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Entre Versos e Prosas, estréia do DaGanja completa 12 anos!

Entre Versos e Prosas, estréia do DaGanja completa 12 anos! Disco que é a primeira amostra completa da versatilidade e originalidade do MC.

Existem milhares de discos que nunca são grandioso em sua pequenez, ou dito de outro modo, existem muitos clássicos desconhecidos. Isso é facilmente perceptível e conhecido de quem pesquisa minimamente a história da música. O star system da indústria cultural consegue o prodígio de esconder uma série muito grande de grandes nomes que são verdadeiros “astros” apagados pela invisibilidade do “sistema solar” fajuto criado de modo artificial. Se os seus ouvidos estiverem funcionando corretamente, ao ouvir Entre Versos e Prosas (2008) você perceberá com muita facilidade que o rapper baiano DaGanja é um dos nomes mais relevantes da história do rap nacional.

A centralização e a atenção concentrada no rap feito no eixo Rio-São Paulo, aliada a pouca visibilidade e difusão de trabalhos desse gênero no nordeste brasileiro, faz com que trabalhos como esse disco não tenham nem de perto a atenção de que necessitam. O disco de estréia do rapper DaGanja possui ainda hoje uma modernidade que não é algo comum, um trabalho que não envelheceu e permanece aberto à descoberta. Ao longo de suas 10 faixas o disco se configura numa aula magna sobre originalidade e construção de um estilo próprio no rap nacional e na música de modo geral.

O disco foi gravado em 2008 no Studio One soteropolitano: a Freedom Rec Soul (Mr.Armeng e DJ Leandro), com mix e master no clássico Coro de Rato. Lançado em outubro daquele ano,  dada a qualidade e a força da música apresentada aqui e com as excelentes participações que esse álbum traz. O espírito gangueiro e guerreiro que aqui se expressa de modo inequívoco, hoje, dada a distância histórica fica mais evidente ainda. O jovem Alan conta-nos que assim como muitos jovens pretos e periféricos de Salcity, foi nos “batifun” de bairro que se aproximou da música.

Se é o samba-reggae sua primeira escola de ritmo e poesia, o DaGanja vai aos poucos cultivando um história que passa pelo Verbo de Malandro, funda um dos grupos mais icônicos do rap baiano: Afrogueto, íntegra o clássico Testemunhaz e por fim ajuda com sua experiência a compor a banca da UGangue. Como já frisamos em outros textos aqui no site onde o rapper supracitado esteve presente, é uma caminhada que poucos possuem, não apenas em milhagem nos corre, porém integrando grandes projetos coletivos para a história do rap/hip-hop baiano.

Hoje com composições suas gravadas e com parcerias em gigs com nomes como Psirico, Pedro Pondé, Dão e a Caravana Black  e Magary Lord, com mais dois discos Tá No Ar (2013) e Bonde 36 (2017) acrescentados a sua trajetória, vários clipes clássicos e uma infinidade de singles, DaGanja é um dos nomes fundamentais para se entender bem a música baiana no século XXI. Um compositor, cantor e rimador de versatilidade, capaz de ir do samba ao ragga e o dancehall, do afro pop ao funk, com mensagem forte e uma arte que não se dobra às investidas do mercado. Em sua obra, ele consegue fazer uma arte simples porém nem um pouco ordinária. 

O álbum de estréia Entre Versos e Prosas (2008), já trazia algumas misturas muito interessantes, mesclando samba com rap com sua própria cara, trazendo pitadas do reggae e do dub, e também se colocando no rap mais tradicional do boombap. Tudo isso, com um sua própria cara, uma levada gangueria, construções poéticas diretas e retas, combativo e swingado. As produções do disco ficaram por conta de DJ Leandro, Armeng, Finado e Ghost Killer (Cabo Verde)

Essas produções trazem a pimenta soteropolitana e africana que compõem parte original do trabalho. As participações também ajudam a compor o verdadeiro dreamteam do rap baiano que dão ao trabalho uma grandiosidade maior ainda, elevando o nível inicial do autor e levando o trabalho a direções outras. Dimak, Freeza, Joca (In.Vés), Sereno Loquaz, Fall, Léo Souza, Oz e Vitor Duarte (Cuba). Em letras que abordam a questão racial, que tratam das desigualdades sociais que vivemos, infelizmente até hoje, o disco tem um aspecto, que nos parece que é fruto direto da caminhada existencial do mano. 

Quem conhece um pouco mais de perto o rapper, sabe que um dos traços próprios de sua personalidade é a proatividade em busca dos seus desejos criativos e de suas necessidades econômicas. São muito poucos, que ao longo de uma trajetória como a do MC que conseguiram estar presentes em tantos projetos, terem tantas obras no currículo, e aqui não estamos falando de quantidade. O apego a essência do hip-hop é um fio condutor dos trampos de DaGanja, e nesse sentido em seu disco há uma série de ideias que seguem na direção de impulsionar as pessoas a seguirem seus sonhos. 

Da mesma sorte, são poucos os artistas baianos que possuem tamanho trânsito dentro de uma cena tão rica quanto Alan possui. É mais do que um MC, um músico e compositor respeitado nas diversas cenas, e se não há esse respeito é simplesmente por não conhecerem a força da sua trajetória. Um dos grandes de sua geração, alguém que precisa ser constantemente redescoberto!

Vida longa a essas prosas e a esses versos, passados e futuros! 

-Entre Versos e Prosas, estréia do DaGanja completa 12 anos!

Por Danilo Cruz

 

 

 

 

 

 

 

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