Batemos um papo com Wilson, baterista e membro original da Pastel de Miolos, sobre o novo Ep, ‘Mundo Podre’, lançado após o role da banda pela Europa.
https://youtu.be/8KHmxeWFmBE
A Pastel de Miolos, conhecida pela sigla PDM, mantêm-se na ativa há mais de vinte anos. Suas letras diretas, ácidas e antenadas ao contexto social e politico contemporâneos fizeram da banda de punk/ hardcore, uma das referências do gênero em todo país.
A PDM está prestes a lançar seu mais novo trabalho, o Ep ‘Mundo Podre‘, cujo lançamento acontecerá no dia 06 de abril na Bardos Bardos Casa da Trinca, no bairro mais boêmio de Salvador, o Rio Vermelho. Curiosos para saber de antemão algo a respeito desse ‘Mundo Podre’ da PDM, procuramos o baterista Wilson PDM que falou sobre o material explosivo feito por ele e o baixista e vocalista Andre PDM. Mais uma vez os dedos da Pastel de Miolos adentraram a ferida aberta que faz sangrar o Brasil desde o golpe político de 2016.
Confira o que te espera em ‘Mundo Podre’ da Pastel de Miolos e compareça ao lançamento pois vai rolar show com a PDM e os Ramoníacos. Até lá.
Carlim (Oganpazan): Bom Wilson, a Pastel De Miolos vai lançar um EP/CD na gringa. Como foi o processo de criação desse trampo?
Wilson (Pastel De Miolos): Cara, na real foi um lance que rolou sem muita pretensão. Durante o fechamento da Turnê Europeia – ago/set 2018, fomos informados que teríamos um dia inteiro no estúdio em Helsinki para gravarmos 2 faixas inéditas + 1 faixa com as outras bandas que saíram em turnê conosco (Blueintheface, Ozzmond). Então compomos 2 músicas: “Mate um politico por dia” e “Tudo pode acontecer”. A outra faixa, achamos que seria feita na hora, com as 3 bandas juntas, mas aí não rolou, houve um entendimento errado por ambas as partes durantes as traduções do Google Tradutor hehehehe e os gringos sugeriram fazer uma versão em Finlandês para “Mate um Político por dia” eles cantaram em Finlandês e gravaram a guitarra e percussão, e foi isso que rolou.
Carlim (Oganpazan): Qual motivo que levou vocês a lançarem o EP/CD fora do Brasil antes de lança-lo por aqui?
Wilson PDM: Ah! E o EP? O batera da Blueintheface é sócio de um selo (Herttoniemen Savuttomat Kasvissyöjät Records) e propôs lançar as 3 músicas pelo selo dele, sendo que, o EP não iria para as plataformas streaming, seria lançado via APP da gravadora, o poderá ser baixado a partir das lojas da Apple e da Google Play. O novo álbum da Blueintheface foi lançado nesse mesmo esquema, e ele informou que fica melhor o controle e recebimento, visto que, as plataformas não pagam de forma justa. Então, teremos a versão virtual que poderá ser baixada (Lançamento na Europa ocorrerá até final de abril/início de maio) e também a versão em CD – lançamento dia 6/04 com show no Bardos Bardos casa da Trinca – que será uma tiragem limitada com cópias numeradas, a arte da capa foi desenhada pelo Artista plástico Sergipano Adilson Lima e a diagramação segue uma estética cheia de referências ao que gostamos de ouvir, de certa forma é uma homenagem ao punk hardcore, quem conhece, conseguirá identificar essas referências, além disso tem um bônus track (show completo gravado durante nossa apresentação no Kulturak Klubi, Bratislava, Eslováquia). O material físico será distribuído no Brasil pela Trinca de Selos (Brechó Discos, Bigbross Records, São Rock Discos) e também pelo selo baiano Relutância Records & distro. Acreditamos que até final de Março isso já estará pronto. Mais pra frente, provavelmente role também fita cassete.
Carlim (Oganpazan): As duas faixas do EP/CD foram compostas durante a turnê ou haviam sido compostas anteriormente e estavam guardadas pra serem lançadas em outro projeto e daí surgiu a oportunidade na gringa?
Wilson PDM: Foram compostas especificamente para esse projeto. Quando ficamos sabendo que teríamos que gravar, durante o período de ensaios para turnê, começamos a compor. Foi aí que ressurgiu a ideia de fazer “Mate um Político por dia”. Falo em ressurgiu, pois acho que em 2016, diante do cenário político que vivíamos, veio essa frase em minha cabeça, postei um “card” no instagram da banda com essa frase, em seguida encomendei pra Tony Lopes a letra, disse que íamos fazer uma música e tal, mas não rolou. Tivemos vários fidibéquis sobre como a frase era “pesada” e que poderíamos ter problemas. Inclusive alguns chegadxs da gente falaram sobre o risco de termos problemas com censura e/ou até mesmo problemas maiores com a justiça. Por esses motivos acabamos deixando de lado. Com o lance da eleição de 2018 e com ascensão do candidato fascista filho da puta, André ressuscitou a ideia, e como ele costuma esquecer das coisas, hehehehe, não lembrava que tinha uma letra e fez outra, que era bem diferente da de Tony. Começamos a ensaiar e percebemos que precisávamos de mais uma estrofe. Foi então que pedi a Tony a última estrofe, foi ele quem a escreveu. Tem um lance interessante nela, a música deveria soar como duas músicas uma colada na outra, o final é outra música, mas acabamos deixando como uma só e nomeamos o EP a partir desse final. Quanto à outra, “Tudo pode acontecer” foi escrita por André e fala sobre as pessoas que mesmo com as adversidades impostas pela vida, continuam vivendo sem se importar e sem se vitimizar. A primeira faixa, será a versão gravada por membros da Blueintheface (Kimmo e Harri) e Ozzmond (Onni), cantada em Finlandês, com guitarra e uma discreta percussão. A letra foi reescrita por Kimmo e é algo como “Políticos mentirosos” ou “Político nariz de Pinóquio” ele chegou pra gente e disse que não tinha nenhuma pretensão em matar políticos hehehehehehe por isso ia fazer uma mudança na tradução, concordamos, afinal de contas, os políticos “deles” são beeeem diferentes dos “nossos”. O resultado ficou foda, comprova o quanto o punk Brasileiro e Finlandês soa bem parecido, só sacramenta nossas referências, visto que, ouvimos muito punk hc Finlandês. Kimmo também fez backing vocal (em Português) na nossa versão.
Carlim (Oganpazan): No início da resposta anterior você fala a respeito de terem problemas devido ao título da música Mate um político por dia, e que esse teria sido um motivo para desistir do seu lançamento em 2016. Esses problemas apareceram como haviam previsto?
Wilson PDM: Realmente, tivemos mesmo, a música saiu em outubro, antes das eleições como um single, mas não entrou nas plataformas de streaming pois a empresa agregadora (ONERPM) se negou a enviar. Alegou que a música contraria os princípios da empresa, ou seja, CENSURA. Argumentei duas vezes e inclusive mandei o texto escrito pelo Professor/Doutor Sandro Ornellas explicando sobre a real da música e a ONERPM sempre naquela de “Control C x Control V” com os “Termos e Condições”, foi aí que deixei quieto e soltei pelo Bandcamp e Youtube. Graças a este mesmo problema a Coletânea “Anuário rock baiano – vol#2 | 2018” passou quase 30 dias pra entrar nas plataformas e certamente foi por conta da música “Mate Um Político Por Dia”. Mas cara, essa não é a primeira vez que sofremos censura. No final da década de 1990, durante um show na praça pública de Lauro de Freitas, fomos impedidos de tocar a música “Indústria da Seca”, era época de eleição, daí recitamos a letra só pra não perdermos nossa fama de mal. Tem outro lance também com a capa da fita cassete “Tudo isso por nada” que é baseada na letra “Tapa na cara” Um broder e/ou Alex (na época baixista da banda) usava a camiseta com a estampa e durante uma abordagem policial, os policiais questionaram sobre a imagem. Enfim, acho que nosso papel é e sempre será esse né? A função de uma banda como a Pastel de Miolos é sempre jogar sal na ferida.
Carlim (Oganpazan): Vocês conseguiram resolver o problema da censura e disponibilizar a música nas plataformas digitais de interesse de vocês?
Wilson PDM: A música individualmente como um single, não foi, só conseguimos que ela entrasse nas plataformas via coletânea “Anuário Rock Baiano – vol#2 | 2018”
Carlim (Oganpazan): Vocêsestão com a previsão de receber o álbum físico até o final de março e intencionam lança-lo num show no dia 06 de abril na Bardos Bardos Casa da Trinca. Gostaria de saber qual a expectativa de vocês para o lançamento do álbum, receber as cópias e o show na Bardos.
Wilson PDM: Sim, surgiu o convite pra tocarmos na festa de aniversario de Manolo (vocalista do RAMONIACOS), daí decidimos lançar o álbum físico (e a camiseta) nesse dia. Vai ser uma verdadeira festa punk!
Carlim (Oganpazan): Tudo certo para o lançamento do álbum físico, mas pelo que você nos disse anteriormente, ainda persiste o entrave da disponibilização via plataformas digitais. Como vocês estão lidando com isso? Perderam o interesse em lança-lo nessas plataformas?
Wilson PDM: Na verdade, não foi perda de interesse, o selo Finlandês Herttoniemen Savuttomat Kasvissyöjät Records sugeriu não disponibilizar nas plataformas, e colamos com a sugestão deles, que preferem disponibilizar apenas via APP do selo, pois dessa forma, teremos um repasse mais digno, visto que, as plataformas pagam uma mixaria pelos “views” do álbum. Melhor assim, e também é uma forma de forçar a aquisição do CD, que será em formato digifile em papel cartão 340g, com encarte e um bônus track, trata-se do áudio do nosso show gravado na Bratislava (Eslováquia) e no encarte, também terá o endereço para assistir o show no Youtube. A versão para download não terá o bônus. No Brasil, o CD será distribuído pela “Trinca de Selos – Brechó Discos, Bigbross Records, São Rock Discos” e também pela Relutância Records.
Carlim (Oganpazan): Pra finalizar gostaria de falar sobre a formação adotada pela banda, um duo de baixo e bateria, bastante incomum e que a princípio gera estranheza pela falta da guitarra, que nos leva a esperar um vácuo nas músicas. Contudo não é o que acontece. O Reação! primeiro registro de estúdio com essa nova formação da Pastel de miolos, mostra toda potência do som de vocês, a ponto de não se sentir a falta da guitarra durante a audição das músicas. Como foi pra vocês construir essa sonoridade, suprindo a falta da guitarra na composição das músicas? O que, do ponto de vista de vocês, isso contribuiu para manter a densidade sonora da banda?
Wilson PDM: Véy, realmente gera estranheza, as pessoas ficam meio sem entender como é isso. De certa forma, pra gente foi bem arriscado e desafiador, nós não temos o “ícone” do rock, ou seja, a guitarra, sem ela tivemos/temos que dar tudo de nós pra suprir essa carência. Muitos amigos já chegaram pra nos falar que apostamos alto e ganhamos. Confesso que quando decidimos seguir nesse formato, conversamos nós dois e fizemos de certa forma um pacto que não seria apenas um baixo com pedal de distorção, teríamos que fazer algo mais complexo e foi o que fizemos. Nos esforçamos muito, temos que dar mais sangue, pra suprir a ausência de outro membro, a ideia é soar o mais pesado possível, pra deixar as pessoas que estão nos vendo em êxtase, algo tipo uma avalanche, uma manada, um caminhão desgovernado, e tem soado dessa forma. Estamos super satisfeitos com nosso momento atual. Está divertido, estamos curtindo e isso conta muito. Quanto ao processo de gravação, procuramos gravar exatamente como tocamos ao vivo, portanto, o que se ouve no disco, será ouvido ao vivo também. É tudo real, orgânico.
Pastel de Miolos é:
André Pastel de Miolos | baixo guitarra vocal Wilson Pastel de Miolos | bateria vocal
Ficha Técnica:
PASTEL DE MIOLOS
“Mundo Podre”
Produzido, mixado e masterizado por Pekka ”Splendid” Laine