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EP FLOW Coltrane : Arte preta disruptiva contra a assimilação racial na musica rap – Ensaio

Flow Coltrane

Flow Coltrane, EP lançado por DJ Felipe e Aganju Uh Antifluencer, recebe aqui um misto de ensaio, artigo e memorial refletindo o processo de criação e a situação atual da Cultura Hip-Hop!

Aganju Uh Antifluencer & Dj Felipe

“ A música não deve ser fácil de entender.

 Você tem que chegar a musica por si mesmo, aos poucos.  – John  Coltrane

O EP Flow Coltrane, criado/produzido /gravado entre os anos de 2017/2018 e, lançado seis  anos depois no ano de 2024 é uma colab  artística entre  Dj Felipe & Aganju Uh Anti Influencer , que mergulharam profundamente na obra fonográfica  musicista de  jazz  John William Coltrane, ou John Coltrane(  1927- 1967 ) , que é considerado como o maior sax tenor do jazz, e um dos mais relevantes musicistas-compositores do gênero jazz  em todos os tempos.  

Para além do Jazz,  a obra de Jhon Coltrane influenciou artistico-criativamente gerações  músicos de diferentes gêneros musicais, indo desde o rock, rap, R&B, Afrobeat, música erudita. Ou mesmo, campos tão diversos como a matemática e a teoria musical (Círculo Coltrane), novas bases criativas da música jazz e até mesmo noções/experiências de  espiritualidade, ao ponto que Jhon Coltrane tornou-se literalmente um “ Santo”, da  Igreja Ortodoxa Africana Santo John Coltrane (Saint John Coltrane African Orthodox Church) , em Los Angeles , Estados Unidos, que a 43 anos cultua a obra  de John Coltrane através de “ missas” que são  verdadeiras sessões de improvisação de Jazz.

No presente ensaio farei algumas digressões históricas, para compreendermos aspectos macro relacionados aos  novos rearranjos da Indústria da música rap a nível nacional, bem como, discorrerei sobre os protagonismo comunitários da musica rap no recôncavo sul baiano. Nesse sentido, o ensaio em curso abordara muito além dos aspectos de criação  da obra fonográfica. O objetivo principal é de fato  situar a obra Flow Coltrane dentro do contexto de políticas comunitárias  pretas disruptivas que tem enfrentado  o processo de assimilação racial na musica rap pela supremacia brankkka a nível planetário.

Essa breve contextualização é de salutar importância, sobretudo, tendo em vista que Dj Felipe e Aganju Uh Antinfuencer são artistas pretos que enfrentam através de suas produções artísticas e do trabalho comunitário que desenvolvem nas periferias de Cachoeira –BA, o constante movimento da indústria cultural Supremacista branca em “ extrair compulsoriamente ” a musica rap da  Cultura Hip Hop , sobretudo dentro de um conjunto de  estratégias globais de invisibilização, criminalização  e assimilação racial  da cultura negra. Ou seja , Flow Coltrane é uma obra fonográfica  que tem como pano de fundo a Cultura Hip Hop como instrumento de enfrentamento as políticas de mortes genocidas que atingem a comunidade negra.

Do  Jazz rap ao Trap jazz em 15 minutos.

Aganju Uh Antifluencer & DJ Felipe no Studio em 2018

O extended play Flow Coltrane foi produzido musicalmente por DJ Felipe entre os anos de 2017 a 2018, quando compôs  uma série de beats na linhagem sonora do trap com os arranjos hipnóticos de “amostras” da obra de John Coltrane. Dj Felipe tomou  uma decisão criativa ousada – tal qual os produtores precursores do subgênero Jazz Rap nas décadas de 80 e 90 do século XX , que incorporaram a sonoridade, estética, método de criação e, sobretudo, samples de discos de musica Jazz,  aos beats de rap. 

O Jazz Rap, que para alguns esta para além de um subgênero, foi responsável pela expansão criativa de gerações de produtores e MC’s de Música Rap, que durante mais de duas décadas ( 80/90/2000)  realizaram laboratórios criativos nos mais variados campos estilísticos do Jazz;  Jazz Cool, Soul-Jazz, Hard Bop, Bebop. Do ponto de vista da estética rimática do Jazz Rap, poderíamos citar inúmeros MC’s que consolidaram essa estética lírica. No entanto, quero  destacar a colaboração estrutural do Mc/beatmaker Guru, membro do grupo Gang Starr juntamente com o aclamado Dj Premier.  Através da triologia “Guru’s Jazzmatazz”, lançada entre os anos de 1993 a 2000, o Mc Guru, que reuniu em seus álbuns expoentes do Jazz como Lonnie Liston SmithFreddie Hubbard e Donald Byrd , consolidou a estética do Jazz Rap dentro do contexto da Cultura Hip Hop.

-Leia nosso artigo: 5 Grandes Discos do Jazz Rap Brasileiro que você precisa conhecer!

O jazz também foi ao encontro da musica  Rap. Ou mesmo da Cultura Hip Hop de maneira geral. O melhor exemplo dessa conexão foi o último disco do  Jazzman Miles Davis, que lançou em 1992 o álbum póstumo Doo-Bop, produzido por Easy Mo bee, um dos grandes produtores de Rap e R&B, que assinou na época muitos beats da gravadora Bad Boy Record, que tinha como maiores artistas em seu  catálogo Big Daddy Kane e Notorius Big. No álbum Doo-Bop, Miles Davis improvisa encima de beats pesados na linhagem Boombap, com kicks, claps, snares, hi hats e linhas de baixo pesadas. 

-Leia nosso artigo: Miles Davis: o Hip Hop jazzístico de Doo-Bop

Foi dentro desse contexto de acúmulo do campo estético-criativo do subgênero Jazz Rap que Dj Felipe capturou amostras sonoras de  John Coltrane e as modulou, modificou, cortou, manipulou e construiu texturas  polifônicas, hibridando claps, kicks, 808 e hihats frenéticos, tudo isso  a mais de 130/140 BPMS. Para além da obra do saxofonista John Coltrane, Dj Felipe também incorporou o método produção/criação do próprio Jazz, sobretudo, no quesito freestyle, de deixar a “ arte fluir”, sem se limitar as normas estabelecidas pelo  próprio Jazz ou quaisquer outros gêneros musicais. 

O próprio John Coltrane consagrou-se como ícone do jazz através de uma postura estetica-criativa  disruptiva que ia de encontro as “normas estabelecidas”, da musica Jazz da época. Como aponta Ashley Khan, em seu livro “ A LOVE SUPREME”, John Coltrane  era considerado por alguns críticos como uma espécie de Anti-Jazz, já que subvertia padrões rítmicos, que o mesmo ajudou a edificar nos anos anteriores ao álbum A Love Supreme ;

“Compor qualquer tipo de musica é um desafio: muita coisa é subjetiva, vem da reação pessoal. Quando o assunto é Coltrane , as apostas são mais altas. Ele obrigou os críticos a inventar terminologias para descrever suas inovações em termos de técnica e estilo. “ camadas de som”, escreveu um critico sobre suas rajadas sônicas em 1958. “ Anntijazz” , escreveu  outro critico , anos depois.” ( Ashley Khan,em A LOVE SUPREME: a criação do Album clássico de John Coltrane, Pag 21).

Foi amparado nesse espírito de livre criação que além dos samples clássicos de John Coltrane, Dj Felipe explorou outras sonoridades. No melhor estilo “FreebeatJazz” – me permitam o neologismo – o EP Flow Coltrane traz uma sonoridade polifônica, alargando a própria noção de “ Jazz rap”, ao trazer as marcações de bateria da sonoridade Trap – também um subgênero da musica rap –  hibridadas com amostras diversas de trechos de musicas de John Coltrane. Mas Dj Felipe  vai além, ao literalmente fazer uma verdadeira trap (armadilha) para os ouvintes, que  após percorrerem  as três primeiras faixas do EP Flow Coltrane, vão dar de cara  com beats de  samples diversos, como por exemplo, o sample de uma transição da aclamada música “ Candy Shop” do artista 50 Cent, produzida musicalmente pelo produtor musical Scott Storch.

Os  princípios líricos disruptivos.

Quando Aganju entrou no Studio Ibori no ano de 2018 para gravar as vozes do EP Flow Coltrane tinha um conjunto de letras/escritos soltos que haviam sido construídos em diferentes momentos entre os anos de 2015 a 2018. Os beats do EP Flow Coltrane foram apresentados para Aganju Uh Anti Influencer ( que na época era apenas Aganju)  no  primeiro semestre de 2018. Aproximadamente três a quatro meses depois Aganju entrava em Studio com Dj Felipe e gravava as primeiras vozes do Extended Play que ganhou seu titulo nessa mesma sessão de gravação. 

O título “ Flow Coltrane” além de uma referência  direta aos samples que Dj Felipe pesquisou na obra do  Jazz Man Coltrane, também era uma referência ao método de criação/construção da letra que da nome ao EP  que foi  escrita por Aganju enquanto escutava álbuns de John Coltrane; foi apenas no Studio que transformou seus escritos em Flows,  barras, métricas, técnicas rimáticas. 

Há também um pano de fundo afetivo-pscológico que  esta inserido o processo de criação das letras do EP Flow Coltrane . O EP  percorre as nuances de uma  luta solitária contra o desejo incessante de morrer (suicídio), onde praticamente apenas a arte e a espiritualidade de matriz africana foram os espaços de acolhimento afetivo-psicológico para Aganju, que  durante todo o ano de 2017, lutou internamente para não sucumbir há um quadro depressivo que o acompanha silenciosamente por anos. Diante desse contexto, cabe discorrermos acerca dos princípios criativos disruptivos das letras desenvolvidas para o EP Flow Coltrane. 

A palavra  Imani significa fé/espiritualidade na língua tradicional Swahili.  Quando escrevi a musica Imani em 2017 estava no ápice de uma crescente depressiva e luto extendido, após  a morte prematura de minha primeira filha, Isis Yamasse, que veio a óbito em janeiro de 2017. Estava sozinho nessa jornada. Minha condição era invizibilizada, desacreditada, ou mesmo, tratada como um devaneio de minha parte. Pra me salvar de mim mesmo me auto-refugei nas dimensões estruturais de meu modo de minha vida; trabalho comunitário, produção musical e espiritualidade. 

Primeiramente me joguei de cabeça no trabalho comunitário de articulação de Cineclubes e   disseminação da Cultura Hip Hop nas periferias urbanas de Cachoeira –BA, através de minha atuação como co-fundador e educador comunitário no Cine  Clube comunitário do Povo ( 2011) e do Centro Comunitário Luiz Orlando ( 2017 ). Concomitante as políticas comunitárias, me inseri em outros meandros  da musica rap , mais especificamente ao que diz respeito ao campo da produção de beats. Ao mesmo tempo tornava-me um dos co-fundadores do Studio Ibori (2017), que surge a partir do protagonismo de um grupo de Mcs, DJs , produtores culturais autônomos, estudantes de audiovisual, cine clubistas e militantes comunitários, que se reuniram com o propósito de construir um espaço seguro de produção musical independente para juventude negra moradora de periferias urbanas e Cachoeira-BA. 

Unindo o trabalho comunitário e a coordenação de um Selo musical independente estava à espiritualidade. Mais especificamente a religiosidade de Matriz Africana. De fato a religiosidade de matriz africana foi literalmente a instituição que acolheu minhas demandas psicológicas de saúde mental. A cada obrigação no terreiro, tomando os banhos de folha, batendo cabeça nos pés dos santos e conversando/convivendo com os mais velhos, fortalecia  cada vez mais meu Ori. 

Tanto o refrão quanto o verso/letra da musica Imani foram escritos observando e aprendendo. O refrão veio de uma reflexão de um Ogan mais velho que disse certa vez: “Meu fio a fé nos orixá que nos mantém de pé. Filho de Xango  até quando cai, cai pra cima“. A o que eu respondi: “É ogan retroceder jamais.Não adianta testarem nossa fé”. Estávamos conversando sobre alguns casos recentes de Ódio racial contra as religiões de Matriz Africana. Horas depois  já tinha desenvolvido o refrão,cuja melodia inclusive readaptei de um ponto de Exu. Já o verso da letra fui escrevendo por partes ao longo dos meses  a medida que obrigações religiosas aconteciam  no terreiro. 

Um pouco do que vivi, vi, senti e me contaram. O próprio verso inicial é uma descrição do meu cotidiano na época, aonde relato de como chegava em prantos “com meus olhos vermelho em sangue”. Também descrevi um pouco da geografia religiosa do terreiro que sou Ogan, ao falar da posição dos assentamentos de Exu da casa, assim como discorrer sobre as folhas sagradas que curam o corpo, a mente e o espirito ;

“ Vi no horizonte um Rio de fogo , Meus olhos vermelhos em sangue

Tranca rua no alto da escada , Pedra vigiando atrás da porta

Lavei meu corpo, Folha sagrada”

A musica Hotel Campo Grande é uma balada pornográfica que faz uma referencia direta há um conhecido hotel/motel do centro velho da cidade de Salvador. Havia escrito a letra no ano de 2015/2016 inclusive já havia gravado a letra no ano de 2016 em outro beat. Na verdade Hotel Campo Grande foi à segunda musica que gravei em Studio. Mais especificamente quando gravei no ano de 2015  a musica “  Us Kamisa Preta”,  que foi lançada juntamente com um vídeo clipe na Coletânea “ Reaja volume 1”.

Essa coletânea reuniu um time de peso do Rap baiano e eu era o único MC  do interior da Bahia. Quem produziu a coletânea foi  um dos  produtores mais fantásticos da Bahia, um verdadeiro OG ; Diego 157. Lembro muito bem do dia que gravei as  tracks “ Us Kamisa Preta” e “ Hotel Campo Grande” pois no dia sai de um ato contra os grupos de extermínio na Bahia, direto pro Studio de Diego 157, localizado em sua própria casa na cidade baixa de Salvador. 

Quando cheguei ao Studio já tinham alguns MC’s gravando. Quando gravei “Us Kamisa Preta “ o recinto ficou tenso sobretudo pela letra forte e, sobretudo, por que fui o único MC que trouxe um beat na linhagem da musica trap, todos os outros beats eram Boombaps. Teve um MC que soltou com certo desdém antes de eu gravar “ Vai colocar uns autotunes é rasta”. Ao que eu respondi “ que nada só vou botar uns versinhos’”. E que verso. A track “ Us Kamisa Preta” tornou-se tão diferenciada na coletânea que tivemos que fazer um vídeo clipe meses depois. No entanto, estamos aqui pra falar da  musica “ Hotel campo grande” certo? . 

Depois que gravei a track  “ Us Kamisa preta” falei com Diego 157 ; “  irmão teria como gravar uma outra musica? Só que essa não é pra coletânea”. Ele prontamente disse que sim, todos que estavam no Studio também fortaleceram a idéia, já que estavam impactados pela ferocidade das barras de “ Us Kamisa Preta”. Apresentei o beat que era um New Soul com sample de Amy  Winehouse que tinha baixado em um canal de beat livre. Gravei duas pistas diretas e já enquanto gravava ficou aquele clima “ que porra é essa que esse mano tá gravando?” . Quando Diego 157 soltou a guia na caixa geral ficou meio de “ queixo caído”, um misto de surpresa, desentendimento e, sobretudo, surpresa com  qualidade rimática que  consegui imprimir em uma letra totalmente destoante do “ gangsta rap soteropolitano”. 

Por anos guardei  a track Hotel Campo Grande. De 2015 a 2018 cantei a música em algumas apresentações e sempre era uma track que a galera ia ao delírio literalmente. Mas cantava mais como um laboratório, sem intenção de lançar a música para um público maior. Não por vergonha, ou insegurança, ou preocupado com as projeções dos outros  sobre o que deveria escrever. O que me fez guardar a track, é que tinha certeza que precisava de um beat original e distinto. Foi então que no ano de 2018 Dj Felipe  soltou no Studio o beat que viria a ser a musica “Hotel Campo Grande”. Na hora peguei um dos meus cadernos de letras e disparei de  uma vez só as  barras. O flow encaixou perfeitamente. Parecia que  o beat que o DJ Felipe fez com samples da música “Naima” de John Coltrane, estava aguardando a letra da música Hotel Campo Grande. 

A  musica Flow Coltrane foi escrita no ano de 2018 enquanto ouvia o álbum A LOVE SUPREME de John Coltrane. Escrevi me referenciando no baixo de Jimmy Garrison  e nos sopros ferozes de Coltrane. É por isso que do ponto de vista da métrica é uma track complexa e hipnótica; literalmente uma obra referenciada no chamado Círculo Coltrane. É uma musica que não tem um tema. Na verdade passeia por varias dimensões; históricas, cognitivas, psicológicas, afetivas, insurrecional, criminal. Por isso observo que cada pessoa que ouve absorve mais um aspecto dos múltiplos temas e subtemas. Nessa Track faço Jazz com rimas ; freeflowjazz ; mais um neologismo.

Meses depois  que escrevi a letra,  DJ Felipe me apresentou o beat que viria ser a track Flow Coltrane , apenas ajustei algumas barras e elaborei o refrão. Essa track mesmo antes de ser lançada é literalmente um clássico da chamada “área 75”. Uma das músicas – juntamente com Castelo e Exu Vigia – que meio que educou o público do Recôncavo sul a “ bater cabeça” no melhor estilo rap punk. 

Quando essa track toca na pista  é como se um ritual começasse. É incrível como uma track que foi tocada apenas em sons ao vivo por um período de cinco anos tem uma ramificação tão intensa na vida noturna do Recôncavo sul, sobretudo, entre as cidades de Cachoeira, Cruz das Almas e Santo Antônio de Jesus. 

É uma musica que criou suas próprias dinâmicas de comunicação, inclusive,  o próprio nome da track foi reelaborado pelo público, que a conhece a musica como “Us Pivet Crazy”. Inicialmente, a track tinha só minha voz, no entanto, conversando com DJ Felipe o convenci a colocar sua voz na segunda parte, como interpreta no melhor estilo MPB. As timbragens diferenciadas e entonação dos  Flows trouxe uma dinâmica única a musica, que ao repetir os versos trouxe uma atmosfera de looping hipnótico. 

Quando escrevi ainda não tinha titulo. Ou apenas títulos provisórios. Mas assim que gravei, recordo que tirei o fone e disse pro DJ ; “ Já sei o nome do EP. Que vai ser o mesmo nome dessa track ; Flow Coltrane.”  Essa musica é bem distinta, por isso também gravamos um videoclipe que estará disponibilizado ainda no primeiro semestre de 2024.

A  letra da musica estatística escrevi em 2015 e gravei uma primeira versão em 2016  em um beat feito pelo próprio DJ Felipe, onde cortou um samples do histórico grupo de reggae Remanescentes. Escrevi a letra em uma reunião em uma sala luxuosa da Secretaria de Promoção da Igualdade racial da Bahia ( SEPROMI). 

Na época estava ativamente envolvido com o processo de luta por justiça e verdade protagonizado pelos familiares, parentes e amigos das vítimas da chacina do Cabula ( 2015) , que juntamente com a Campanha Reaja ou será morto/a, travava uma luta comunitária de enfrentamento ao Genocídio do Povo Negro na Bahia. Essa reunião na SEPROMI, foi articulada pelo próprio governo genocida da Bahia, através de seus prepostos negros/as linhas auxiliares, com o intuito de minar a luta política comunitária. 

O governo mandou pra reunião uma mulher negra de meia idade, lésbica, ligada ao  povo de santo. Ela vestia um suntuoso vestido de estampa africana e usava brincos de ouro com o formato do machado de Xango. Ela ficou quase uma hora falando como o governo da Bahia estava reduzindo os índices de violência letal, apresentou gráficos, estatísticas, curvas de nível, bem como, passou maior pano pra polícia, com um discurso que a corporação  policial baiana prezava pelos “direitos humano”. Foi vendo essa cena patética protagonizada por uma “ referência” na política racial baiana, que escrevi na reunião mesmo, boa parte dos versos dessa musica; 

“Curvas de nível não explica o que sinto, lobbys financiam o genocídio”. 

Foi a partir dessa letra que comecei desenvolver um dos conceitos que amadureci ao longo de minha trajetória acadêmica no mestrado e doutorado; a noção político racial de Linhas auxiliares. Entendendo por linhas auxiliares ou forças auxiliares, o conjunto de instâncias estatais, paraestatais e da iniciativa privada, que compõem a intricada rede política de alianças da supremacia branca no contexto específico de uma guerra racial de alta intensidade. As linhas auxiliares sustentam o projeto civilizacional da supremacia em momentos de crise. Além de controlar ideologicamente a opinião pública; seja legitimando o projeto genocida em curso; ou subdimensionando o impacto da guerra racial na comunidade negra.

No contexto específico da guerra racial de alta intensidade na Bahia, as linhas auxiliares são essencialmente, a extensa rede de alianças da supremacia branca, composta por partidos políticos, o lobby das ONGs de direitos humanos, o falido projeto político da promoção da igualdade racial, o lobby dos grupos de pesquisas nas universidades públicas e privadas, o lobby do emprendendorismo étnico; que tem jogado o nome do honorável Garvey na lama e por fim, o mais recente lobby do genocídio da juventude negra” ou “extermínio da população pobre e negra”.

A letra ficou guardada por anos; de 2015 a 2018.  Perdi o beat original que era no sample de Remanescentes. Achei que seria uma letra engavetada. No entanto, a criação é uma partícula  do divino, desse modo, tem caminhos, temporalidade e lógica própria. Foi no ano de 2018 quando ouvia as guias das primeiras tracks que havia gravado do EP Flow Coltrane, que  o Dj Felipe meio que “ por acidente” me mostrou, nas palavras dele: “ Tem esse beat aqui. Mas não ta batendo muito “.

Na hora bateu foi tudo. Adiantei-me logo, peguei meus cadernos de letras, folheie páginas e mais páginas, até que achei a bomba. “Vamos gravar Dj”, anunciei. E gravamos. No final depois de ouvir algumas vezes com aquele balançar de cabeça característico quando beat e rima se entrelaçam, o DJ Felipe questionou: “ Ta batendo mesmo. Mas não é sample de John Coltrane. Faz como?” . Eu apenas respondi; “é isso mesmo DJ. É Jazz. Deixa a arte fluir pra onde ela quiser”.

Estatística é a única musica do EP Flow Coltrane que não tem refrão. No melhor estilo Rap, são mais de 3 minutos de rimas ininterruptas encima de um beat que facilmente poderia estar nas casas noturnas de maior sucesso do mundo. Mas, ao invés de falar de ouro sujo, de exaltação ao  consumo autodestrutivo de drogas ou ressaltar marcas escravocratas, direcionei as rimas a uma denuncia que englobava a supremacia brankkka e suas linhas auxiliares. Ao vivo essa track causa um efeito inusitado, já que ao mesmo tempo em que empolga o publico a dançar, também percebo que as rimas penetram fundo na subjetividade das pessoas negras. Os brancos como é de praxe ficam de consciência culpada ou fingem não entender.

A track 30 motivos foi escrita no ano de 2017, cerca de três meses depois que minha primeira filha – Isis Yamasse – havia falecido. Quando digo na letra “ Tipo Enoch não morri mas fui pro inferno, vi de perto Fetos triturados no concreto”, foi uma referência direta há cenas aberrantes que vi no hospital que minha filha veio a óbito. Essa track na verdade tem um dos métodos mais inusitados e também sinistros de criação que desenvolvi ao longo dos anos que é anotar meus pesadelos/sonhos assim que acordo. E quem me conhece sabe que  meus pesadelos/sonhos são abstrações fantásticas aterradoras. 

Na época não tinha sonhos, apenas pesadelos que me faziam acordar gritando ou ter espasmos violentos durante a noite. Durante todo o ano de 2017 anotei  o que lembrava e na virada do ano, literalmente reuni todas as anotações e escrevi a metade da musica, que até então não tinha refrão.

Meses depois já em Studio, o DJ Felipe me apresentou o beat que viria ser a track “30 Motivos”. Minha primeira reação é a que todos tem quando escutam o beat , que é de uma espécie de euforia, saudosismo e espanto ao perceber que o sample principal da música é uma pequena – ainda que marcante – transição da aclamada  musica “ Candy Shop” do artistas 50 Cent, produzida musicalmente  pelo produtor musical Scott Storch. No Studio mesmo terminei o restante da letra da musica e adicionei o refrão que é uma reflexão acerca do fato que no ano de 2018 estava completando 30 anos de idade. 

No mesmo ano minha segunda filha – Imani- já estava a caminho de modo que um sopro de vida pulsava  vibrante em meu corpo, espírito , mente e sentimentos ; estava me reerguendo psicologicamente aos poucos. A track “30 Motivos” foi meio que o expurgo dos pedaços do simbionte da depressão que insistia em coabitar minha mente. Cuspi flows muito orientado pela noção da Lei de Murphy, que estabelece a máxima que “Se algo pode dar errado, dará” . Tudo esta interligado. Um movimento sincronizado das asas de uma borboleta na China pode gerar uma onda de energia que reverbera na formação de furações em outras partes do mundo. A lei de Murphy é letal, temos que conviver com eventos caóticos, distopicos, entrópicos. Tudo é possível. Passar frio no verão, sentir calor extremo no inverno, viver no conflito ou em paz consigo mesmo é sempre uma linha tênue. Tudo em principio já deu errado, as vezes  o que resta é reduzir os danos.

30 motivos é a unica track do EP Flow Coltrane que não experimentei ao vivo. Pelo que tou percebendo tá vindo outra track clássica pra embalar os rituais furiosos de Bate Cabeça no Baile Pelo Certo.

Supremacia branca e indústria cultural no contexto da musica rap contemporânea

O rap e o Jazz tem ligações históricas, que estão para além da música, aja vista, que ambos  “estilos musicais” são inseridos dentro do contexto da política racial transnacional da diáspora negra. São “ estilos musicais” que  estão ligados a modos de vida da comunidade negra, sobretudo, dentro de contextos de sociedades racialmente estratificadas. O  Jazz por exemplo, como apontou o historiador Eric Hobsbawn, esta estruturalmente ligado as políticas de resistência  racial da comunidade negra Estadunidense. Ao mesmo tempo o Rap surge dentro de um contexto de construção de estratégias comunitárias negras de enfrentamento as políticas de morte genocidas do governo dos EUA. E mais que isso, o Rap esta inserida dentro de um modo de vida que se consolidou esteticamente como Cultura Hip Hop. Ou seja, tanto o Jazz, quanto o rap, são estilos musicais inseridos dentro de itinerários comunitários de enfrentamento ao racismo e construção de práticas artísticas  negras disruptivas.  

O jazz, tal qual o rock in roll e, mais recentemente o rap, são estilos musicais historicamente marginalizados pelos dispositivos de morte física/social da supremacia brankkka.  Ao mesmo tempo ambos os estilos musicais – Jazz, Rock e Rap –  foram gradualmente sendo incorporados pela indústria cultural Supremacista Brankkka, ao ponto que contemporaneamente, os  recursos financeiros, modos de produção e veiculação, forças produtivas e de trabalho, que constituem a “ estrutura da cena” desses estilos musicais, estão quase que integralmente nas mãos de famílias brancas bilionárias, muitas vezes, que não tem ligação nenhuma com as expressões artísticas –musicais. 

O Rock,  por exemplo, chegou ao ponto em que  a maioria das pessoas tem uma imagem que é uma expressão artístico-musical que surgiu e se ramificou a partir da comunidade branca. O Jazz que historicamente foi a musica popular de libertação criativa do povo negro, tornou-se gradualmente um estilo musical ligado a padrões de consumo das elites. Já o rap esta gradualmente embranquecendo-se em todos os sentidos; do público aos artistas. Mesmos os artistas negros/as são “simulacros” de brancos,  definindo padrões de consumo, desejos, projeções e ideais de “sucesso” a partir dos padrões civilizacionais da supremacia brankkka. 

Dr. Frances Cress Welsing

Supremacia Brankkka. É disso que se trata. Como discorre a professora   Dra. Frances Cress Welsing  em suas pesquisas, que no mundo contemporâneo pelo menos ¾ da população é não-branca e, essa maioria de pessoas é submetida a dominação estrutural ao longo de suas existências, por uma ínfima parcela de pessoas no planeta que são classificadas como brancas (WELSING, 2020). Welsing demonstra em seu livro “  The CressTheory off collor-confrontation and racism (  White Supremacy)”,  que o racismo não é uma pratica meramente individual , ou mesmo de caráter institucional e, sim, um sistema total de dominação dos povos brancos sobre os povos não-brancos  operado por uma serie de dispositivos Supremacista brancos.  Esse sistema  total de dominação esta cada vez mais fortalecido e em constante expansão no mundo contemporâneo , de modo que, o objetivo principal do sistema de  supremacia branca – o aperfeiçoamento das condições de vida das pessoas brancas – nunca foi tão consistente.

No entanto, há dentro do contexto de sistema de dominação total da supremacia branca, aspectos psicológicos –cognitivos, que devem ser levados em conta, notadamente, dentro de uma sociedade ultra tecnológica, onde o algoritmo – dispositivo de guerra Supremacista branco- tem larga influência sobre aspectos variados da experiência humana. 

Nesses termos, Dra. Frances Cress Welsing, investiga a força motivacional psicológica dos padrões comportamentais das pessoas brancas em relação as pessoas não brancas, dentro de um contexto de  sistema de dominação da supremacia branca que atinge múltiplos aspectos da experiência humana; educação, economia, indústria cultural, mundo do trabalho, campo jurídico, politica, religião, sexo, etc. Nesse sentido, segundo a  Dra. Frances CressWelsing: 

“O sistema de supremacia branca , que opera em um nível universal e o faz ser o único racismo existente, eficaz e funcional no mundo contemporâneo. Além disso, a supremacia branca, na atual conjuntura histórica, é vista como uma total contradição social e a maior dinâmica social prevalecendo sobre todas as outras ao influenciar as praticas e as decisões sociais universais… Armados de tal visão, conhecimento e compreensão, os povos não-brancos deixarão de ser vulneráveis diante das manobras da supremacia branca. Os não-brancos serão menos vulneráveis as mensagens de superioridade branca que se irradiam por todo mudo conhecido e permeiam as culturas do globo terrestre, que são dominadas pelo sistema de supremacia branca” ( Cress- Welsing , pag 299, 2020) 

Contemporaneamente, a indústria cultural tem sido um dispositivo estratégico no desenvolvimento de uma complexa teia de dominação psico-sensorial do  regime de dominação  de espectro total da supremacia branca. É dentro desse contexto, que  a música rap tem sido assimilada racialmente pelos dispositivo da indústria cultural Supremacista,  que tem operado um processo silencioso de “extração compulsória” do rap, da sua vinculação inerente a Cultura Hip Hop . É um processo que tem alcançado reentrância a nível planetário, no entanto, desde a década de noventa o rap tem sido destituído de sua premissa de musica popular preta de libertação. 

Assata Shakur

A supremacia Brankkka tem utilizado o rap – e seus subgêneros- como dispositivos de normatização, controle e de alienação criativa compulsória da comunidade negra a nível planetário. Todo ouro sujo das jóias, a idealização de homens pretos adolescentes de 30 anos, ou de jovens negros simulacros de brankkkos vestindo marcas escravocratas banhadas em sangue é um projeto de poder  da supremacia brankkka que tem dado muito certo.  Como apontou Assata Shakur em meados dos anos 2000, diretamente de seu exílio em Cuba, esse processo não é recente:

“Quanto aos grupos de rap de agora estou impressionada pela quantidade  excessiva de talentos que se faz presente, mas ate gênios precisam ser apresentados a novos horizontes. O que realmente me machuca, as vezes, é que existe uma lacuna grande de consciência em suas músicas. Poderia haver muito mais. Rima é comunicação. Nós não podemos perder tempo em falar como somos enganadores e malandros …. Muito desses símbolos que estão nos discos e vídeo clipes de rap são indicadores de um consumismo decadente. Em um senso muito real, aquelas correntes de ouro, tênis, camisetas de marca, destacam o quão escravizados os rappers tem sido pela mentalidade de consumo dos EUA. Escravos do consumo” ( SHAKUR, Em Assata Shakur Escritos, pag 75 ).

Esse processo de assimilação racial da musica rap tem sido uma das manobras estratégicas da supremacia branca na consolidação de um sistema iconográfico de representações  sociais acerca dos modos de viver, morrer, amar e consumir da comunidade negra. Esse regime iconográfico de representações raciais ( SANTOS, 2019)  tem consolidado imagens de poder, controle  e criminalização da comunidade negra. Como elucida o pesquisador Daniel dos Santos (2019) em seu livro “ Como fabricar um Gangster”, 

Dr. Daniel dos Santos

“O sistema iconográfico de representações sobre os homens negros é uma das mais eficientes tecnologias do racismo, que possui na produção audiovisual um de seus mecanismos de manutenção dos paradoxos de raça e gênero, sendo campos de articulação de poder onde são desenvolvidos jogos desiguais inscritos em praticas discursivas …. Assim, raça e gênero são também construídos através das imagens produzidas pelo marketing, cinema, televisão , internet, dentre outras plataformas midiáticas…” ( SANTOS, 2019, pag 11).

É preciso ser dito que a Indústria cultural Supremacista é um dispositivo estratégico na constituição do discurso hegemônico responsável pela produção simbólica sobre a violência letal contra jovens homens negros, bem como pela legitimação de uma concepção abjeta do corpo negro, narrado na TV, jornal, revistas, musicas, vídeo clipes e sites de jornalismo online, como um corpo perigoso, sujo, alienavelmente criminoso, passível de ser exposto não somente a violência letal, pois mesmo morto, o corpo negro tem sua dignidade humana negada, quando exposto mutilado nos dispositivos de comunicação da Mass Mídia

Nesse sentido, a indústria cultural Supremacista tem sido a principal mantenedora e propagadora de um regime iconográfico  de representações raciais , que tem sido uma das principais tecnologias de subjugação racial da população não-branca do planeta terra.  O EP Flow Coltrane nesse sentido é uma obra fonográfica que  vai bem além de rimas/barras/flows e beats construídos a partir de  capturas de amostras sonoras de John Coltrane. É um programa cognitivo de libertação preta que vai de encontro aos dispositivos de controle cultural-cognitivo da indústria Cultural supremacista brankkka. 

EP Flow Coltrane conecta trans temporalmente  três  homens pretos; John Coltrane, Dj Felipe e Aganju. Essa conexão se dá em três dimensões sobretudo; 1) o rap como um gênero musical DIRETAMENTE influenciado pelo Free Jazz;  de onde você acha que veio a noção de freestyle?; 2) Tal qual John Coltrane, tanto Aganju, quanto Dj Felipe, tem o pleno entendimento que  a arte é espiritualidade. Através da arte os Deuses falam através de nosso corpos e vive versa, como disse o próprio Coltrane: “Deus respira  plenamente por meio de nós através da musica. Tão suavemente que ouvidos desatentos não percebem”. 3) E por fim os três artistas tem a percepção   que a musica é uma EXPERIÊNCIA complexa que demanda tempo , seja pra produzi-la, ou mesmo para apreciá-la.  Toda “banalização/normatização” da música atende a interesses que não são da própria musica.

-EP FLOW Coltrane : Arte preta disruptiva contra a assimilação racial na musica rap – Ensaio

Por Aganju Uh Antiinfluencer   

 

 

Alguma referencias bibliográficas

 NETO. Manoel Alves de Araújo. Experiências e Educação: Percepções Acerca da Formação intelectual de Mcs Negros/as do Recôncavo da Bahia. Dissertação, UNEB, ano; 2019. 

CONCEIÇÃO. Felipe Ramos. Perspectivas acerca de uma estratégia de enfrentamento ao genocídio no interior da Bahia: o Movimento Hip-Hop em Cachoeira no contexto da Antinegritude. Monografia, UFRB, 2019.

Quilombo x Ação cultural comunitária/Reaja ou Sera Morto/a. Assata Shakur : Escritos – Reaja ; Brasília, 2016 

SANTOS. Daniel dos. Como fabricar um Gangsta: masculinidades negras nos videoclipes de Jay-Z e 50 cent. Primeira edição/salvador –BA. Editora Devires ; 2019.

FERREIRA, F. A. S. Breves apontamentos sobre a necropolítica racial na Bahia – Terrorismo de Estado, Racismo e Letalidade na Ação Policial (2006-2015). Artigo no VII Seminário da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRB: Raça, sexualidade e poder –Sujeitos violados e seus discursos. Cachoeira-Ba, 2017.

FERREIRA, Fred Aganju Santiago. Sou Sem Terra, Sou Negão: Raça, Racismo e Política Racial no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Dissertação. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Cachoeira – Bahia, 2015.

FERREIRA, Fred Aganju Santiago. Matança de jovens homens negros no Recôncavo Sul da Bahia. Revista Akeko. Estudos Pós-coloniais e Decoloniais, Volume 2, n.1. Rio de Janeiro, UFRB. Setembro de 2019.

FERREIRA, Fred Aganju Santiago. O estranho caso da esquerda que esqueceu Rafael Braga: assimilação racial como tecnologia organizacional da esquerda branca no Brasil. In: Coleção Pensamento Preto: Epistemologia do renascimento africano volume II. União dos Coletivos Pan-africanistas. Editora Filhos da África, 2018.

Ferreira, Fred Aganju Santiago.  MAAFA: necropolítica racial no contexto do programa pacto pela vida da Bahia (2011-2018) – 2020.  Tese (doutorado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia E   Ciências Humanas, Centro de Estudos Afro-Orientais.  

 

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