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Futuro, Dois Mundos e um show

Futuro, banda punk de São Paulo, lançou recentemente “Dois Mundos”, um EP formado por 3 faixas de tirar o fôlego! 

Cartaz anunciando a tour nordestina da Futuro.

O Show em Salvador: o início da tour nordestina

Futuro é uma banda que está no corre há mais de uma década! Oriunda de São Paulo, a banda empreendeu recentemente sua primeira tour nordestina. O show que deu início a esta empreitada aconteceu em Salvador. Afinal a Bahia é a porta de entrada para o Nordeste pra quem vem do Sudeste do país.

A apresentação aconteceu no Bla, Bla, Bla, casa de show localizada no bairro boêmio do Rio Vermelho. A casa sempre abriga os shows de bandas e artistas independentes de Salvador ou que estejam de passagem pela capital baiana.

Tive que ir conferir in loco o som da banda e fui obrigado a segurar meu queixo durante quase toda apresentação. A qualidade e intensidade do som feito pela banda impressionou. Se ocorreu algum vacilo, no que diz respeito a não deixar furos entre músicas e partes das músicas em si, passou desapercebido por mim.

Curti muito durante todo o show, assim como as pessoas ao meu redor. No palco a vocalista e os demais integrantes da Futuro mostravam plena concentração na execução das músicas. Sem, contudo, deixar de criar um vínculo com a plateia. Até porque, essa entrega da banda na busca de executar as músicas com a maior perfeição possível foi suficiente para colocar o público em sintonia com a banda.

Nas falas a respeito da emoção de estarem em Salvador e iniciando uma turnê por seis estados do Nordeste, ficou nítida a alegria de cada um por estarem realizando um desejo antigo. A banda entregou um show difícil de se esquecer e certamente levou muitas pessoas ali presentes a conhecer melhor a banda e ouvir seus registros lançados até aqui. 

“Dois Mundos”: Um EP para Agitar Corpos e Mentes

Arte de Capa de Dois Mundos.

Então bora falar sobre o lançamento mais recente da banda, o EP Dois Mundos! O registro foi lançado durante a tour pelo Nordeste, no dia 12 de dezembro. Ou seja, entre os show de Maceió (08/12) e Natal (13/12).

Antes de irmos para o Dois Mundos, deixa eu falar prôcês dos trampos lançados pela banda ao longo da sua caminhada até o Nordeste.

A Futuro lançou três álbuns. O primeiro deles, MMX saiu em 2011. No ano seguinte, 2012, veio o Futuro Plus. Já em 2014 foi lançado o Hábitos Ruins. Agora vamos para os EPs! O primeiro foi A Torre da Derrota de 2017, seguido por Os Segredos do Espaço e Tempo, lançado em 2020.

Agora já podemos falar do Dois Mundos! São três faixas matadoras, feitas pra agitar corpos e mentes!! As letras são excelentes e o instrumental irradia doses insanas de energia.

Particularmente, gosto do esmeros das bandas com relação à execução e arranjo de suas músicas. Cada parte de cada uma das músicas são ligadas cuidadosamente. Percebe-se uma coesão entre elas, dando uma organicidade às faixas, o que leva à organicidade entre as mesmas, portanto, ao EP.

A faixa de abertura dá nome ao EP. Em Dois Mundos, encontramos a metáfora para a cisão social radical encontrada nas sociedades construídas através do chicote da colonização. A burguesia faz o chicote brandir no lombo dos explorados para construir para si uma realidade de luxo. Enquanto, para os construtores, os explorados, resta colher as migalhas deixadas para trás.

A banda em ação!

Deste modo, duas realidades acabam por se formar. Sendo uma delas, luxuosa, mantida com o controle imposto à outra para manter seus ocupantes produzindo, a outra miserável, vivendo com o suficiente para manter seus corpos produzindo.

O arranjo musical feito pela Futuro para exprimir as emoções e sensações contidas na letra desta música, enfatiza os licks de guitarra,  aplicados de acordo com os destaques melódicos feitos pelo vocal. Aliás, o início da música é feito sem introdução. A banda já joga o ouvinte no vértice frenético da música.

E fica impossível sair dele, uma vez que a música não tem refrão e te leva até o final, te mantendo no frenesi despertado logo no início, com a execução da primeira nota.

Não podemos deixar de destacar a beleza das letras. Geralmente, bandas punk e hardcore criam suas letras dando sentido literal às mesmas. Camila Leão, letrista da banda, cria compõem suas letras recorrendo a figuras de linguagem, moldando a palavra, dando as letras um caráter poético.

Desse modo, caso o ouvinte, decida assumir a função de leitor, atendo-se à leitura da letra, perceberá um ritmo inerente aos versos. Muito bem captado pela banda na construção das melodia. Vejamos um exemplo pra ilustrar essa tese. A primeira estrofe da segunda faixa, Lucro Mórbido:

Pra onde seguir sem seu território?


Terras queimadas, mas as memórias que ardem


Choros e bombas ecoam no vazio, no vazio


Quem se alimenta das sombras da morte? 


Futuro em ação!

O primeiro verso questiona sobre para onde ir, uma vez que não há mais condições de viver em um lar, sem sua terra, sem seu país. Isso significa ser lançado numa esfera existencial sem perspectivas. Quem nos tomam nossos lares, nossa terra, nossa morada?

Os bancos, que não querem saber de seus problemas pessoais ou sobre a crise econômica do país, que levaram a impossibilidade de pagar as prestações do seu apartamento, e um oficial vai lhe entregar um mandato de reintegração de posse.

As mineradoras como a Vale, que provocam catástrofes ambientais e socioculturais sem precedentes e saem ilesas, pois tem seu Lucro Mórbido protegido pelos governos, pelos políticos em posse de um mandato. Os grandes latifundiário e empresários do agronegócio que grilam terras dos povos originários, os envenenam com álcool e agrotóxicos, muitas vezes enviando milicias armadas para expulsá-los violentamente, quando não matá-los.

No segundo verso a frase “Terras queimadas” evoca a devastação deixada para trás através do processo de exploração predatória dos recursos naturais. Já vivemos os efeitos do processo predatório em curso desde a primeira fase do capitalismo. Ou seja, durante o desenvolvimento da primeira Revolução Industrial, ainda lá no século XIX. 

Chegamos ao um momento crítico por nada nada ter sido feito anteriormente. Mas ainda é pior, porque estamos sentido na pele o preço dessa sede insaciável da burguesia ao redor do mundo pelo Lucro Mórbido. A tal ponto, desta classe dominante não estar nem um pouco preocupada em parar, ou ao menos desacelerar esse processo predatório. Porque pra eles, mesmo que sua avidez por mais e mais acúmulo de riquezas, leve a um futuro diatópico, este será apenas para os desvalidos, porque pra eles o futuro ainda será luxuoso.

A banda em ação.

Portanto, as “memórias que ardem” são daqueles que viveram sobre as “terras queimadas”. Os quais sentiram suas memórias arderem odiosamente por lembrarem terem perdido o mínimo de condição de sobrevivência.

Por suas memórias sempre açoitarem suas mentes. Através da certeza de que seus algozes desfrutam de uma vida luxuosa e prazerosa. E sempre desfrutarão.

Dessa estrofe o verso mais interessante é o 
”Choros e bombas ecoam no vazio, no vazio” . Isso porque a repetição da expressão “no vazio”, ao fazer uma enfatização do seu sentido, gera a sensação de “vazio” causada pela destruição deixada para trás.

Assim, os “choros” e as “bombas” passam a ter um peso maior, pois são emitidos e lançadas em uma terra devastada. Completamente desprovida de sentido. Este completamente absorvido pelo Lucro Mórbido acumulado pelos grandes conglomerados econômicos.

O último verso é uma pergunta retórica, “Quem se alimenta das sombras da morte?”. Desculpem a longa digressão.  Porém achei de bom tom comentar o trecho de uma das letras, para mostra a capacidade destas de despertar uma interpretação da realidade na qual estamos imersos. Assim como trazer a tona os recursos de linguagem utilizados pela letrista.

Pedro Carvalho e sua guitarra frenética.

Lucro Mórbido tem introdução, que cumpre o papel de preparar o terreno pro entrada intensa da linha vocal. Mais uma vez vamos encontrar velocidade e agressividade no instrumental no intuito de produzir no ouvinte a ideia de voracidade presente na expressão que dá nome à faixa.  

Fecha o EP Norm, ou Norma, faixa cantada em inglês. A letra questiona a intervenção desenfreada do pensamento mágico em nossa sociedade. Em particular nas esferas mais populares nas quais esse tipo de pensamento prolifera através das igrejas neopentecostais. 

A instauração do medo como prerrogativa de dominação dos fiéis, convertendo-os em servos pacíficos e militantes ferozes. A Norma consiste naquilo contido no discurso do pastor, que determina o que pode e não pode ser feito. O que é passível de punição e de recompensa.

Está é a única faixa do EP que tem um refrão, portanto vamos jogá-lo pra vocês logo abaixo. 

Eles rezam, mas não admitem
Que nenhum salvador está vindo
Ficamos e apodrecemos
Quem ainda está esperando?
Eu ouço as risadas
Todas vêm da mesma fonte
Já vimos os sinais, este é o mundo anestesiado

A anestesia apontada na letra vem da alienação causada pelo discurso pseudo religioso. Vivemos um momento histórico no qual as pessoas estão ávidas por salvadores. Todavia, vão um pouco além. Elas desejam se inserir em grupos. Contudo, estão completamente desprovidas de ferramentas que lhes possibilitem arcar com o custo existencial de serem responsáveis por construir o próprio sentido de sua existência.

Após ouvir Dois Mundos, duvido que resistirá ouvir os demais registros lançados pela banda. Se conseguir resistir, esteja certo de que não curte punk rock pra valer!

Beijo nocês e até a próxima matéria!

Futuro são essas pessoas aí ó:

Camila Leão – Vocal
Flávio Bá – Baixo
Cauê Xopô – Bateria
Pedro Carvalho – Guitarra

Todas as músicas são de autoria da Futuro
Letras por Camila Leão

Mixado por Pedro Carvalho
Arte por Flávio Bá

Agora ouça Dois Mundos da Futuro

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