Fiteck é um jovem artista que faz parte da renovação constante do cenário baiano da cultura Hip-Hop e você precisa conhecer!
Como muitos jovens negros baianos, Fiteck começou na música através do Rock, com uma banda de metal chamada Hellskull, muito novo ainda por volta dos 13 anos. A paixão pela música nunca o deixou parar de se interessar e pouco depois já no final da adolescência começou a produzir beats, até o ponto de se achar digno para rimar nas próprias produções. Aos 19 anos caiu no primeiro semestre de Administração na mesma sala de Makonnen Tafari e aí começa a tomar contato com a cena do rap feito na sua cidade.
O soundcloud foi sua primeira plataforma de lançamento e por lá lançou EP’s e singles, utilizando como muitos aquele espaço como um teste antes de se lançar em uma plataforma maior. Morador do bairro da Sussuarana desde os 7 anos quando se mudou da Suburbana, aos poucos também começou a tomar contato com o Sarau da Onça e com a Batalha da Onça, iniciativas capitaneadas entre outros pelo poeta e agitador cultural Sandro Sussuarana.
Sempre inquieto musicalmente, Fiteck transinta por diversos ritmos em seu trabalho, do Plug ao R&B, do Trap a ritmos africanos contemporâneos. Recentemente, Fiteck lançou um novo trabalho que renova sua produção com beats que navegam em uma wave gostosa de Afro Pop, Amapiano e de house music. Trazendo suas experiências como um homem negro, orgulhoso de sua negritude e de um artista inventivo que busca na auto afirmação de seu povo e na transmissão de auto estima, sua missão na música!
Conversamos com Fiteck para saber um pouco mais de sua caminhada e do seu novo lançamento e novos caminhos e projetos, confira abaixo a entrevista!
Oganpazan – Quando você começou no rap e como foi sua chegada dentro da cultura? Quais eram nessa época suas principais influências?
Fiteck – O meu primeiro contato com rap foi na infância quando meu tio me deu um DVD de hip-hop anos 2000 com vários clipes da época, algum tempo depois um vizinho estava ouvindo facção central no carro, e eu perguntei para ele o nome da música e era “Eu não pedi pra nascer” pois tinha me impactado e foi ali meu primeiro contato com o rap nacional, minhas primeiras influências eram 50 Cent, B2K ,Soulja Boy, D12, Snoop Dog, Facção Central e Racionais.
Oganpazan – De onde veio o impulso das suas primeiras composições e quais foram as suas principais dificuldades para começar a gravar?
Fiteck – Minhas primeiras composições foram na infância, eu via os clipes e as músicas dos artistas que eu gostava e tentava escrever baseado em coisas que eu gostava ou que eu vivia, mas nem imaginava a possibilidade de gravar na época. As principais dificuldades que encontrei para gravar as primeiras músicas foram de dinheiro e acesso, não sabia por onde começar nem tinha grana para isso, então comecei captando a voz no celular mesmo e vendo vídeos sobre mixagem até conseguir comprar o meu primeiro mic e ter acesso a um estúdio.
Oganpazan – Porque no seu trabalho, suas músicas geralmente não trazem observações ou críticas sociais e políticas ? Você como um jovem homem negro em uma sociedade onde o racismo e a desiguladade social são as regras, porque suas composições geralmente orbitam sobre amor e relacionamentos?
Fiteck – A maneira que desenvolvi o trabalho sobre minhas músicas é muito sobre como eu me sinto no momento, eu trago esses assuntos nas minhas músicas muitas vezes de forma não direta. Acredito que direcionar o meu trabalho para autoestima de pessoas como eu; pretas e periféricas que sofrem esses problemas sociais a partir do momento que coloca o pé fora de casa é muito mais eficiente e eu consigo sentir o efeito disso com o feedback que chega a mim.
Oganpazan – Como você pensa que a sua música se insere ou não, na cultura hip-hop, de que modo sua arte e sua postura contribuem com esse movimento que este ano completa 50 anos?
Fiteck – A minha música sempre foi muito influenciada pela cultura hip-hop e é perceptível essa influência através dos flows, das referências e da maneira que eu produzo, a minha postura como artista dentro da cultura é de trazer autoestima para o meu público, de ser mais um exemplo de pessoa preta que entrega excelência.
Oganpazan – Você tem muitas músicas e até alguns EP’s no seu soundcloud, porque não os lançou nos seus perfis nas plataformas que remuneram, como o Spotify por exemplo?
Fiteck – Meus primeiros trabalhos foram postados no soundcloud, foi a plataforma onde eu consumia muita música e vi a oportunidade de divulgar minha música lá, na época que comecei eu não tinha o conhecimento de postar nas plataformas, então muito das músicas que só estão lá é mais por esse motivo, porém eu também gosto de soltar algumas músicas somente no soundcloud como forma de carinho para as pessoas que me conheceram por lá.
Fiteck – Mercado. Salvador é uma ótima cidade para criar, gravar e se inspirar. Mas quando sua música não linka com o pagode ou com o axé, Salvador se torna a última cidade em que o artista deve estar, pois não existe dinheiro ou investimento rolando em outros meios musicais a não ser que o objetivo do artista seja viver de edital.
Oganpazan – Agora, sobre o disco, de onde veio a inspiração das sonoridades que você apresenta em Novo Sol, como se deu a composição do álbum?
Fiteck – Novo Sol veio de um momento em que eu precisava de uma renovação musical, queria sair da minha zona de conforto e entregar algo que eu ficasse viciado em ouvir e causar a mesma sensação no meu público. Na época que eu tava começando a produzir, eu tava ouvindo muito afrobeat’s, amapiano e house em geral, logo eu percebi que era isso e me joguei. A composição do álbum veio como eu sempre trabalho minhas composições, entrego minhas vivências e o que eu estou sentindo sem medo.
Oganpazan – O disco traz muitas parcerias, como elas foram construídas, e o que você sente que eles trouxeram para o disco?
Fiteck – As colaborações de Novo Sol chegaram como o encaixe perfeito, eu estava consumindo os estilos de música que citei na pergunta anterior e as pessoas que estão no álbum também, Zamba me mandou uns beats para eu experimentar, Cabral me mandou outros, PretoEterno me mandou mais uns e foi saindo e maneira natural e sincera.
Oganpazan – Qual o seu principal objetivo com esse novo lançamento e como tem sido a repercussão do trabalho entre o seu público? E quais os próximos passos?
Fiteck – O principal objetivo que tenho com Novo Sol é fazer o máximo de pessoas possíveis sentir o que eu senti quando ouvi ele pronto a primeira vez, é um trabalho onde me entreguei bastante e sinto que muita gente merece ouvir. A repercussão foi muito boa pois muitas pessoas estavam na expectativa do meu próximo disco, e eu me senti muito feliz com os feedbacks e a recepção do público após o lançamento, os próximos passos são os clipes do álbum.
Oganpazan – Para finalizar, você Liz Kaweria e JxKv tem uma ligação muito forte e muitas músicas juntos, como se deu essa construção e o que é Depois da Madrugada?
Fiteck – Liz e Jxkv são pessoas que a música colocou na minha vida, tipo uma benção. foi o encaixe perfeito, não sei como seria sem eles, pois a maneira que nós trabalhamos na Toca do Urso (estúdio de Jxkv) é muito fluida e as coisas acontecem. Vou ser eternamente grato. Depois da madrugada é um projeto onde eu, Liz, Jxkv e Teka juntamos as pessoas mais geniais que conhecemos para entregar um trabalho diferenciado para nosso público, ainda não podemos falar muita coisa.
-Fiteck lança o seu Novo Sol (2023) com pegada Afro pop, Amapiano e House music!
Por Danilo Cruz