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Entrevista com o Munha Da 7 da Satanique Samba Trio sobre o lançamento de Só Bad!

Satanique Samba Trio

Satanique Samba Trio 2023 por RC Ballerini e Pedro Hamdan

O projeto brasiliense Satanique Samba Trio, que nunca foi trio lança “Só Bad”, seu décimo quarto trabalho, no formato de fita k7

O Satanique Samba Trio, projeto candango que existe e subverte os tradicionais ritmos da música brasileira há mais de 20 anos e que NUNCA FOI UM TRIO está de volta com mais uma pedrada. O atualmente quinteto (formado por: Munha da 7, Jota Dale, Lupa Marques, Chico Oswald, DJ Beep Dee) apresenta “Só Bad”, seu décimo quarto álbum, no qual propõe “mais um experimento de sonoridade lo-fi em formato obsoleto”. O trabalho com 30 faixas chega no formato digital e também em fita k7. São “30 faixas captadas por gravadores analógicos antigos, apresentadas sob um véu de desgaste e envelhecimento”, explica Munha da 7, contrabaixista e líder da trupe.

Dividido em 2 lados, já que é assim que acontece nas fitas k7, o álbum traz no LADO A, 15 faixas desenvolvidas a partir de ritmos nordestinos como o forró e o baião e no LADO B, 15 variações do famigerado samba, motivo pelo qual o projeto existe, desconstruir esse ritmo tão brasileiro que traz em seu nome. Cientes da possibilidade de prejuízo, mas fiéis ao ancoradouro conceitual que os trouxe até aqui, o quinteto, expõe o baião e o samba em suas faces mais alteradas para ouvidos cansados de coisas lindas (e com acesso a toca-fitas de preferência).

Para entender melhor (ou tentar), resolvi bater um papo com Munha da 7, contrabaixista, líder e criador do projeto, que explica melhor os caminhos do trabalho, fala da banda, da música experimental no mundo e mais. Leia abaixo que ficou muito divertido, faça isso ouvindo os sons no bandcamp (onde dá pra comprar os sons e a fita k7), mais que também estão presentes em todos os streamings.

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – A Satanique tem mais de 20 anos sem parar e chegou ao 14º álbum. Num tá demais não?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Tá demais sim, mas a gente tem que pagar nossas contas, então seguimos. 

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – “Só Bad” é mais um passo no caminho bad vibes que a Satanique adotou em algum momento e nunca mais largou. Quando teremos um momento good vibes da banda?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – No mesmo dia em que formos um trio de verdade: JAMAIS.

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – Qual a ideia pro “Só Bad”? Digo, existe um conceito para revisitar sons nordestinos e atrelados ao samba ou é só a ocasião e a oportunidade de lançar mais um trabalho físico?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – É a continuação de uma série que começamos lá atrás com o Mó Bad (2015) e mais tarde com o Mais Bad (2019). Ambos foram lançados em vinil, então estão divididos em dois lados, assim como o Só Bad, que sai agora em fita k7. Nos três casos, exploramos ritmos nordestinos (baião, forró, frevo, maracatu, etc) no lado A. No lado B, as variações mais onipresentes do samba (pagode, bossa-nova, choro, samba-enredo, etc). 

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – O trabalho foi gravado ao vivo no esquema LO-FI por estética ou simples necessidade?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Pela estética. Os badtriptronics são inspirados nas bagatelas de Gyorgy Ligeti: peças curtas, despretensiosas e ágeis. Para diferenciá-las das outras músicas do SS3 – que muitas vezes também são curtas – e isolá-las em um ciclo próprio, optamos pela sonoridade lo-fi. E não se engane: é até mais trabalhoso do que as gravações convencionais, porque requer um processo de transferência das fitas/ celulares antigos pro computador que é, acima de tudo, chato para cacete. 

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – Tirando o Samba, que tá no nome da banda e obviamente vocês curtem muito alterar e deixar esquisito. Que outro estilo brasileiro dá prazer em subverter, alterar, renovar?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Todos os ritmos tradicionais. Neste processo de subversão acabamos conhecendo mais a fundo as características, os mecanismos estéticos, o histórico de cada ritmo tradicional. É,me perdoe o chavão, UMA VIAGEM RUMO AO CONHECIMENTO!

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – Uma característica marcante da banda, principalmente depois daquele álbum nos stories, são as faixas bem curtas, quase vinhetas. Vocês querem pegar os novinhos que só escutam musica de streaming ou virar trend no tiktok?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Primeiro que a gente já faz isso desde antes dos novinhos nascerem… e segundo que se fosse o caso, nosso tik tok estaria minimamente alimentado, mas aquilo lá vive às moscas, nosso assessor de imprensa nem sabe a senha de cor. 

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – Quando teremos um trabalho maior, mais trabalhado, aquele trabalho que lembra os áureos tempos da Satanique (se é que isso existiu mesmo)?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio)  – Como assim mais trabalhado? Esse último deu MUITO trabalho, são 30 faixas! Queria o que? 31? 

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – Você citou o húngaro Gyorgy Ligeti. Que outros compositores gringos doideiras da música erudita vocês tem influencia ou copiam descaradamente?! (nos traga conhecimento e nomes para jogar no google)

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Só vou citar dois porque são importantíssimos para o século XX, fora isso me recuso: Julius Eastman e Zeena Parkins. 

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – E um adendo: Fora da música erudita também, tem algum cantor FENÔMENO POP que o Satanique abraça?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio)  – Se você levar em conta que nossa pesquisa precisa prospectar o pool de clichês da MPB pra ter o que desconstruir, vivemos em contato com os ”fenômenos pops” mais venais. Uma instância que cito sempre é o CD da dupla ET & Rodolfo. “A Dança do ET” é uma galeria consultável dos chavões do pagode, por exemplo. 

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – Eu acho que você já falou disso em alguma outra entrevista que fizemos (foram muitas, até em video rolou), mas hoje em dia existe um contra senso no erudito, ao menos no Brasil?! Digo isso porque o Erudito sempre foi um som elitista e na história recente, boa parte dos músicos eruditos brasileiros são periféricos, oriundos de projetos sociais que envolvem o estilo (orquestras, etc). Alguma opinião sobre isso ou porquês?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Quando se democratiza um ambiente artístico, é natural que não só os braços se multipliquem como também os cérebros. A tendência é que pessoas advindas de projetos sociais, lá na ponta, quando estiverem em posições mais estratégicas de poder deem sequência a esses projetos. Por isso eles são importantes – não apenas porque aumentam estatisticamente o número de músicos no mercado – mas também porque perpetuam os projetos. A quantidade de músicos eruditos de excelência que temos agora é muito maior do que tínhamos nos anos 90, mas a quantidade de pensadores e gestores também. 

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – Na esteira da pergunta: é preciso ser intelectual para consumir e entender o Satanique Samba Trio?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Não é preciso ser intelectual para entender e muito menos consumir QUALQUER tipo de arte.

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – Na pergunta acima eu me referi ao Brasil, mas tem um músico pernambucano chamado Mateus Alves, que até lançou um álbum chamber e fez mestrado na Europa e uma vez entrevistei ele e ele disse que a experimentação de ponta no erudito mundial é do oriente (Japão, China, Malásia) e África. Tu que é do meio e viajou o mundo por aí tocando, percebe esse caminho?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Sim, em especial a África. Na verdade, tem sido assim há muito tempo –  Abdullah Ibrahim mesmo está aí desde os anos 60 –  a diferença é que agora, nossas antenas culturais alcançam o continente. Nem me restringiria à música nesse sentido. Nas artes plásticas também, o ciclo subsaariano já abandonou os limites do corpo humano como assunto prioritário, algo que o ocidente ainda tem muita dificuldade para afastar. A tendência ali é mais profunda, mais importante e mais contemporânea, o debate que ainda há de chegar nos ciclos ocidentais: o que exatamente é a consciência humana? 

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – Falando nisso, vocês já pensaram em ir morar na gringa?! Lá parece ser um lugar com muitos mais eventos pros sons que vocês fazem ou é impressão?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Não até o presente momento. Nossa inspiração está aqui. Na música, nas pessoas e ouso até dizer: na vibe. 

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – O que a Satanique ainda não fez que precisa fazer em termos de som?! Que ritmo ainda não subverteu e pretende?!

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Só te digo uma coisa: aguarde nosso 7 polegadas de AXÉ

Diego Pessoa (Hominis Canidae) – Se o Satanique fosse uma banda brasileira, que banda ela seria?! (qual artista nacional parece com a Satanique)

Munha da 7 (Satanique Samba Trio) – Bicho, eu sei lá. Não ouço música. 

-Entrevista com o Munha Da 7 da Satanique Samba Trio sobre o lançamento de Só Bad!

Por Diego Pessoa (Hominis Canidae)

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