Feralkat ousa ao lançar álbum referenciado por sonoridades abstratas e criações preocupadas mais com o contexto do que com a narrativa.
Feralkat lança álbum Inovador: Corpo no Mundo // Corpo que Habito
Conhecer o trabalho da Natasha Durski, desenvolvido sob o pseudônimo de Feralkat, foi surpreendente! Digo isso com sinceridade e alegria, pelo fato de ter poucas oportunidades de me deparar com trabalhos concentrados em buscar alguma originalidade.
A música independente permite essas ousadias! Sem pressão de investidores, torna-se possível preservar a integridade criadora própria do/ da artista, embora seja cobrado um preço muito alto.
Lidar com a precariedade da profissão dentro da bolha da música independente, por exemplo. Esse é o fio da navalha capitalista. Quando você tem a liberdade funcional, faltam os recursos financeiros, muitas veze mínimos, para a manutenção da sobrevivência.
Bom, nos concentremos na parte artística do trabalho de Feralkat. Natasha é uma artista versátil e talentosa. Atuando com excelência como cantora, compositora, produtora musical, multi-instrumentista e artista visual.
Intitulado Corpo no Mundo // Corpo que Habito, seu álbum de estreia teve lançamento oficial no dia 03 de novembro. O caminho até o lançamento do álbum rendeu três singles: Tonight lançado em 2021, Existo de 2022 e Tropicaos lançado em setembro de 2023.
Estes dois últimos ainda renderam dois clipes que traduzem em imagens os sons de ambas as músicas. Assista aqui o clipe de Existo e aqui o de Tropicaos.
Explorando Fronteiras Musicais e Emocionais
Neste trabalho inovador, Feralkat mescla o orgânico com o eletrônico, oferecendo uma experiência densa e intimista. O álbum perpassa diversas vertentes musicais, incluindo synthwave, dreampop, shoegaze, post punk, sadcore, lofi, noise e synthpop.
A artista curitibana mergulha em sentimentos como amor, dor e questionamentos existenciais, desenhando um universo sonoro que captura a complexidade da vida contemporânea.
Corpo no Mundo // Corpo que Habito é mais do que um simples conjunto de músicas. Trata-se de um álbum conceitual, fruto de um processo iniciado por Natasha em 2020. Ela explora a dualidade entre o indivíduo e a sociedade, entre o mundo exterior e o universo interno. Refletindo como essas dimensões afetam umas as outras.
Encarnada como FERALKAT, Natasha investiga com minúcia a essência humana, navegando entre o virtual e o real, a barbárie e o dito civilizado. O álbum busca não apenas condenar ou defender experiências, mas compreendê-las a partir de seus entrelaçamentos. Assim, resgata vivências profundas responsáveis por moldar nossa identidade.
Um Encontro entre a música e a reflexão
Natasha incorpora arquétipos do Tarot para criar as relações entre as faixas. Na capa, evoca a carta O Mundo – símbolo de novos começos, integração com o universo e consciência da impermanência.
Corpo no Mundo // Corpo que Habito é uma jornada que percorre os caminhos da vida humana, da sensualidade de “Miragem” ao questionamento existencial de “Existo”. Permitindo-se explorar temas mais lúgubres como o luto e a morte.
Bem como a transformação através do movimento dialético inerente ao mundo. Assim, este movimento entre forças contrárias, tais quais vida e morte, começo e fim, dor e prazer, amor e ódio. Ela nos mostra as tramas por ela urdidas ligando estes polos.
Os quais, infelizmente, a ideologia capitalista nos fez entender como separados e dentro de uma dicotomia maniqueísta.
Desse modo o álbum é uma obra- que exalta o tempo presente, enfrentando as dores da existência, assumindo todo peso inerente à reflexão sobre o iminente colapso do mundo. Consequência, portanto, de um sistema criado pela própria humanidade, que insiste em se manter rumo ao “Colapso Tropicaos”.
Dessa maneira, não exageramos ao afirmar que Feralkat vai além da música ao lançar seu álbum de estreia. Ela oferece uma narrativa sonora que transcende o mero entretenimento. E usa de suas composições para nos convidar, enquanto ouvintes, a uma reflexão conjunta e profunda sobre a vida e a condição humana.