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FBC em Outro Rolê (2021) Caminhada e progresso, UFFÉ

FBC

O mineiro FBC soltou seu novo EP, Outro Rolê (2021) com produções inovadoras do VHOOR e clipes gravados na Suíça, conversamos com o artista

Ao longo dos últimos anos, FBC conquistou seu espaço dentro da cena do rap nacional com lançamentos de clássicos instantâneos, discos de recepção dividida, estratégias de divulgação virais, polêmicas em redes sociais, mas sempre inquieto. Os passos até aqui em termos de produção musical e artística são facilmente reconhecíveis, ao pouco conhecido EP Caos (2013) se seguiu o imenso sucesso da DV Tribo que o apresentou em nível nacional. Após isso, vieram o S.C.A. (2018) que solidificou seu nome no cenário e se tornou um “clássico” instantâneo, PADRIM (2019) teve uma recepção dividida na mídia  especializada, mas da mesma forma fez muito sucesso.  

No ano passado, com estratégia própria de divulgação, foi a vez de vermos um dos poucos discos da história do rap nacional a trazer um duo entre um homem e uma mulher, com Best Duo(2020) trazendo FBC & Iza Sabino muito bem entrosados. Dos cinco anos que separam Caos e SCA, podemos inferir que possuindo condições de produção FBC seguirá fazendo o que nasceu e possui talento inegável para fazer: produzir música, dentro da cultura hip-hop e mais. Outro Rolê (2021) traz um FBC mais inquieto e buscando outras sonoridades,o que o VHOOR providenciou com uma série de beats fenomenais.

Abordando o drill com mesclas de funk e indo um pouco mais longe e colocando os tambores tradicionais da cultura brasileira, VHOOR apontou um caminho novo em termos instrumentais. Nesse espaço, FBC abriu a sua caixa de ferramenta e gerou um EP muito forte e partindo para Outro Rolê diferente do Trap que até então era sua marca registrada. Ao seu modo, abordando a cultura dos bailes de favela, a herança ancestral negra presente nos tambores, demonstrando suas inseguranças, as desigualdades sociais, o seu novo trabalho aponta outras perspectivas. Ao mesmo tempo, reafirmando o seu tino em produzir músicas que ficam presas em nossa mente, a exemplo da viral De Kenner!

Existe nesse novo projeto, uma interface entre o quanto a desigualdade social gera violência e beleza, morte e vida conquistada, tragédias cotidianas e glórias esparsas. O próprio FBC parece chamar atenção para essas dualidades, nos deixando entrever como a cultura hip-hop, o funk, possui funções importantes dentro de nossas favelas, mas o quanto o sucesso em termos de mercado dessas manifestações e culturas é a exceção que confirma a regra. 

Desde os tambores tocados nas senzalas ou em quilombos, até os batidões nos bailes, ou mesmo os graves dos raps são direções apontadas no nosso peito a outras direções. Trabalho coletivo, confraternização e lazer, expressão das angústias e dores de um povo oprimido há mais de 500 anos, nossos tambores são ritmados pelas nossas vidas. Seja no Cabana ou em Paris, é esse o sentido maior dos nossos tambores e de toda a música de origem negra produzida em diáspora: resistência às diversas formas de opressão. A história de FBC passa muito por isso e o artista consegue emular isso muito bem na concepção geral de Outro Rolê! 

O projeto teve a produtora WRM levando o FBC para Suíça e produzindo audiovisuais para ilustrar o EP Outro Rolê, o que causa um bom contraste quanto ao que falavamos acima sobre condições de produção e sobre o quanto a cultura hip hop segue oportunizando… Conversamos sobre a caminhada, sobre as novas produções e sobre os próximos passos do rapper. Confira 

Oganpazan – Esse ano se completa 8 anos desde o lançamento do seu primeiro EP C.A.O.S. (2013), o que mudou – se é que mudou – na “arte da guerra” do FBC?

FBC – Estamos completando 8 anos do lançamento do EP Caos, e 8 anos não são 8 dias, são dois governos aí pode-se dizer que ele veio daquela época do Lula,  do Duelo de MC’s. O que eu diria que mudou no Fabrício, o rapper o brasileiro de lá pra cá é que muita coisa mudou para melhor, hoje eu posso entender melhor as pautas que eu defendia naquela época, e que as defendo até hoje tá ligado, porém hoje eu abraço o que meu braço consegue abraçar. Graças a deus, eu cheguei no conceito da União da Força e da Fé que eu acredito que é a minha comunidade, que é fruto disso. que fruto da força das biqueiras, a força de seu crime, a fé de seus moradores, a luta em prol do melhor, da igualdade na comunidade. 

E aqui eu tive o abraço e o acolhimento necessário para continuar no trampo. Então acho que é isso, hoje eu estou mais calmo, hoje eu não respondo, só observo, respondo quando me é perguntado diretamente e as pessoas botam a cara. Parei de ter confrontos inúteis, acho que a arte da guerra é isso, você precisa conhecer seu inimigo primeiro: os policiais, os governantes, os brancos no topo do poder, sei lá eu acho que aqui em nossa comunidade o maior inimigo somos nós mesmos, a desunião, nossa falta de empatia, graças a deus hoje abraçando isso eu posso viver melhor e desenvolver melhor minha arte. É só notar a diferença do EP Caos  e esse novo EP Outro Rolê.        

Oganpazan – Nós temos acompanhado o seu trabalho desde o grande sucesso de S.C.A.R. (2016) e de lá pra cá a cada novo trabalho você parece buscar uma outra sonoridade, como se tem dado essas mudanças de uma produção para outra? 

FBC – Eu como um cara periférico, e que dentro da periferia conheceu todos os seus ritmos, desde a disco, forró, axé, samba, pagode,o rap, o funk, o rock também porque não, não tem como eu não fazer o que eu gosto, tá ligado, o que eu ouvia, e nessa a gente vai tentando experimentar, tentando encaixar dentro da nossa proposta original que é o rap, o que a gente gosta. E essa busca por sonoridades é bem natural é chegar lá e propor pro beatmaker: Consegue fazer isso? Consegue, então vambora e é isso. 

Tenho dois filhos, sou morador de comunidade, então aqui a gente não tem muito espaço – sem querer generalizar – de acesso a algum lugar que a gente possa estudar música, então tudo que a gente aprende é internet e o que a mídia tá mostrando pra nós. Mas, a minha pesquisa sempre foi mais refinada e esse refinamento se deu através dos meus grandes mestres Janu, VHOOR, Paco, pessoas daqui de BH que sempre estão me mostrando coisas novas, outros artistas de outros lugares e isso vai nos levando a uma evolução. OS amigos nerds da música ajudam nisso porque a busca pela satisfação e a busca pelo novo. Eu não ficaria satisfeito em fazer cinco SCA, cinco Padrim, repetindo fórmulas de cantar, acredito que eu nunca mais vou fazer uma música tipo Se eu não te contar, tá ligado? eu não consigo. A busca pelo novo é a busca pela vida, pela sobrevivência. Eu sou cercado por serras e morros, e a fascinação de saber o que está atrás dessas serras e desses morros é a curiosidade que nos move, na música, nas pautas, saber as coisas. Quando alguém me pergunta o que eu faço, eu digo que eu estudo.     

 

Oganpazan  – A DV Tribo foi um grupo muito importante nos últimos anos do rap nacional, porque nunca saiu um disco do bonde? Você ainda tem amizade com os outros ex-integrantes como é o relacionamento de vocês hoje?

FBC –  Sim, a DV Tribo foi espelho, tá ligado? E acho que nunca saiu um disco porque não tinha que sair mesmo, é isso. E hoje cada um tá no seu canto, eu tô aqui no morro não saio com essa pandemia, e é isso né? vida que segue, Deus é bom e justo o tempo todo. 

Oganpazan – Best Duo se inscreve numa tradição de discos de duos entre um MC e uma MC, você e Iza Sabino pensam em fazer um volume 2?    

FBC – Claro, sim sim, eu considero Best Duo, meu álbum cult, totalmente lado B, que é uma parada muito louca porque o pessoal aqui não deu a mínima, tudo bem né. Todos os nossos fãs que vieram do Best Duo são pessoas incríveis, são as pessoas que fizeram a campanha do whatsapp e são pessoas que são nossos fãs e nossos amigos até hoje tá ligado? tenho o numero de vários e vários tem o meu número, eu não troquei de número até hoje. 

E é isso Best Duo Vol. 2 vai acontecer no seu tempo também, acho que tudo acontece no seu tempo. Mas é capaz de daqui a um ano a gente fazer lgo, o que fudeu tudo foi a pandemia, talvez se não tivesse rolado isso, porque ficamos sem trabalho e sem trabalho a gente fica sem dinheiro e sem dinheiro, a gente gastou os recursos que a gente tinha tentando sobreviver e não temos como investir. Porque querendo ou não é investimento. Aproveitar para mandar um beijo para Iza Sabino, sua mãe, braba demais, ouçam Iza Sabino! ;

Oganpazan – Como se deu o processo de criação de Outro Rolê? De onde surgiu a ideia dessa sonoridade apresentada? Como se deu o processo junto com o VHOOR?

FBC – Mano, a Michele me mostrou o VHOOR no spotify e eu pensei na hora, caralho tenho que trabalhar com esse cara, falei com o Rafael meu produtor, vamos trabalhar com esse cara. Marcamos, fomos pro estúdio e no primeiro dia fizemos Champs Elysee; E nesse trampo buscamos explorar a sonoridade que o VHOOR já tinha de explorar misturas entre música africana com o funk de BH, e nisso nós fomos conversando e procurando novas referências, entendendo essas referências e nisso aconteceu o Outro Rolê. Que é uma parada mesclando tambor de terreiro, atabaques , tambores que são de sons regionais do Brasil e de países da África e isso é FODA, e disso o VHOOR entende, de música eletrônica feita em guetos por pessoas negras, afrodescendentes, que estão na Europa, nos EUA, e nisso o cara é um crânio. 

E eu fico feliz, pois a busca dessa sonoridade não falhou, e tem sido recebido muito bem pela crítica e pelo público. Nós pesquisamos muito, você tá ligado né Danilo, você mesmo aí me municiou aí com algumas referências muito boas, como aquelas dos cantos de trabalho. E nisso eu e o VHoor parecia que já tínhamos uma química, parecia que algo já estava pré-estabelecido porque a gente já sabia o que queria, o que queria fazer, e o processo foi natural. Em Junho vamos lançar o álbum que contém os Miami’s e as outras músicas que não saíram. E vocês podem esperar música boa, Batuque brasileiro de qualidade.  

Oganpazan – Você gravou os clipes desse novo EP na Suíça, como foi a experiência dessa sua primeira viagem internacional? Como é produzir fora do país e a vivência em um lugar estrangeiro? 

FBC – Oh Danilo, bem fria né? Congelante, porque a gente sai do Brasil para cair sem aviso prévio lá em Genebra em um frio de -6º graus, maluco que loucura. Demorou uns quatro dias pra eu me adaptar, quatro dias ali dentro da casa do Erick, aprecia que a cada dia que passava ficava menos frio, mas na verdade era o meu corpo que estava se acostumando com o lugar né? E o doido, de gravar no frio é que a imagem muda, a fotografia muda, é bem interessante a estética do frio da neve, muito bacana. 

E mano a doideira da vivência no estrangeiro é que tudo é novo, o ruim é que eu não domino o inglês, acho que a parte ruim é não poder andar com mais tranquilidade podendo nos comunicar na língua deles, poder conversar com as pessoas, e entender um pouco dos lugares ali. Mas eu digo a você que a maioria das pessoas na Suíça falam francês, e quem fala francês quer conversar na própria língua, quando o Erick ia falar com eles em inglês eles retrucavam: “Em francês por favor”” Sei lá, uma parada meio arrogante dos francófonos.  

Oganpazan – Nem bem você acabou de lançar o EP Outro Rolê e já anunciou um disco para esse primeiro semestre ainda, essa “pressa” tem haver com a pandemia e a impossibilidade de fazer shows? Você pode adiantar para os oganautas alguma informação sobre o disco? 

FBC – Pô mano, o que é que pega, o Outro Rolê foi uma coisa pré-datada né? Foi um contrato que eu assinei com a WRM, para ter 6 músicas e eles iriam me levar para a Europa, essa parceria toda, eles lançaram no canal deles e tal, só que no processo de criação do EP surgiram outras músicas, e músicas um pouco distintas mas sempre nessa pegada FBC e VHOOR e a gente não iria desperdiçar aquilo. Não iriamos lançar em singles de dois em dois meses, porque tem um conceito, todas elas se amarram muito bem no conceito, O nome do disco vai ser Baile vai sair no dia 6 de junho e o que podem esperar é que vem um disco de Miami Bass, anos 90, apelidado de Miami de BH, e é isso não vou falar muita coisa não! 

Oganpazan – Há poucos anos você estava levantando sua casa numa ocupação, hoje é certo dizer que você vive da sua música, né? Como você lê essa trajetória, e como é ser a exceção que confirma a regra? 

FBC – Poxa, graças a deus hoje eu vivo da minha música, caramba dois anos de pandemia, a gente sem trabalhar, eu acho que a necessidade é de lançar mais músicas né, mas sempre tomando cuidado para não chegar na exaustão da criatividade, acho que isso não pode acontecer. Porém, o bom de tudo isso, é que temos mais tempo de pesquisa, mais tempo para ler e ouvir, ver mais coisas, experimentar outras possibilidades tá ligado? 

E porra, eu vim do nada, eu acredito que eu ainda não conquistei um quinto do que eu posso conquistar, o jogo não está ganho, tá tudo em aberto são pontos corridos e é isso. Eu acho  que aquela máxima do basta acreditar, não a meritocrática, mas a da verdade e da consistência do trabalho, e para nós é mais difícil mas eu acredito e depois de ter ido pra Europa, é difícil pra todo brasileiro, viemos da barriga da miséria, somos filhos da miséria somos filhos do Brasil. Mas uma coisa é inegável, não somos muito de desistir, nós somos abatidos, trancados, esquecidos, mas desistir a gente não desiste tão fácil. 

E uma mensagem que mando pra todos sempre: Faça o que te faz feliz, faça o que você ama, seja a pessoa que te faz bem. Oganpazan e oganautas, gostei desse termo, beijos!

-FBC em Outro Rolê (2021) Caminhada e progresso, UFFÉ

Por Danilo Cruz 

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