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Faça Você Mesma Vol. II.

Em janeiro tivemos a edição II do Faça Você Mesma, festival que busca combater a invisibilidade feminina na produção do underground baiano. Confira o que rolou!

No dia 05/01/19, ocorreu a II edição do Faça Você Mesma Fest no Mercadão C.C. Na jornada de combate à invisibilidade feminina na produção no underground baiano, o Festival vai se estruturando como um espaço de articulação e autogestão para o combate do machismo na cena. 
Faça Você Mesma é um festival feminista que se propõe a divulgar os trabalhos das mulheres no underground. A programação do Vol 2 do Festival teve início com uma oficina de WenDo promovida pela Carol Reis, membro-sócio-fundadora do Rango Vegan, mãe, chefe de cozinha, uma mulher sempre ativa na cena além de responsável por um grupo de treinamento de WenDo aqui em Salvador. O WenDo é uma junção de várias artes marciais, voltado para defesa pessoal, surgiu no Canadá, na década de 1970.

O “wen” é a abreviação da palavra woman (mulher em inglês) e “do” significa “caminho” em Japonês. Apresenta-se como uma defesa pessoal para mulheres ou autodefesa feminista o que o difere da simples defesa pessoal, por não estar resumido na defesa física, tendo todo um trabalho direcionado para a violência de gênero, seja ela física, psicológica, verbal, emocional, entre outros.

Com sua prática no Brasil, a pauta da defesa pessoal tornou-se muito lembrada e buscada nos movimentos feministas. A oficina/debate promovido pela Carol foi enriquecedor para todxs. Sabemos que as mulheres precisam de mecanismos que estejam em todos os momentos a seu lado no combate às violências, tanto nos espaços privados quanto no espaço público. Nada melhor que a própria mulher produza e seja o mecanismo de defesa para si e para todas. Defender e buscar o protagonismo das mulheres em sua autodefesa.
Na sequência, recebemos o Projecte Úter (Espanha) para uma debate. O Projecte Úter é um desenho documental colaborativo que começou como uma pesquisa de histórias sobre abortos na Espanha. O painel de quase 2 metros de extensão, aborda histórias sobre saúde sexual e reprodutiva, relacionadas ao aborto, à maternidade e à construção da comunidade. Através do desenhos de animais, a imagem busca representar as diferentes formas do acesso ao aborto na Espanha, mostrando, por exemplo, situações muito similares as que vemos aqui no Brasil, partindo de uma análise crítica sobre a divisão social e econômica de diferentes mulheres, observando como é desigual o acesso ao aborto, mesmo quando se trata de um país com aborto legalizado.

Foi extremamente educativa e honesta a conversa com a Nara e a Toxina sobre o projeto, além da apreciação deste super desenho. As pautas sobre o aborto são muito urgentes para a nossa realidade, já que sabemos que anualmente milhares de mulheres morrem pela dificuldade de acesso ao aborto, o bate-papo foi tão enriquecedor quanto a demonstração do desenho, nele concluímos que quando se trata do direito feminino, os impasses serão sempre os mesmos, ainda que falemos sobre países de “primeiro mundo”. , e ele serve como um grito de liberdade para decidir por conta própria sobre nossos corpos.

Após as conversas, e de muita emoção, Lara Nunes, a campeã do concurso de Slam da Bahia, nos presenteou com seus versos, sua voz e seu violão. Preta, mórfica, catastrófica, foi o forte verso de sua música autoral que não só mostra sua força, como também grita sua presença: Eu vim para destruir, eu vim para derrubar. A presença de Lara, as suas palavras,  a sua crítica política e antifascista, nos deixou extremamente arrepiadas, algo que se repete ainda hoje,  a cada vez que lembramos  da potência de sua apresentação e da sua sinceridade em versos.
Por fim, contamos no encerramento com a discotecagem da DJ Sica, dessa vez ela participou discotecando – Sica participou da primeira edição com uma oficina. A discotecagem foi maravilhosa, porque além dela trazer um set list execelente – com elementos de soul e black music – Sica pode fazer uma discotecagem com vinis.

E durante todo o evento, rolou o Flash Day Tattoo com a tatuadora, artista plástica, de uma sensibilidade magnética, Moa.

Moa nos explicou um pouco sobre o seu processo criativo ao pensar os desenhos para o flash day tattoo: “Sou moa_amor ao vento ainda em tempo. Por ser assim não sou, vou… eu fui só. torta – louca – rouca – por entre as frestas. por ser perdida, estou. em movimento. Nasci dançando e fiquei assim até meus 20 anos, então me dediquei às artes plásticas. Aos 23, a tatuagem chegou até a mim daquele jeito: ao acaso. Pude aliar minhas paixões pelo desenho e à dança ao corpo como suporte. Sou pessoa de gênero não binário, feminista interseccional; tenho prazer em receber todo mundo no meu stúdio e dedico uma boa parte do meu tempo a mulheres e pessoas trans que encontram na tatuagem um meio de transformar suas memórias e marcas no corpo. O fim da violência de gênero é nossa urgência! Em tudo o que faço, carrego as marcas desse corpo no mundo que busca transformar politicamente e com afeto nossas experiências e aprendizados. Também nasci poeta. Sempre escrevendo, vou traduzindo na poesia minhas vivências e as histórias das pessoas que me atravessam: não raro você vai se deparar com a minha escrita através do nosso encontro mediado pela tattoo”

 

Que sorte a nossa! Podemos nos inspirar e conhecer esta mulher e artista de sensibilidade e percepção tão apuradas! Foi um encontro mágico.

 

Em março teremos a terceira edição, em breve taremos novidades.

 

Agradecimentos:

Não poderíamos deixar de agradecer à Victoria Zacconi pela arte gráfica do Faça Você Mesma Vol 1 e à Ri Maia pela arte do Vol 2. Sem o trampo destas mulheres incríveis, o evento não teria tanta visibilidade e aceitação. Nossa eterna gratidão!

 

Sobre as autoras:

 

Ana Lima

é professora de Filosofia. Anarcofeminista e vegana abolicionista.  Colaboradora do Coletivo Mosh Like a Girl e organizadora do Festival Faça Você Mesma.  Entusiasta e ativista em prol da produção e criação feminina de filmes de horror e aliada também ao site Mulheres no Horror.

 

 

 

 

Débora Molina

 é professora de literatura, feminista e baixista das bandas Mácula e Agnósia. Faz parte  da selo/distro/coletivo Crust or Die e é uma das organizadoras do Festival Faça Você Mesma.

 

 

 

 

 

 

Abaixo galeria de registros fotográficos do festival Faça Você Mesma Volume II feito pelo olhar apurado de Adriano Pansera. 

Faça Você Mesma Volume II

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