Drink94 Conversa com o Oganpazan – Papo de caminhada e futuro, uma entrevista que nos da a conhecer essa boa revelação do forte rap cearense
Por Mariane Silva
Fotos: Mariane Silva
O bairro do João XXIII tem nome de Papa católico. Localizado na parte norte da capital cearense, antes de se tornar bairro, o João XXIII era um aglomerado de loteamentos. A partir dos anos 1960 várias famílias fixaram residência naquele local, algumas fugindo da seca no interior do estado, outras procurando um lugar melhor para criar os filhos. É desse lugar que vem um dos nomes mais promissores da cena rap de Fortaleza: Drink 94.
Nascido Weslley Jhow, Drink 94 iniciou no rap em 2014, quando passou a pegar beat na internet para fazer as suas rimas. Na época, não existiam tantos beatmakers quanto existem hoje, então ele pegava os beat na “pirataria”. Drink 94 confessa que naquela época não sabia fazer rap, mas ali foi o começo de tudo: “Não era essas coisas boas não, porque você não tem tanta maturidade, é meio afoito, só quer lançar logo”.
O primeiro nome artístico foi Mr. Drink rap. Drink, que significa bebida, veio da época em que as suas músicas eram voltadas para as festas. “Quando eu fazia música de balada era meio vazio, concordo, mas fui mudando”, afirma. Apesar da nova fase, não teve como mudar um nome que já estava estabelecido na cena. Mas acabou trocando uma parte do nome quando o amigo e também rapper Farell (C2A Records) disse que Mr Drink rap parecia se referir a um coletivo. Então passou a se chamar Drink 94. O 94 veio pelo fato de ser o ano de nascimento do rapper.
EP’s lançados e música No Corre
Seu primeiro EP foi lançado no ano de 2016 e se chama “Nova Fase”. O EP possui 8 faixas e mostra o artista, na época Mr. Drink Rap, mais maduro, se comparado com os singles que tinha lançado até então. “O Nova Fase que está no meu SoundCloud tem mais mensagem, tem mais bagagem”, completa.
No ano seguinte, veio o EP Tudo Passa (2017), que marca mais uma vez o crescimento do rapper cearense. O single escolhido como música de trabalho, “No Corre”, tem a participação do rapper cearense Vi21 e ganhou um clipe dirigido por Jefferson W. Uma parte da música fala sobre um episódio que aconteceu no bairro. “Houve um assalto em um mercadinho e um rapaz morreu. Ele tentou assaltar, depois saiu correndo e o segurança o matou”, descreve. Dentro dessa realidade, segundo pesquisa para o Anuário do Ceará, em uma taxa de 0 – 1, o João XXIII tem o IDH de 0.28.
https://www.youtube.com/watch?v=dKfP5JS43QI
A desigualdade também é assunto nas músicas de Drink 94. No trecho do mesmo som, ele cita a desvalorização dos talentos que existem dentro da comunidade. “Quando falo ‘Eu desvalorizado e os valores por todo o lado’, tipo tem valor em uma criança que joga bola, tem o cara que toca guitarra legal, Lêza Mc, que canta reggae e rap e são desconhecidos”, ressalta.
Empreendedorismo e novos trabalhos
No dia da entrevista, Drink confessou que antes de ir conversar comigo estava assistindo a um vídeo do canal Novo Artista, que ensinava a fechar a agenda de shows. Para que a sua música entre no máximo de lugares possíveis, ele possui três tipos de formatos de shows: Rap acústico, rap e o que ele chama de “rap pesadão”, que contém músicas no ritmo de funk e trap. Porém, ele tem que lidar com alguns produtores da cidade que ainda enxergam o rap local como amador. “Quando eu toco no assunto cachê, eles trocam de assunto ou não falam mais. Eu tenho que viver. Eu tenho um filho de seis meses. Eu não levo mais isso aqui como hobby”, protesta.
Para o futuro, Drink 94 irá lançar três músicas, dentre elas está o trap funk “Corpo Perfeito”. Por mais que tenha deixado um pouco de lado das músicas de festa, Drink 94 diz não querer se encaixar em apenas um rótulo. “É bom você fazer música pra pista também. Só não pode perder a sua essência. Se empenhar para agregar na vida de alguém”, conclui.
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https://www.youtube.com/watch?v=A2jrh9MMvfE&list=PL7FbDlJbT7D62IyzSZNgo99XRwaJQPRoJ&index=1