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Gabriel O Pensador Embarca na máquina do tempo brasileira.

Gabriel O Pensador, um dos pilares do rap brasileiro, embarca na máquina do tempo quebrada no modo: volta ao passado agora, chamada Brasil!!

O rap tem uma força incrível de plasmar momentos e situações políticas em crônicas poético musicais que são capazes de presentificar com a força da arte, momentos históricos, situações de ruptura e mesmo conclamar e conseguir alcançar as pessoas desejosas de mudanças. Gabriel O Pensador é um dos mestres do rap no Brasil, e nesse momento em que o país vive uma volta ao passado em ritmo alucinante, ele reedita um dos seus grandes sucessos. 

Reedição no sentido em que o artista consegue trazer a tona a mesma atmosfera que vivíamos em 1992 quando ele lançou o clássico Hoje Eu Tô Feliz Matei o Presidente, na época um tiro poético alvejando o caçador de marajás, Fernando Collor de Mello. A parte 2 dessa música lançada agora, 24 anos depois nesta última noite de quinta feira, nos coloca a todos numa estranha sensação de estar dentro daquele 175 Nada Especial. 

A música Tô Feliz (Matei O Presidente) 2 (2017) é assustadora, um verdadeiro tapa na cara de todos nós, massa inerte diante de tantas atrocidades seguidas que assistimos diariamente. E o susto é exatamente esta absurda proximidade que alcançamos com os tempos em que a primeira versão foi lançada. Principalmente se você tem alguma familiaridade com o disco de estreia e com a obra do rapper carioca até 1996 pelo menos. O disco homônimo Gabriel O Pensador (1993), abordava então, diversas questões que estão presentes nessa música, no clipe e no tempos atuais. 

Com a produção e o beat de Papatinho (Conecrew Diretoria) e a co-produção de Apollo 9 a música é gestada como um sonho, uma volta ao primeiro contato com a “tribo” que Gabriel teve em Cachimbo da Paz (1996). Porém, se lá o cachimbo produzia reflexões relatando a viagem de um “cacique” que em contato com a sabedoria indígena descobria os males da nossa violência, agora o sonho transforma-se em pesadelo, se lembrarmos do nosso atual presidente.

Recentemente o presidente empossado pelo golpe Michel Temer, assinou um decreto extinguindo a RENCA (Reserva Nacional do Cobre e Associados), área amazônica de aproximadamente 4 milhões de hectares (quase do tamanho da Dinamarca). Em meio a reações de horror e indignação mundiais pelo crime, investigações jornalisticas apontam que grandes empresas mineradoras já sabiam 5 meses antes da medida, como em matéria publicada na BBC Brasil. Isso pra ficarmos apenas em uma das centenas de ataques que os interesses do país e os nossos cofres públicos vem sofrendo diuturnamente. 

Em 1992 a música lançada como single foi censurada e só voltou a luz um ano depois com o disco lançado. Outra característica bastante atual, em tempos onde a arte vem sendo constantemente atacada e a tentação da censura fascistoide vem novamente a tona. A transformação da moral em pauta politica é a estrategia atual para retirar – e tem conseguido – a atenção diante das verdadeiras questões políticas que hoje enfrentamos. 

A direção inteligente de PH Stelzer com a co-direção do próprio Gabriel o Pensador, reúne além de imagens na selva, takes em diversas cidades brasileiras. E a música que em sua primeira versão tinha no mc o herói, agora é apoiada pela esperança de um povo por vir. Inteligentemente, há um deslocamento da ideia presente na versão anterior, para um chamamento coletivo. Em tempos de mitos fãs da tortura e de todos os tipos de preconceitos eclodindo, de super “gestores não-políticos” produzindo rações humanas, a ideia de herói é a mais danosa. A ideia de que precisamos de alguém portando super poderes para resolver nossos problemas é mais um desejo fascista. 

Ao se entregar para confessar o seu – nosso – desejo de matar todos os políticos corruptos, ao fantasiar uma morte espontânea desses mesmos políticos, a música joga em nossa cara o verdadeiro problema. A violência nesse momento, mais do que justificada, não é a solução quando direcionada a pessoas, a personalidades construídas dentro de um sistema que as apoia e as deforma. Apenas a sublimação, ou o redirecionamento dessa violência para o próprio sistema é capaz de produzir o mundo mais igual como o descrito na canção.

A mudança de país necessária ainda vai demorar muito porque infelizmente não existe o povo para fazê-la, hoje sobretudo, onde as pessoas esquecem e respondem na rapidez da internet à problemas que demandam muita atenção. Embarcando em divisões históricas numa selvageria digna das famigeradas brigas de torcidas, personalizando soluções e mitificando em vida personagens políticos, o começo de uma conscientização se apresenta distante. Infelizmente, a massa que compõe a sociedade brasileira se encontra em transe nessa volta rápida ao passado, que solapou nossas instituições democráticas e como a música bem coloca matar o presidente é apenas um sonho.

Gabriel O Pensador com Tô Feliz (Matei o Presidente) 2, possui o mérito de produzir uma versão mas do que necessária de uma música que deveria ter ficado no passado. Uma deliciosa, engraçada e critica lembrança do passado que tínhamos superado. Sua qualidade artística que hoje se desdobra em palestras e na autoria de livros infantis, provavelmente por isso, teve que se deslocar para o presente, para nos chamar a atenção do passado que já vivemos. A farsa que vivemos atualmente, precisava e o rap como arma de transformação mental, também, desse puxão de orelha como que nos levando a olhar o passado. A perceber que a cena do rap que hoje se regozija em exigências de sucesso imediato, ostentação e discurso político mal elaborado, precisa pensar melhor as grandes questões nacionais e ninguém melhor que ele pra tal serviço.

Esperamos que não precisemos prolongar mais essa viagem sofrida ao passado até os tempos da real ditadura militar e de repente termos Chico Buarque fazendo Cálice 2. Que essa velha/nova música reeditada com a esperança de um futuro melhor, seja capaz de acordar alguns para o tempo presente que vivemos. Enquanto isso sugerimos que para melhor nos ambientarmos no nosso tempo histórico escutemos esse clássico inteiro:

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