Heavy Sounds é o resultado do encontro entre Elvin Jones e Richard Davis. Trata-se de uma das maiores gravações da história da IMPULSE!
Richard Davis e Elvin Jones foram dois dos maiores nomes da história do Jazz. Ambos tocaram ao lado de muitos expoentes do estilo, além de possuírem larga experiência também liderando seus próprios projetos.
Só para citar alguns exemplos, Elvin pode ser ouvido em discos do Miles Davis, Sonny Rollins, Phineas Newborn, John Coltrane, Freddie Hubbard, Joe Henderson, Grant Green, McCoy Tyner… A lista é infinita!
Já no caso de Richard Davis, sua condução com conhecimento erudito pode ser devidamente apreciada em projetos de nomes como Ahmad Jamal, Frank Sinatra, Cal Tjader e Gary Bartz, por exemplo.
Pensando nessa grande variedade de repertório de ambos – que vai do Bebop até o Free com grande naturalidade e fluência – um dos meus discos favoritos para enaltecer o trabalho da dupla é o ”Heavy Sounds”, um LP surpreendente, que entre diversos momentos marcantes, conta com conta com uma canja do Elvin Jones na guitarra!
Richard Davis & Elvin Jones – Heavy Sounds
Esse encontro – que aconteceu em 1967 – mostra como o Jazz não precisa de um motivo, tampouco de um modelo, ele só chega na sua casa, abre a geladeira, reclama que a cerveja acabou e manda você comprar mais.
Planejado inicialmente para ser um disco em trio, com o guitarrista Larry Coryell, o produtor da IMPULSE!, Bob Thiele, sugeriu que Elvin e Richard tocassem junto, não só para não perder a sessão agendada, mas também por que o Larry Coryell não apareceu para gravar. Foi assim que surgiu a versão de “Summertime”, uma das faixas mais longas do LP, junto com “Raunchy Rita”.
Mesmo com Elvin e Richard como figuras principais, não se pode ignorar a presença do saxofonista Frank Foster e do pianista Billy Greene. Frank, por sua vez, apresenta dois temas originais que são 2 dos pontos altos do disco. “Raunchy Rita” e “Shiny Stockings” mostram um pouco da magnífica dinâmica entre a distinta condução de Richard e o estilo vibrante de Elvin, categórico em cada levada. Billy Greene trouxe outro tema original, dessa vez com “M.E”, um dos momentos mais cremosos do disco e o momento mais próximo do Jazz tradicional que você encontrará por aqui.
Line Up:
Richard David (baixo)
Elvin Jones (bateria/guitarra)
Frank Foster (saxofone)
Billy Greene (piano)
Track List:
”Raunchy Rita” – Frank Foster
”Shiny Stockings” – Frank Foster
”M.E” – Billy Greene
”Summertime” – George Gershwin/Ira Gershwin/DuBose Heyward
”Elvin’s Guitar Blues”
”Here’s That Rainy Day” – Johnny Burke/Jimmy Van Heusen
Tocando soltos, como numa jam session, o quarteto cria oportunidades excepcionais para borrar a fronteira dos temas e flertar com riquíssimas passagens improvisadas, sempre com um dos 4 se apresentando, também como solista.
É claro que o grande lance é a química que rola no meio da fumaça que o Elvin e o Richard produziram – com um antológico retrato que virou a capa do LP – de autoria de Robert e Barbara Flynn – responsáveis por grandes capas da IMPULSE.
Ainda sobre a dinâmica da dupla, o tema “Summertime” é um grande exemplo disso, pois começa com Richard fazendo uma introdução – com arco – e depois a faixa se transforma num solo de bateria. É muito interessante como eles orbitam os temas e conseguem fugir deles, mantendo a unidade das propostas e a coesão das ideias musicais. Essa característica se deve muito em função da presença do Richard Davis.
Baixista de rara habilidade e repertório, Davis é responsável por algumas das gravações mais avançadas do Jazz. Com contribuições ao lado de nomes como Eric Dolphy e Archie Shepp, sua versatilidade é notória e ele se destacou também por sua perícia tocando com arco.
Todo mundo toca muito fácil. Logo na faixa de abertura, “Raunchy Rita” trata de emular uma melodia açucaradíssima. Pode botar fé que você vai assobiar essa frase de saxofone por muitos anos. A classe no caminhar do piano só deixa as coisas mais interessantes.
Deve ser duro chegar numa sessão de estúdio pra gravar um LP com o Elvin Jones e o Richard Davis, mas o Frank Foster não se intimidou. Logo na faixa seguinte, já aparece mais uma composição do cidadão, e dessa vez é a leveza dos tons de ”Shiny Stockings” e o baixo de Davis que roubam a cena junto de mais uma primorosa melodia, digna de ser cantarolada até a sua aposentadoria.
”M.E”, o tema mais curto do disco, aquece as turbinas para o grande pico dessa gravação, o estonteante estrago do cover de ”Summertime”.
Esse LP é contra indicado para ouvintes pouco experientes, mas é um prato cheio para quem aprecia experimentos audaciosos. Apesar do grande lance ser a interação entre o Sr. Jones e o senhor Davis, é válido pontuar a riqueza de repertório, climas e timbres desse trabalho. Rola até um take com o Elvin na guitarra Blues, durante o lamento de ”Elvin’s Guitar Blues”.
Swingado, pesado, leve como um pluma, com vassourinha ou arco, ”Heavy Sounds” é um disco raro, um trabalho que só poderia ter sido cunhado pelos melhores. Cuidado para não chorar ao som de ”Here`s That Rainy Day”… Essa prensagem pesa mais que o maço de Marlboro vermelho que a dupla fumou na hora de registrar a foto que se transformou na capa deste clássico.