 anos antes.
Dentro desse contexto, o disco é de uma beleza ímpar, envelheceu muito bem e marca diversas outras estreias muito importantes para a música brasileira. Aqui podemos ouvir os belos primeiros arranjos de Francis Hime e Dori Caymmi que apesar de já prolífica carreira, estreia também como produtor do disco. Roberto Menescal também é arranjador de mão cheia que trouxe ao disco suas qualidades, presentes na canção “Domingo”, composição do Caetano.
Como já ressaltado, o tom geral do disco se engaja na Bossa nova, porém em “Quem me Dera” (Caetano Veloso), já podemos ouvir agogôs em ritmo de ijexá. Gal brilha com sua voz e emissão puras como um cristal, nos duetos com Caetano como em “Coração Vagabundo” – maior sucesso do disco – ou em “Domingo”. Brilha também solo como no lindo e comedido sambinha do Sidney Miller, “Maria Joana”.
Seja pela técnica, seja pela beleza, aqui Gal já começava a ser aclamada como a maior cantora brasileira por muitos setores da crítica, inclusive por seu mestre João Gilberto, que se apaixonou, literalmente pela baiana. Caetano retomava o fio da revolução efetuada pela bossa nova e despontava como um compositor em franca ascensão, que em alguns meses revolucionaria completamente o modo de se fazer música no país.
Os corações vagabundos aqui, estavam na busca de guardar o mundo em si, coisa que começaram a fazer em Domingo (1967) conquistando autonomia expressiva através da Bossa nova. Passando a ser conhecidos no Brasil pelo eixo Rio São Paulo.
Em seguida assumindo a revolução da música pop mundial, misturando-a às nossas expressões mais populares. Introduzindo a guitarra elétrica na música brasileira, utilizando os avanços das vanguardas musicais e conquistando literalmente o mundo. E assim se passaram 50 anos, até que recentemente Caetano Veloso ao passear por um mosteiro no Japão se bate de frente com um monge, que canta pra ele Coração Vagabundo em sinal de reconhecimento.
Acho que não é preciso dizer mais nada né?