Oganpazan
Discos, Resenha

Em Meio A Guerra (2015) – NSC

NSC (NSCNeurônios Sub consciente) lança o seu terceiro disco, Em Meio a Guerra (2015) reafirmando toda a sua indignação e versatilidade.

É sempre uma experiência enriquecedora ouvirmos artistas de outras regiões, seja do nosso país, seja de outros países. Principalmente, quando esses artistas carregam consigo marcas muito forte de sua cultura, afinal num mundo globalizado essas diferenças muitas vezes são apagadas, mesmo que a qualidade musical permaneça.

Foi um alagoano radicado em Aracaju que numa noite em meio a algumas latinhas e muito papo (muita música reggae) me apresentou o clássico Vale do Reginaldo do NSC (Neurônios Sub-Conscientes). E deverei agradecer até o fim dos dias a Felipe Roots pela excelente indicação, porque por mais estranho que pareça talvez eu demorasse muito pra descobrir esse grupo; ou nem chegasse a conhecer. Estranho porque, apesar de estados próximos, não vemos um dialogo entre as cenas.

Pelo que acompanho de lá pra cá, Alex Neurônios e Kamikaze tem se apresentado em Pernambuco e Aracaju, mas ainda não tivemos o prazer de recebe-los aqui na Bahia. Porém, um dos papéis do Oganpazan é estabelecer linhas de diálogo entre grupos, estilos musicais e artistas das mais diferentes regiões do planeta Terra.

Pra quem não conhece o trabalho desses cabras nervosos e mega talentosos, o grupo já possui três álbuns oficiais, diversos clipes no youtube e muitos seguidores pelas redes sociais. Em Meio a Guerra (2015) é o terceiro disco cheio dos caras e segue no mesmo ritmo dos clássicos Vale do Reginaldo (2012) e Me Deixe Sonhar Em Paz (2011). Raps pesados com muita visão crítica quanto aos problemas que nossas quebradas sofrem seja no Reginaldo, no Capão Redondo ou no Cidade de Plástico.

Alex e Kamikaze seguem na trilha, rimando com uma capacidade digna dos melhores repentistas da nossa terra, que transformam em versos não apenas os problemas sociais ou das relações humanas, mas também as características de sua terra natal, Maceió (música que abre o disco) ou mesmo da capital e do interior vizinho: Licença Aracaju. Essa característica foi uma das coisas que mais atraíram no som desses manos. Uma capacidade muito foda de transformar em música temas pouco prováveis e que não são batidos no meio do rap. É o caso de Vamo se Riscar, música que não está presente no novo álbum.

Aqui os temas são diversos. Além das cidades acima citadas temos também uma analise do fim de um relacionamento e o consequente fundo do poço: Vou Me Amar Primeiro. Outro procedimento poético que os diferencia nas construções poéticas é o exemplo dado pela pesadona Sai da Esquna, onde o rapper constrói a música sob duas perspectivas diferentes: a do maninhos que trabalham no corre nas biqueiras e a do mensageiro que analisa e avisa para que se busque outra vida. Em a Natureza Chora o tema do meio ambiente e a destruição da natureza é o assunto abordado – a extinção de animais. Colocando a selvageria no lugar certo, ou seja, no coração do homem que destrói o planeta em nome do lucro e não dos povos indígenas, povos originários e integrados a mãe Terra.

As batidas são sempre pesadas, boom boom clap até umas horas, casando perfeitamente com o flow dos Mc’s em músicas como em Tá Tudo Errado, uma analise sobre a conjuntura politica do país. Mas a versatilidade dá a voz na romântica Sem Você Aqui, dando espaço para a saudade do grande amor e mostrando que mesmo os brutos também amam e que os putões por vezes são fisgados e precisam se render a paixão.

O disco conta com participação de PH e do grupo CTS na gangueira e chapada (O Risco é Alto). Em seguida ele nos esfrega na cara o interlúdio, um áudio de uma criança que, entrevistada por um desses vermes dos programas sensacionalistas, aos poucos nos coloca a verdade da tragicidade da situação. O pai matou a mãe e ele (criança que teve também sua infância morta) comprou um revolver para assaltar. Culpa dos Facínoras que nos governam a séculos, esquartejando as possibilidades das crianças que depois se tornam um triste espetáculo ou defuntos.

Mas um excelente disco vindo diretamente do Reginaldo (a maior favela de Maceió) que precisa ser escutado por todo Brasil. Qualidade aos manos não falta, disso temos certeza. Rap old school da melhor safra. São 16 faixas ricas e longas. Alex e Kamikaze não entraram na tendência de músicas curtas, gostam de dichavar por vários minutos, numa avalanche de poesia.

Esperamos sinceramente que logo tenhamos a oportunidade de ver um show desses caras aqui em Salvador. Queremos muito ver como essas músicas funcionam em cima dos palcos. Mas enquanto essa oportunidade não se apresenta, vamos ouvir um pouco mais de NSC.

Você pode baixar o disco aqui.

Nota: 

Matérias Relacionadas

Rashid e os 10 anos de Hora de Acordar (2010), minhas memórias!

Danilo
4 anos ago

1050 Mobb, Os Diamantes Do 079 Cantam o Cotidiano no EP “DDE”

Danilo
4 meses ago

Túnel do Hip Hop 12a Edição.

Carlim
8 anos ago
Sair da versão mobile