Dory de Oliveira lançou um disco muito pesado, onde a partir do seu lugar de fala ela coloca toda a força de sua poesia a favor das minorias
Por Mylena Bressy
Num trecho retirado de um filme podemos resumir o hip hop, uma cultura construída em cima da vivência urbana como forma de reivindicação, um sinônimo de luta:
“Hip hop é sobre encontrar uma nova voz. Mas o que o hip hop é pode ser resumido em três palavras: eu estou aqui.” Save the Last Dance 2
Porém, se antes o espaço era predominantemente utilizado para lutar contra a marginalização socioeconômica e racial, ele tem sido conquistado para a voz e vez de outras militâncias, como contra a gordofobia, o machismo, a homofobia, entre outros. Como recentemente muito bem exposto por A.Thiago no texto “Hip Hop Mi-Mi-Mi… O Rap Tá Ficando Chato?”, temos observado mudanças dentro do rap nos últimos anos, mudanças essas em prol de outras minorias.
Um dos grandes nomes dessa resistência na “nova geração” do rap é Dory de Oliveira. Inclusa em quase todas as minorias existentes, sendo mulher, preta e periférica, além de não estar situada nos padrões estéticos estabelecidos, Dory de Oliveira é lésbica e levanta a bandeira contra a LGBTfobia e machismo, quebrando diversos preconceitos e grilhões.
Natural de Itaquera-SP, Dory está inserida no mundo hip hop há 13 anos e se apaixonou pelo ritmo e pela poesia ao ver um show de Xis em sua comunidade, quando tinha apenas 14 anos de idade. Atualmente faz parte de um grupo de rap chamado “LES Queens”, formado apenas por mulheres lésbicas.
No dia 12 de junho deste ano lançou o primeiro clipe homoafetivo dentro do rap no Brasil, com a música “É O Que Tem Pra Hoje”, cuspindo sua realidade e mais uma vez fazendo o papel de linha de frente nessa peleja, quebrando padrões, como a militante ferrenha que é.
No dia 31 de agosto, data de seu aniversário, Dory lançou seu primeiro disco “Se Perguntarem, Diga Que Eu Me Chamo Dory de Oliveira”, disponibilizando seu som, bem original e repleto de letras revolucionárias para a sociedade, relatando histórias pessoais vividas e agindo contra qualquer forma de opressão. Com ideias, conversas e sons sampleados de parceiros do rap, o CD também traz o depoimento de Dona Natália, sua mãe.
“Quer rima? Então toma igual metralhadora!” Rimadora é a primeira faixa do disco, que conta a história de uma mulher que nunca quis fazer outra coisa, senão o rap. “Engula seu machismo!”
“Coragem e ousadia” tem que ter! A música relata Dory, que só por ser mulher, preta, periférica, rapper e lésbica, teve que ser cinco vezes melhor, sempre. “Submissa? Nunca foi minha cara! Devota de Joana D’Arc, é destinada e não para“.
“Mais preparada do que nunca. Mais forte do que nunca. Mais louca do que nunca. Objetiva como nunca!“. Ritmo e poesia sem demagogia, inspirada, escrevendo enquanto muita gente dormia. Essa é a faixa “2.5“, de uma rapper por vocação.
“Avisa lá“! Som de quem “é tipo uma guerreira”, marchando sempre de pé pela sua missão, igualdade e rap para todos e todas!
“Se a gente é o que a gente escuta, então, veja bem, RapSomPrasLoka das caixa aos fone, tem! Rima na esquerda, embaixo, direita, em cima… 2.5 puro gás, presença feminina.” Com uma lirica muito violenta, a rapper segue na sua missão que é buscar a igualdade. Conscientizando também as mina contra a violência machista, denunciar o canalha que bate em mulher.
“Se não gosta, não escuta!”
“E Lá Vamos Noiz!” remix de “um som do bom” com clipe lançado em 2013. Esse clipe aqui é da época e vale muito a pena sacar:
Reflexões internas, mundo violento… Obrigando quem vive nesse meio a ser forte. “Me faça forte, Por 1 seg…” A música explana abusos de um padastro.
“Há muito tempo fiz um pacto comigo… Dignidade e honra, derrotar os inimigo“
Não é disputa, fí, é merecimento… Delete nos machistas! “Só não vem tumultar, colar pra tirar, encostar pra arrastar, diminuir a nossa luta. Respeito é a primeira regra. Coragem, vai! Aqui não vai ter trégua. Chega de queda, é o fim da zorra. Eu não vim pra organizar, vim pra quebrar a porra toda!“
Apesar dos venenos, manter os “Olhos Vivos“. A faixa que diz como lidar com as pilantragens pra encontrar o seu melhor e agir.
“É do cabelo Pixaim, é do cabelo, nega. É do cabelo, nego!” A música valoriza a luta e a cultura do povo periférico e negro. “Preta show, preto louco esbanja”.
A décima primeira música se intitula “Rainha do Sol“, onde Dory narra a mulher que pôs rimas na mochila e foi recitar sentimentos pra estancar hemorragia, com muito axé!
“É O Que Tem Pra Hoje” é um Love song, como dito anteriormente, que protagonizou o primeiro clipe lésbico de rap no país.
Mestre de cerimônia é mais ou menos assim: a rima aqui não tem fim! “MC” expõe como se interessou pela rima e como faz disso um novo começo na sua vida.
Após essas faixas tem um remix da música RapSomPrasLoka e um áudio com vários depoimentos de diferentes pessoas sobre e para a rapper. E assim “Se Perguntarem, Diga que eu me chamo Dory de Oliveira” é finalizado.
Dory tem um papel importantíssimo dentro do rap, ao lutar pela igualdade de direitos que lhe compete, mas não lhe é dada, como em muitos outros casos no mundo, ela é chamada de “ousada”. Ao produzir música, Dory de Oliveira se torna a nova voz de um novo rap, é o presente e o futuro, é a “ousadia” em carne e osso que representa diversas vozes que gritam através da sua “estamos aqui”. É o hip hop que queremos, o rap-revolução!
Ouça o disco na íntegra aqui: