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Equação Para Diego 157 É Algo Demonstrado Com Prática!

Equação é o novo EP do capitão Diego 157 (F.M.E.) e em sua proposição matemática, o rapper nos propõem a junção entre poesia e revolução !!!

Não é por falta de trabalho e qualidade que ficaremos sem ouvir rap de protesto que não cai na mesmice e com muito conceito. Diego 157 soltou na pista mais um trabalho (Um a Mais) de sua lavra e como sempre temos ouvido, se faz relevante em meio a uma cena que não para. Não espere com isso “novidades”, no sentido de algo feito pra se adequar ao senso comum estético que também não para de nos chegar.

Equação (2016), o EP, conta com seis músicas em pesado boom bap revolucionário, com um estilo já conhecido e que só faz se reafirmar como aquilo que é: Luta. Diego 157 faz aquela alquimia que transforma sua poesia em uma arma de combate. Buscando conscientizar contra as violências de um estado genocida, em defesa das minorias (negros, mulheres, LGBT’s), reconhecendo o predomínio da raça como critério de exclusão.

Em seu home studio na CBX o mano trama os planos de sua revolução poética e grava suas pérolas para o nosso povo. Porém não é apenas estético o trabalho de Diego 157, que além de beatmaker com trabalhos em diversas produções de outros artistas nacionais, constrói uma forte história no rap baiano e segue capitaneando o F.M.E. (Fraternidade Maus Elementos), mas também milita. Militância não apenas em palavras e ritmo, mas junto ao forte Reaja ou Será Morto(a), indo ao sistema carcerário levar arte e ideias de progresso, pros manos que estão encarcerados pelo nosso estado hipócrita e racista. Seus rap’s vão além da mera emoção e dos clichês do estilo.

Todo esse caldo de uma sustância pouco vista é o que encontraremos mais uma vez em Equação, que traz-nos participações pontuais dos manos do Nois Por Nois (SETS e SAQK), Galf A.C. (que lançou recentemente essa pedrada aqui) e de Márcio M.U. , rimando sobre os instrumentais (capturados na net) do grande Apollo BrownParceiros, vizinhos, todos aliados nessa luta que alguns chamam de rap.

A introdução com o Teorema de Vó Rosa, a vovó do Diego, já nos dá uma bela ideia de sua valorização da família, mas, sobretudo, do respeito aos nossos ancestrais, vivos ou mortos. Respeito que se reflete no aprendizado, no sentimento de pertença a uma tradição que a muito nos faz sofrer. E parece ser essa a tônica daí pra frente, pois já em Meus Rap’s a segunda faixa, o mano bate na tecla da música rap que é hip hop, que não abre mão de levar informação e militância aos ouvidos de quem sempre está teleguiado por uma mídia alienante.

Uma discussão importante se coloca com essa música, um velho debate na verdade, entre mercado e arte, entretenimento e arte. Coisa que no rap divide opiniões e vem sendo abafado por um pretenso crescimento mercadológico. A música de consumo rápido também já está presente no rap, e é contra, porém sem excluir essa perspectiva, que Diego 157 se posiciona. Numa postura onde ele enquanto individuo e artista respeita a alteridade, mas busca se aliar e fortalecer a coletividade através da música de mensagem explicitamente politica. Pois o Mc e Beatmaker, parece ter muita consciência de qual é o seu caminho e consequentemente não deseja a eliminação de outros caminhos possíveis para a música.

Dois fortes aliados são os convocados para a terceira faixa: Esquema Sigiloso. Galf A.C. chama-nos atenção para o que seria esse esquema, a privatização da vida, movendo uma sociedade de zumbis que aceitam a servidão voluntariamente. Mais os manos estão mais nervosos do que um Tio turbinado de Pramil, como bem nos alerta Márcio M.U., e é bala e fogo contra esse sistema, estarrando tudo pra acabar com o sigilo e fazer nosso povo ver a real.

O disco segue com a rápida e cheia de ideias fortes, Oh Não!, que é de certa forma a reação que o sistema tem diante de tanta pedrada. Contra o disse me disse, a subserviência religiosa, o genocídio negro, sem ver bicho com nada, na madrugada a caneta expele palavras, frases, rimas contra essa cena triste.

Segue para T.R.A.S.H. com a participação dos manos do Nois Por Nois. Um forte visão da quebrada que faz emanar poesia em meio ao lixo, onde a dignidade humana é uma luta diária. CBX, berço dos mc’s desta faixa e de muitos outros artistas que conseguem se sair das armadilhas que o sistema planta dentro dos nossos guetos. Transformando nossos bairros periféricos em locais onde a violência não perde para nenhum país que vive uma guerra civil. Porém, onde as vitimas que tombam diuturnamente possuem raça definida. Faixa muito forte, uma das melhores deste EP pequeno apenas na quantidade.

A Granada Sem Pino é o próprio Diego 157 e sua arte, sendo a faixa que finaliza o EP apenas uma alegoria, mais uma, bem construída imagem do que é a relação entre o artista e a sociedade. Permanecendo próximo de seus ideais, apurando sua visão social e mantendo a critica às instituições falidas que mantem os pobres no lugar predeterminado pela colonização, seja ela politica ou mental. O rapper segue colocando os falsos com o cu na mão, pois eles nunca chegarão próximos da verdade que o (os) verdadeiro artista é capaz de sustentar.

Um viva pra Diego!

Gravação, Mixagem e Masterização: Diego 157

Instrumentais: Apollo Brown

Letras: Diego 157

Participações: Galf (AC) e Márcio M.U na faixa “Esquema Sigiloso” e Nois Por Nois na faixa “T.R.A.S.H”. Fotografia: Gil Daltro

Arte: Incomum

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