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Fuzzuês, uma imersão ancestral

Fuzzuês, um duo preto de misturas sonoras ancestrais e contemporâneas lança seu primeiro single, ampliando as fronteiras pretas do rock!!

Todo mundo sabe que as raízes do rock são pretas! Os que negam esse fato o fazem por maucaratismo ou por racismo mesmo. A Indústria Cultural obteve sucesso ao promover artistas brancos nos anos 50 e apresentá-los como a linha de frente do novo gênero nascente. A juventude branca nascida no confortável seio da classe média estadunidense, que vivia a primeira década de ouro do sonho americano, precisava se reconhecer nos artistas. O sucesso do novo negócio dependia disso.

Assim, nomes como Everly Brothers, Buddy Holly and The Crickets, Roy Orbson, Jerry Lee Lewis, Gene Vincent, Bill Harley and His Comets, estes não serviam sequer pra afinar as cordas da guitarra do Chuck Berry, são nomes que passaram a receber uma atenção especial da indústria e serem apresentados como criadores do novo gênero que surgia. Elvis, coroado pela indústria como Rei do Rock, cantava e dançava claramente buscando influência na cultura preta. Deste ponto em diante houve um embranquecimento do gênero.

Embora Hendrix tenha alcançado o panteão do rock e se tornando um de seus deuses, todos os outros que o circundam são brancos. Porém, todo processo de opressão gera movimentos de resistência. Não foi diferente com o processo de embranquecimento do rock. Death, Pure Hell, Living Colour, Bad Brains, Body Count são nomes que empreenderam a resistência contra o processo de embranquecimento do rock. Bandas que foram colocadas à margem dos movimentos dos quais fizeram parte, comparado com os representantes brancos, mas que sempre estiveram realizando a luta pra se fazerem presentes. 

Fuzzuês, duo preto formado por Uly Nogueira (guitarra) e Mariô Onofre (bateria), engrossa essas fileiras de luta que mostram a presença preta no rock. Lançaram recentemente o single Voodoo Trabalhando, uma sonoridade construída com elementos do country blues, Uly usa de forma bastantes pessoal e intensa a slide guittar, envenenada por distorções trazendo num só estilo Hendrix e Robert Johnson. Sonoridade temperada por uma estética punk e experimental, desvelada através de uma batida xamânica de marcação intensa produzidas pelas baquetas energizadas pelo espírito ancestral evocado por Mariô Onofre.

Uly Nogueira e Mariô Onofre em ação!

A melodia é descompassada, desenhada através de um canto gritado, remetendo a toda uma atmosfera espiritual, invocada pelo transe ancestral de rituais que marcam a passagem para fase adulta, a celebração da fertilidade ou mesmo a preparação para a guerra. Uma evocação dos espíritos da savanas, florestas e desertos, transmutados numa realidade urbana numa realidade coberta de asfaltos e concretos armados em estruturas angustiantes. 

Na letra encontramos a remissão aos rituais de limpeza através da ligação com a natureza. As folhas são invocadas como elementos de purificação e de reordenação do mundo através desse ritualismo. O banho de folhas que colocará esse indivíduo em contato com sua cultura, que uma vez restaurada aos seus domínios permitirá que uma ética seja estabelecida a partir dela. Através da qual a conduta de si estará em acordo com esses valores restabelecidos. “É o voodoo trabalhando!”

Podemos ver se desenhar uma presença ancestral buscada através do transe, alcançado através dos sons que fazem brotar a ritualística que abre a porta para o reencontro com o que sempre esteve presente em você mesmo: África. Que já não é um território demarcado geograficamente, mas um estado de espirito que conecta irmão e irmãs entre si e com seus antepassados e antepassadas. Estes estão presentes nos sons transmitidos através das gerações, juntamente com os costumes, as palavras, os gestos, os valores, com todo acervo de elementos culturais que jamais puderam ser usurpados, porque não eram guardados nos corpos mas nos espíritos.

Mariô já trazia consigo essa bagagem referencial muito bem expressa no Mescalines, duo do qual fez parte e produziu músicas alucinatórias, libertadoras, sob condução de cadências rítmicas xamânicas. Mas esse encontro com Uly traz uma força ainda maior, pois é a consolidação de uma espiritualização calcada na imanência da luta preta pela existência e comunhão entre a matéria e o espírito. 

“O que vem de mim vem de antes,O que vem de antes vem de mim, O que vem de mim vem de antes, O que vem de antes vem de mim, O que vem de mim vem de antes, O que vem de antes vem de mim, O que vem de mim vem de antes, O que vem de antes vem de mim, O que vem de mim vem de antes, O que vem de antes vem de mim, O que vem de mim vem de antes ,O que vem de antes vem de mim, O que vem de mim vem de antes, O que vem de antes vem de mim, O que vem de mim vem de antes, O que vem de antes vem de mim, O que vem de mim vem de antes, O que vem de antes vem de mim……” Fuzzuês

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