Compre ou roube, mas descole o live do Zappa em Chicago

Uma das gravações ao vivo que saíram via Zappa Family Trust, a performance de Frank Zappa em Chicago, no Teatro Uptown (lllinois), durante a turnê de 1978, é uma dos melhores.

O Frank Zappa foi referência em muitas coisas. O oriundo de Baltimore era especialista em bigodes, P.h.D em tocar guitarras com um cigarro esfumaçando aquele bom e velho enfizema, Dr. em discos duplos e por que não dizer um mestre em registros ao vivo.

Frank Zappa

Numa discografia que compreende mais de 100 registros, é praticamente impossível encontrar uma estética com a qual o guitarrista não tenha flertado. A riqueza de seu legado é inestimável, e mesmo que sua energia cósmica e suas cavalares e ácidas doses de humor não estejam mais neste plano, o pessoal que cuida da Zappa Family Trust segue tratando seu bigode com todo o Grecin que ele merece.

Chicago 78′

E para fazer frente a este fato, um dos indicadores desse bom trabalho, apesar de algumas tretas recentes envolvendo os filhos do mago da SG – Dweezil e suas outras crias: Ahmet, Moon e Diva Zappa – declaro que a excelência de ”Chicago ’78” (lançado no dia 04 de novembro de 2016), é mais uma prova de como o talento e a visão desse monstro da música é de fato uma dádiva para a humanidade e vai muito mais além da disputa por dólares.

Ouvir o set desse show duplex é uma grande oportunidade para se entender o nível extraterrestre que o músico estava imerso na época. Vale lembrar que 1978 é o mesmo ano de lançamento do icônico ”Zappa In New York”, logo, é praticamente desnecessário salientar o altíssimo entrosamento, bem como o insano nível técnico da banda do senhor Frank.

Line Up:
Frank Zappa (guitarra/vocal)
Ike Willis (guitarra/vocal)
Denny Walley (guitarra slide/vocal)
Tommy Mars (teclados/vocal)
Peter Wolf (teclados)
Ed Mann (percussão/vocal)
Arthur Barrow (baixo/vocal)
Vinnie Colaiuta (bateria/vocal)

Track List CD1:
”Chicago Walk On”
”Twenty-One”
”Dancin’ Fool”
”Easy Meet”
”Honey, Don’t You Want A Man Like Me?”
”Keep It Greasy”
”Village Of The Sun”
”The Meek Shall Inherit Nothing”
”Bamboozled By Love”
”Sy Borg”

Track List CD2:
”Little House I Used To Live In”
”Paroxysmal Splendor (includes FZ & Pig/I’m A Beautiful Guy/Crew Slut)”
”Yo Mama”
”Magic Fingers”
”Don’t Eat The Yellow Snow”
”Strictly Genteel”
”Black Napkins”

Com um combo mais compacto, contando com nomes que hoje são figurinha carimbada numa possível votação de melhores músicos com os quais Zappa já trabalhou, aqui o groove foi cuidadosamente arquitetado por nomes que são referências dentro do campo de seus respectivos instrumentos.

 

Esse aí é mais um daqueles dias que eu gostaria de ter vivido e que com certeza justificaria todo o trampo perante o espaço tempo para viver esse momento graças ao ar da graça de uma máquina do tempo. São grandes passagens, como ”Twenty-One”, um instrumental amalucado que é difícil de acompanhar até com o dedo.

Mas para não dizer que o instrumental rouba a cena o tempo todo (because they do), Frank aparece com todo o potencial radiofônico de sua persona em ”Dancin’ Fool”, sempre fazendo uma pausa pra tirar sarro da platéia com ”Honey, Don’t You Want A Man Like Man”, tema que exalta sua voz grave de narrador de bingo clandestino.

Ainda sobre o disco um, vale ressaltar o grande trabalho feito por Denny Walley na guitarra slide em ”Bamboozled By Love”, além da perícia dos teclados de Tommy Mars, figura essencial durante a ascensão dos riffs de ”Sy Borg”.

Se esse disco fosse simples, já seria digno de comentários positivos e extremamente elogiosos, mas não, depois de pouco mais de 50 minutos, o disco 2 já entra na pista para impressionar os ouvintes por mais uma hora.

Aliás, a faixa que abre o set derradeiro já é um grande Blockbuster. Com ”Little House I Used To Live In”, Zappa instaura um caos muito bem chefiado por Vinnie na batera e Peter Wolf nos teclados. O feeling dos músicos é algo grandioso e são composições como essa que evidenciam a inteligência musical do criador deste peculiar universo.

 

 

Sua missão não era chocar por puro e absoluto deleite. Suas composições não eram sem sentido, tampouco seus experimentos, muitíssimo pelo contrário! Ter a oportunidade de ouvir as gravações ao vivo de Zappa & banda é uma chance de ouro para se entender o quão difícil é expandir a música dentro de um conceito criativo tão complexo e rico como os que se cruzaram em sua desafiadora musicalidade.

Zappa contou com dezenas de grupos diferentes, além de estéticas e abordagens completamente heterogêneas entre si, dentro de uma carreira bastante prolífica e longeva. No entanto, ele sempre conseguiu trazer um resultado coeso para o tecido sonoro. Outro detalhe interessante é que nessa época, os músicos envolvidos nessa gig eram bastante jovens, mas nem por isso Zappa fechou seus ouvidos para o que a nova geração estava fazendo, muito pelo contrário.  O medley que eles fazem logo depois da abertura do segundo disco é a prova disso, tem horas que o peso assusta e coloca muita bandinha de Rock no bolso! Mas fique tranquilo, se mesmo depois de tudo isso você ficar com alguma dúvida, a satírica ”Yo Mama” e todo o seu arregaço virtuose arrepiarão até os pelos da sua orelha canhota.

São dezenas de improvisos demenciais, meu caro. Você vai ver o estrago que os mais de 18 minutos de ”Don’t Eat The Yellow Snow” farão com seus ouvidos e, se você ainda se aguentar em pé, ajoelhe para rezar assim que ”Black Napkins” começar a reverberar nos falantes. Essa versão é digna de lágrimas e a bateria do Vinnie Colaiuta precisa ser estuda junta com a percussão do Ed Mann e toda a destreza de Ike Willis & cia limitada.

Senhoras e senhores: Frank Zappa

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