FBC e Iza Sabino botam você pra jogar em Best Duo (2020), uma dupla que junto com o beatmaker SMU fizeram um disco para você dançar e pensar com o corpo!
Fiquei algumas semanas de 2019, finalzinho de ano escolar, ouvindo muitas vezes as guias de Best Duo (2020) e era sempre uma alegria dar o play. Findava mais um ano de 32 horas aulas semanais, e sempre que eu dava o play nas guias entre um disco e outro, era um alívio. Um pouco depois as mesmas guias foram vazadas para a fanbase do FBC. Uma jogada inédita até onde sabemos e que nos últimos dias tem me feito com que eu mesmo me pergunte: porque eu ainda não enjoei desse disco? E a resposta é bem simples, porque sempre que ouço eu tenho vontade de dançar, eu dou risada com as gastações, mas também pego a visão de algumas ideias que são vinculadas com leveza e humor. UHHHH AAAAAHHH
O Best Duo é um trio também, FBC, Iza Sabino e o beatmaker e produtor SMU encontraram um entrosamento que transparece no resultado final, mas que já estava em essências nas guias, tendo o disco a superioridade de apresentar o material com excelente qualidade de mix e master e com as participações que certamente engrandeceram o projeto. Se você lê o Oganpazan deve lembrar que escrevemos sobre os dois primeiros discos do FBC: S.C.A.(2018) e Padrim (2019), nas duas resenhas ressaltávamos entre outras questões, os posicionamentos políticos e a qualidades poéticas presentes nesses dois discos.
A Iza Sabino começamos a acompanhar no ano passado com o lançamento do seu EP Augusta (2019) de estreia que não resenhamos mas incluímos nessa matéria. E pesquisando ainda no ano passado vimos muitos dos seus trabalhos em singles e participações do tempo em que ela ainda assinava como Izabel Sabino. beatmaker e MC de muito talento como uma rápida audição nos links acima colocados pode nos mostrar. A jovem mineira vem fazendo uma caminhada muito consistente, e aqui em Best Duo demonstra uma versatilidade impressionante. Variando vozes, cuspindo linhas que desfilam a liberdade racial e sexual que ela vem conquistando, com qualidade e com diversos apontamentos políticos e sociais.
Gostaria de crer que esse projeto é algo que vai durar para além do disco, Iza e FBC se dão muito bem numa troca que é geracional e ao mesmo tempo onde conseguimos sentir uma troca real. Duplas só funcionam assim, e essa dupla tabela com muita qualidade. Essa tabelinha conduz tudo com muita leveza de modo a agarrar o ouvinte ao longo da audição, mudando tons, enfoques mas jogando com aquela qualidade futebol arte. A inspiração pode ter vindo dos games e do Free Fire de modo particular, mas o resultado é fortalecer os corres, Pelo menos é essa a forte impressão que bate, a vontade de dançar é imediata em todas as faixas, e ao mesmo tempo, não vemos groselha nenhuma ao longo das faixas.
O rap game possui diversos enfoques e ver um rapper como FBC soltar um disco que possui uma qualidade Pop inegável não nos parece colocar o MC na categoria de arrivista, muito pelo contrário. O que vemos é um MC que luta com as armas que possui, na música e na internet, observando o contexto político em que estamos imersos, com uma profundidade que está sempre a flor da pele. O que não o isenta de erros, mas enfim, quem não arrisca não petisca. Nas réguas morais tão em voga, o julgamento imediato se torna a famosa arma do zé povinho que prefere observar os erros aos acertos, a chatice às conquistas.
A sua Mãe é braba demais, e sinceramente é um estouro grande nesse disco, que por sua própria condição de mulher negra e lésbica apresenta ao longo das linhas os versos mais pesados em termos políticos por motivos óbvios. Ela varia flows, grita, chega de mansinho, meio sombria: “Minha mina tem uma garagem, o diabo habita nessa garagem”, manda o thcururururu, e junto com o El Padre, nos traz um disco bem humorado, parafraseia a Sandra de Sá. e pinta o diabo. Nesse e em vários outros sentidos a Iza Sabino foi a melhor dobra que o Padrim poderia ter encontrado, pois dobra o talento e as qualidades próprias do Padrim, Sua Mãe dá à luz num jogo musical com o FBC a um disco que em nossa opinião é um outro nível, um tanto diferente, outra fase, no caminho de matar as dificuldades.
“A vida é tipo um jogo mano, tem umas fase que é díficil mermo, é tipo como, é tipo um tanto, é tipo muitas mano, não é só você que é precisa do prêmio.”
Voltando ao Free Fire, há uma sublimação interessante tanto na ideia do game – dentro de nossa ignorância que não joga videogame – que é a de um jogador ou um squad que luta junto para vencer fases e conquistar a vitória no jogo. Nesse sentido o disco passa de uma mera analogia, para fundar aí mesmo uma concretude para o futuro incerto. A comunicação com um público futuro, os jovens hoje, que aqui tem acesso por uma trilha sonora para jogar, para viver, para entender um modo mais pragmático de encarar a arte, o hip-hop, o rap. Na nossa forma de ver, Best Duo (2020) é um disco de apelo pop irresistível com a qualidade de comunicar com o público jovem mas também com os mais velhos que se propõem a ouvir uma parada mais dançante.
Notem que não vou falar aqui das rimas e nem das técnicas utilizadas, por um motivo simples, eu só consegui ouvir esse disco como um bloco, sem recortes além das passagens das faixas. Isso aqui não precisa de nenhuma justificativa intelectual, seu corpo responde e se você tiver de má vontade: Vá ouvir o Roberto. Não que não seja possível dissecar, os beats, os esquemas de rimas, as adlibs, mas cada um sabe de suas prioridades, e nesse caso aqui a minha é meter dança. Ao longo das 10 faixas, se você estiver bem posicionado e realmente mal intencionado vai sacar a vibe que é proposta. Tudo é uma questão de perspectiva também, nesse e em outros jogos.
Como dissemos acima, as participações de Djonga, do grupo X sem Peita e da Paige, formam um squad matador nesse jogo de afetar nossos corpos com rimas e beats.O produtor SMU fez um trabalho competente, não estamos aqui no espaço da invenção propriamente vanguardista, mas de uma criação popular, e o sucesso é garantido não por um nivelamento por baixo, mas por entender quem tá e como está no jogo.
Escutem, vale muito a pena!
-FBC e Iza Sabino botam você pra jogar em Best Duo (2020)
Por Danilo Cruz
Foto que ilustra a matéria Leo Casa 1