Em seu mais recente álbum Um Chopp e um Sundae (2015), Rafael Castro resolveu enfrentar a fúria de eventuais fãs ortodoxos. Não que a sonoridade do novo trabalho chegue a ser algo muito surpreendente, uma vez que o músico paulista sempre se mostrou um artista inquieto e amplamente aberto a experimentações e misturas pouco convencionais. De qualquer maneira, a sua curta mas produtiva carreira esteve atrelada (com raras exceções) ao universo do rock, onde muitos parecem ter uma predisposição em rejeitar o Pop eletrônico que impera no último registro do artista.
Rafael Castro tem uma discografia incrivelmente numerosa, dado o seu pouco tempo de estrada. De 2006 para cá foram nada menos que sete álbuns lançados, todos concebidos de forma independente na casa do músico, tendo o próprio Castro tocando todos os instrumentos. Aqueles que acompanham essa produção há algum tempo sabem que tal mudança de direção não é algo inédito. O disco Raiz lançado em 2009 já destoava dos antecessores trazendo uma inesperada e bem sucedida incursão do artista na música sertaneja de raiz.
Um Chopp e um Sundae preserva uma das maiores características da carreira do músico: as letras altamente irreverentes e sarcásticas. Nos álbuns anteriores essa veia mais despojada parecia achar a sua forma de expressão ideal na sonoridade do rock, o que de algum modo aproximava o seu trabalho de bandas como Camisa de Vênus, Ultraje a Rigor e Raimundos. Aqui, porém, Rafael Castro se apropria da leveza dançante do Pop oitentista para passear por temas que já lhe eram familiares, entregando um disco divertido e repleto de deliciosas ambigüidades. Explico.
Ao combinar elementos sonoros do Pop que exprimem uma certa inocência, com versos nada inocentes como “e cada remelexo de quadril é uma luta, eu me concentro: “Não goza ainda, não!” da faixa Gostosa (entre muitos outros exemplos que poderíamos citar), Castro consegue transmitir em meio a esse clima festivo uma sutil sensação de desconforto que enriquece e muito o disco. Esse, portanto, é um ponto do qual os fãs chatos não poderão reclamar, pois o espírito provocativo do músico não apenas se mantêm, como é amplificado por conta desse contraste.
À primeira vista a mistura proposta pode parecer tão indigesta quanto sugere o título do álbum, contudo o sabor agridoce resultante trás um tempero novo e um tanto extravagante, muito bem vindo para a atual cena brasileira, tão acostumada a sabores monótonos. Desta maneira Rafael Castro se firma como um dos artistas mais interessantes e inventivos do nosso cenário musical, capaz de transitar sem grilos pelas mais variadas influências. Se o resultado desta liberdade incomoda os ouvidos de alguns não há muita coisa que possa ser feita, a não ser lamentar.
Um Chopp e um Sundae e todos os outros discos do músico estão disponíveis para download em seu site oficial, portanto aproveitem!
Rafael Castro
Álbum: Um Chopp e um Sundae
Ano: 2015